Voltaremos a nos abraçar? Por quanto tempo se sobrevive sem abraço?


Alguns consideram que a palavra mais bonita da língua portuguesa é saudade. A palavra é bonita e faz com quem a sintamos em todos os poros do nosso corpo porque ela dói. E, para abrandar essa dor, quando podemos, buscamos um abraço daquele ou daquela de quem sentimos saudade.

Com a Covid-19, estamos há um ano privados desse gesto vital de afeto. Quando, afinal, poderemos dar e receber um abraço, se o coronavírus nos coloca distantes uns dos outros para mantermo-nos vivos e aqueles quem amamos?

Risco de vida

Permanecer em contato tornou-se um risco para a vida. Ao mesmo tempo, ficarmos sem um abraço, um afago, um chamego também é um risco de vida. Como resolver essa equação, que parece só subtrair vida de nós?

O isolamento social parece que não terá fim. É como se estivéssemos vivendo no filme “A hora do pesadelo”, já que não conseguimos sair desse sonho tenebroso para o qual a pandemia nos sugou.

Estamos sem o toque do outro, sem o olhar de estranhos na rua. Trocas fundamentais para aquilo que nos constitui uma humanidade.

Como iremos nos comportar quando nos libertarmos das correntes desse pesadelo após tanto tempo de separação das pessoas? Será que iremos nos comportar como antes, ou ficaremos cautelosos, tímidos?

Há quem diga que vai se aglomerar, sair abraçando e beijando até gente estranha como um alívio para um merecido descanso após uma temporada tão exaustiva.

Aprendemos a ficar isolados

O jornal alemão DW conversou com o professor da University of British Columbia em Vancouver (Canadá), Steven Taylor, que é autor do livro “Psychology of Pandemics: Preparing for the Next Global Outbreak of Infectious Disease” (“Psicologia da pandemia: preparando-se para o próximo surto global de doenças infecciosas”, em tradução livre), para entender como essa questão pode nos afetar. Taylor disse ao DW que:

“Muitas pessoas acham difícil imaginar tal retorno à normalidade, que se deve a um viés cognitivo”.

Esse viés, conhecido em psicologia como ancoragem, diz respeito a nos agarrarmos àquilo que já conhecemos, isto é, a passarmos a avaliar as informações novas com base em um conhecimento prévio. Ele continua a explicação:

“Hoje, em 2021, temos dificuldade em imaginar um futuro em que apertamos as mãos, nos abraçamos e assistimos a shows porque estamos psicologicamente ancorados em um presente em que tais coisas são proibidas e incertas”.

Claro que esse resquício psicológico varia para cada cultura. Aqui no Brasil, por exemplo, muitas pessoas seguem se aglomerando em festas clandestinas, dançando e bebendo juntas.

Desenvolvimento cognitivo e sociabilidade: abraçar é fundamental

Entretanto, para a maioria das pessoas, parece que haverá uma espécie de sociabilidade intensa após a pandemia. É no que acredita o chefe do Laboratório de Haptics do Instituto Paul Flechsig de Pesquisa do Cérebro no Universidade de Leipzig (Alemanha), Martin Grunwald:

“A maioria das pessoas vai apertar as mãos, se abraçar novamente, ir a bares e restaurantes lotados e participar de eventos lotados em estádios, como partidas de futebol”.

Esse comportamento se deve ao fato de o toque ser fundamental para a espécie humana. O nosso desenvolvimento depende do contato físico, da troca de olhares e da proximidade com as outras pessoas.  Cientificamente, Grunwald assim explica a necessidade das trocas de experiências entre seres humanos:

“A interação do corpo com o outro está, por assim dizer, em nosso DNA biológico ou social. É moldada por nossas experiências como crianças, como bebês. Encontraremos nosso caminho de volta a essas formas básicas de comunicação”.

Em algumas culturas, talvez, haja um deslocamento inicial para dar o primeiro passo em direção a um abraço. Mas é certo de que esse gesto é fundamental para a nossa saúde!

Abraço é vida, um verdadeiro elixir, um tônico de felicidade!

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Gisella Meneguelli

É doutora em Estudos de Linguagem, já foi professora de português e espanhol, adora ler e escrever, interessa-se pela temática ambiental e, por isso, escreve para o greenMe desde 2015.


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