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“Quem sou eu, de onde eu vim, para aonde eu vou?”… Perguntas que todos se fazem em vários momentos da vida. Agora a pergunta é: “quem é você na fila do pão”? Uma pergunta que já contém a resposta em si: você é alguém na fila do pão! Em outras palavras: qual é o seu grau de importância em uma situação na qual você tem importância nenhuma, pois está no mesmo lugar em que todos estão? Comprando pão!?
Interessante essa metáfora pois a busca pela própria identidade, em muitas pessoas, pode ser uma desafio angustiante, a ponto de causar distúrbios de personalidade e até doenças mentais. É sério!
A busca pela identidade é uma jornada que todos nós empreendemos ao longo da vida. Desde tenra idade, somos confrontados com questões sobre quem somos, qual é o nosso propósito e como nos encaixamos no mundo ao nosso redor. No entanto, o que deveria ser uma jornada de autodescoberta muitas vezes se transforma em uma fonte de angústia e ansiedade para muitos indivíduos.
Por que a busca pela identidade se tornou uma obrigação que gera angústia, e como isso impacta o ser humano?
Todos nós já nascemos bombardeados pelas expectativas da sociedade, da família e dos amigos sobre quem devemos ser e o que devemos alcançar na vida.
À qual criança nunca foi perguntado: “o que você vai ser quando crescer?” Oras! A criança já é alguém, mas a pergunta a coloca em uma posição onde só poderá se realizar quando crescer e tiver uma profissão, um título para chamar de seu e poder dizer: eu sou…
Essas pressões externas podem nos levar a internalizar ideais de sucesso, felicidade e realização, que nem sempre refletem nossos verdadeiros desejos e valores. Como resultado, podemos nos sentir perdidos e confusos sobre nossa verdadeira identidade.
Sempre foi assim, mas tudo piorou com o advento das redes sociais. A pressão para construir e projetar uma identidade online idealizada, tornou-se ainda mais intensa. As plataformas de mídia social incentivam a comparação constante e a busca por validação externa, levando muitos a adotar personas falsas ou distorcidas para se encaixar em padrões irreais de sucesso e felicidade. Isso pode criar uma desconexão entre quem realmente somos e quem fingimos ser online, aumentando ainda mais a sensação de alienação e desorientação.
Existe um vácuo, uma falta, um degrau entre aquilo que aparentamos ser, com aquilo que gostaríamos de ser e o que somos “de verdade”. E o que somos de verdade? Alguém na fila do pão, quer queiramos ou não!
Na sociedade líquida, as rápidas mudanças sociais, culturais e tecnológicas podem exacerbar a crise de identidade. À medida que os papéis tradicionais de gênero, as normas sociais e as expectativas de carreira continuam mudando, muitos indivíduos se sentem sobrecarregados pela incerteza e pela falta de clareza sobre seu lugar no mundo. Isso pode levar a uma sensação de desorientação e desespero sobre quem somos e para onde estamos indo em nossas vidas, sobretudo porque nos sentimos pressionados a nos expressar de alguma forma, principalmente de um jeito “prafrentex”, para usar uma gíria antiga, hoje dita cringe.
A busca incessante pela identidade pode ter sérias ramificações para a saúde mental. A angústia constante de não saber quem somos ou para onde estamos indo pode levar à ansiedade, depressão e outros distúrbios psicológicos. Quando nos sentimos desconectados de nossa essência humana, perdemos o senso de significado e propósito em nossas vidas, o que pode levar a uma sensação de vazio e desesperança.
Mas qual é nossa “verdadeira essência”? Quem é o nosso “verdadeiro eu”?
Nada mais brega do que essas receitas de bolo para encontrar o verdadeiro eu, como se no recheio do bolo tivesse uma surpresa encantadora que nos fizéssemos mudar de vida, uma vez descoberta a pessoa maravilhosa que somos.
É importante saber enxergar que somos pessoas humanas, cheias de dúvidas, angústias, imperfeições. Quem disse o contrário, mentiu! Ao mesmo tempo, temos a nossa singularidade. Ninguém é igual a ninguém, veja bem, até os gêmeos idênticos têm impressões digitais diferentes.
Então, em vez de buscar uma identidade idealizada ou seguir os padrões impostos pela sociedade, devemos nos esforçar para viver autenticamente, honrando nossos verdadeiros valores, interesses e paixões.
Ao fazer isso, podemos encontrar uma sensação de paz interior e integridade que não depende da validação externa.
Mas será que é tão difícil encontrar “isso” de que tanto gostamos? “Isso” que nos faz ir além, sem olhar a quem? Bom, existem algumas dicas: as brincadeiras de criança, os sonhos esquecidos, aqueles momentos em que a hora passa e a gente não vê…
A busca pela identidade é uma jornada complexa e muitas vezes tumultuada se colocamos uma necessidade nela. Muitas pessoas podem se perder e enlouquecer nesse caminho. No entanto, ao reconhecer as fontes de pressão e angústia que cercam essa busca, podemos começar a nos libertar das expectativas externas e sermos o que quisermos ser, pois as possibilidades são muitas e é justamente na falta que elas aparecem.
Ao aceitar e abraçar as possibilidades, com mais curiosidade que angústia, podemos encontrar um sentido na vida, que não é muito diferente do sentido da vida da pessoa que está à frente, ou atrás de você, na fila do pão. Somos todos humanos.
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Categorias: Segredos para ser feliz
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