Índice
O Rio Itanhaém é o maior, mais volumoso rio da Baixada Santista é dá seu nome à minha cidade, Itanhaém. É um rio largo, de maré, não muito comprido, que banha os manguezais e sobe até se encontrar com seus formadores principais, Rio Branco, Rio Aguapeú e Rio Preto. O rio da nossa cidade antes tinha 11 km de comprimento, hoje tem só 6. Isso acontece, às vezes, quando o ser humano resolve ser inteligente.
Eu fui criada na beira desse rio. Naquele tempo o rio era limpo, hoje nem tanto, mas suas águas, sempre correntosas, continuam entrando pelo Atlântico à dentro e levando sua cor marrom por vários quilômetros. O mangue de Itanhaém e, portanto, o rio também, são ricos em peixes saborosos e lugar conhecido pelos robalos grandes que podem ser tirados de suas águas, com alguma manha e muita boa sorte. Mas, vou contar aqui porque nosso rio ficou assim tão mais curto. Essa história todo itanhaense conhece mas me foi recordada pelo meu amigo Nicco Faria, que lá trabalha, nas margens do rio, com suas produções de plantas de mata atlântica, e que também tira lindas fotos.
Aspecto do manguezal no Rio Itanhaém
Lá pelos idos de 1920 Itanhaém produzia muita banana nas fazendas do pé da serra. Principalmente tinha bananal portentoso lá prás bandas do Rio Preto e Tambotica, mas também tinha lá mais perto do Rio Branco. A banana colhida descia o rio em chatas grandonas e lerdas que iam fazendo as curvas e entre-curvas lá no passinho delas, de chatas que não têm pressa nenhuma pois sabem que vão chegar no lugar certo de chegar. Na época a Ilha do Bairro ainda não era ilha pois ficava unida à terra do lado do Rio Preto e a volta, pelo conhecido Nêgo Morto, braço de rio enroscado que passava beirando o sitio do meu avô, distava 5 km.
Vista do Rio Itanhaém ao amanhecer, as serras ao fundo
Os navegantes, empurradores de chatas, acharam que daria certo abrir uma vala de poucos metros, só para a passagem das chatas. Na primeira água grande a vala cresceu que nem rio. O rio mudou de lugar e escolheu o canal mais curto. O braço do Nêgo Morto acabou morrendo com o tempo, foi assoreando na ponta de cima, depois na debaixo, ficou um valão. E a Ilha do Bairro virou ilha mesmo, como é até hoje, tendo perdido um bom pedaço das suas terras naquela cheia memorável. Hoje lá só se chega de barco porque a correnteza erode as margens aumentando sempre a distância. Já não há chatas no nosso rio, ainda há bananas mas a produção nem é tanta e escoa de caminhão.
Mas, verdade seja dita, o mesmo aconteceu lá no Ribeira de Iguape, outro rio portentoso do nosso litoral, mais ao sul. E a cidade de Iguape ficou ilhada como é até hoje. Mas essa história não foi por causa de bananas e sim para o escoamento da produção de arroz, de que Iguape foi campeão no começo do século XX. Mas essa é outra história, outro município, fica para outro dia.
Talvez te interesse ler também:
CANOA CAIÇARA: ARTE ANTIGA, HERANÇA INDÍGENA QUE POVOA NOSSO LITORAL
NA NOVA ZELÂNDIA CAVERNAS ILUMINADAS COMO UM CÉU ESTRELADO
CONHEÇA OS LENÇÓIS MARANHENSES: UM PARAÍSO DE DUNAS E LAGOAS
fotos de Nicco L. Farias
Categorias: Viajar
Publicado em 19/07/2022 às 6:52 pm [+]
Olá!
No texto “Desastres que acontecem quando se precisa encurtar caminho”, a autora conta que nasceu em um sítio às margens do Rio Itanhaém. Será que, por acaso, ela ouviu falar do antigo Sítio Saguava? A família da minha avó materna, os Gonzaga, viveram neste local no século 19 e início do século 20.
Grande abraço,
Helena