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A depressão é uma doença que está mais presente do que podemos imaginar. E o pior é que muitas vezes ela é subestimada.
Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) afirmam que cerca de 300 milhões de pessoas sofrem de depressão, sendo a maior causa de problemas de saúde no mundo. Por ano, ela provoca 800 mil suicídios, a maior parte deles, em países em desenvolvimento.
Um desses países é o Zimbábue, na África, onde se costuma dizer que existem quatro gerações de traumas psicológicos: a Guerra Civil da Rodésia, o massacre de Matabeleland, entre outras atrocidades, segundo o psiquiatra zimbabuano Dixon Chibanda, diretor da Iniciativa Africana de Pesquisa sobre Saúde Mental e professor de psiquiatria da Universidade do Zimbábue e da London School of Hygiene and Tropical Medicine.
Chibanda diz que não se sabe ao certo quantos habitantes do Zimbábue sofrem de “kufungisisa”, palavra em shona, língua local, para depressão (que significa, literalmente, “pensar demais”). Ele é um dos poucos 12 psiquiatras que trabalham no país, para uma população de 16 milhões de pessoas.
Na África subsaariana, faltam psiquiatras e psicólogos. A proporção desses profissionais por habitante é um para cada 1,5 milhão, segundo reportagem da BBC. Por isso, a solução colocada em prática por Chibanda e sua equipe, desde 2006, é contar com a ajuda de avós: eles ensinaram a mais de 400 vovós técnicas de terapia com evidências científicas que podem ser praticadas por elas gratuitamente em mais de 70 comunidades no Zimbábue.
O programa, chamado Banco da Amizade, apenas em 2017 ajudou mais de 300 mil pessoas, o que fez o método ser expandido para outros países. Ele está sendo usado como modelo por outras comunidades como serviço de saúde mental acessível e eficaz. “Imagine se pudéssemos criar uma rede global de avós em toda grande cidade do mundo”, avalia Chibanda.
O psiquiatra percebeu o tamanho do problema no Zimbábue com a Operação Murambatsvina (“limpe a sujeira”), uma campanha do governo, feita em 2005, de limpeza forçada em favelas que deixou mais de 700 mil pessoas sem lar. Em visitas às comunidades após a campanha, ele se deparou com taxas alarmantes de estresse pós-traumático e outros problemas de saúde mental.
Fazendo uso dos recursos que tinha à sua disposição, as avós voluntárias das comunidades, achou inicialmente que o Banco da Amizade não iria funcionar. “Eu estava cético quanto a usar mulheres idosas. Muitas pessoas acharam a ideia ridícula. Meus colegas me disseram que não fazia sentido”, conta Chibanda.
O método desenvolvido pelo psiquiatra foi tentar usar as palavras ocidentais para o problema, como “depressão” e “ideação suicida”. Mas as avós lhe disseram que essa terminologia seria ineficaz. Era preciso atingir as pessoas com os dados culturais que elas tivessem, com os quais elas se identificassem. Ou seja, era preciso falar a língua dos pacientes.
“O treinamento em si tem base em terapia fundamentada mas também em conceitos indígenas. Eu acho que essa é uma das razões do sucesso, porque realmente conseguiu montar esse quebra-cabeça usando conhecimento e sabedoria.”, explica Chibanda.
Em 2009, começaram a aparecer os índices da iniciativa, com a queda das taxas de suicídio. Mas foi só em 2016 que Chibanda, que teve a colaboração de colegas do Zimbábue e do Reino Unido, publicou os resultados de um teste sobre a eficiência do programa em uma revista científica.
“Nós ficamos maravilhados com os resultados, que apontaram que a intervenção tem um grande efeito sobre a vida diária das pessoas e habilidade para funcionar. É sobre dar às pessoas as ferramentas que precisam para resolver seus próprios problemas”, diz Victoria Simms, epidemiologista da London School of Hygiene and Tropical Medicine e coautora do estudo.
Em Nova York (EUA), onde o programa foi replicado, os resultados têm sido igualmente satisfatórios. “Quando eu visitei Nova York, eu fiquei surpreendido ao descobrir que os problemas que os nova-iorquinos passam são muito parecidos com os daqui de Zimbábue“, avalia Chibanda.
Isso porque os problemas que afligem a nós, humanos, são bem parecidos: solidão, problemas sociais como acesso à saúde, endividamento, etc.
Uma das avós participantes do programa no Zimbábue, a Vó Chinhoyi, decidiu entrar no programa porque queria ajudar a sua comunidade: “Era demais, as pessoas depressivas. Havia tantas e eu queria diminuir o número. Eu sempre fui assim, de querer ajudar os outros. Eu valorizo tanto os seres humanos“.
Se todos pensassem e agissem assim, muito sofrimento poderia ser evitado. A atenção ao próximo, o olhar para o outro, a manifestação do amor são remédios para o corpo e para a alma.
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Categorias: Segredos para ser feliz, Viver
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