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Alfarrobeira: o fruto dessa árvore é usado em alimentos para dietas restritivas.
A necessidade de matéria-prima de fábricas paranaenses motivou pesquisa que introduziu a espécie legalmente no Brasil e agora desenvolve cadeia produtiva para a planta.
O estudo permitiu a produção das primeiras mudas de alfarrobeira do país.
As mudas estão sendo criadas a partir de técnica que gera indivíduos iguais à planta-mãe, para garantir qualidade no plantio.
O objetivo da pesquisa é propor protocolo para os produtos de alfarroba, entre eles a farinha.
O Brasil é o país com a maior diversidade de árvores do planeta, em seu território estão 8.715 espécies de árvores, o que corresponde a 14% das existentes no mundo.
Até pouco tempo, essa porcentagem não incluía uma espécie de cerca de 10 metros de altura, tronco castanho e irregular, de casca lisa e com algumas saliências, a alfarrobeira (Ceratonia siliqua).
Isso porque pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Agronomia e do Grupo de Estudo e Pesquisa em Estaquia (Gepe) da Universidade Federal do Paraná (UFPR) conseguiram introduzir a espécie, de forma pioneira, no Brasil.
Ao saberem que empresas locais importam dezenas de toneladas de farinha de alfarroba anualmente, a professora Katia Christina Zuffellato Ribas e seu orientando de doutorado, Leandro Porto Latoh, resolveram importar sementes de alfarrobeira, com fins de pesquisa acadêmica, para a produção de mudas dessa espécie no Brasil.
A tese de doutorado que Latoh está desenvolvendo viabilizou o processo, desde os trâmites legais até os experimentos práticos.
De folhas perenes, a árvore costuma florir uma vez ao ano, entre agosto e outubro, e seus frutos, um tipo de vagem que mede entre 10 e 25 centímetros, são a fonte de um alimento rico em fibras, já conhecido por substituir o chocolate em dietas de baixas calorias e para indivíduos com sensibilidade ou alergia alimentar.
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A alfarroba, fruto dessa planta típica da região do Mediterrâneo (bastante disseminada pela África e pela Europa), pode chegar ao cotidiano dos brasileiros de forma mais ágil e barata dentro de pouco tempo e facilitar a vida de indivíduos com intolerâncias alimentares, alguns dos principais consumidores do produto.
As mudas estão sendo cultivadas em uma área ao ar livre do Laboratório de Macropropagação Vegetal (LMV) do Departamento de Botânica da UFPR, em Curitiba (PR).
Já foram produzidas pouco mais de 1,6 mil mudas, a maior parte delas usadas em análises bioquímicas.
Aproximadamente 400 mudas são cultivadas a cada três meses ao longo dos experimentos.
Até chegar a essa etapa, porém, foi preciso submeter a proposta aos órgãos públicos responsáveis por avaliar a introdução da espécie exótica no país.
O processo é complexo, tendo em vista que é preciso precaução para evitar a contaminação e a introdução de novas pragas e patógenos em território nacional.
A introdução da alfarrobeira no Brasil, em termos de pesquisa, levou em torno de dois anos.
Em 2019, os pesquisadores conseguiram as permissões do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e da Vigilância Agropecuária Internacional (Vigiagro) para a importação das sementes, que vieram de Portugal, um dos maiores produtores de alfarroba.
As sementes chegaram ao Brasil em 2020 e, após passarem por uma quarentena no Instituto Agronômico de Campinas (IAC), foram liberadas para o início dos experimentos de germinação.
Agora, a propagação vegetativa da espécie (técnica que consiste em multiplicar assexuadamente partes do vegetal, originando indivíduos geralmente idênticos à planta mãe) está sendo estudada para que sejam fornecidas mudas de qualidade para futuros plantios.
Fazem parte desse conjunto, os estudos sobre propagação vegetativa das alfarrobeiras via miniestaquia caulinar com uso de reguladores vegetais do grupo das auxinas.
Essa é uma classe de hormônios vegetais que atuam diretamente no crescimento das plantas.
Também há pesquisas voltadas à germinação de sementes e estudos bioquímicos, que ajudam na compreensão da fisiologia (funcionamento do organismo) da espécie.
O maior objetivo é a criação de um protocolo padrão para o desenvolvimento de materiais selecionados, para que futuros produtores possam usufruir dessa cultura, produzindo, a longo prazo, farinha de alfarroba nacional a um menor custo.
O processo é semelhante ao que ocorreu com outras espécies exóticas, a exemplo do
Em relação à alfarrobeira, a ideia é comercializar a iniciativa, considerada inovadora dentro da cadeia agrícola.
Latoh, que considera a redução dos preços para a produção e o menor custo final para o consumidor, conta:
“As maiores vantagens são a redução de custos operacionais da matéria-prima alimentícia e a abertura de espaço de consumo para todas as classes que optem por alimentos funcionais ou que necessitem deles para uma boa nutrição.
O Brasil é um país único em termos de variantes ambientais, tipos de produção e perfil de produtores. Podemos impactar de forma positiva cooperativas, agricultura familiar, agricultura em larga escala e indústrias, buscando a geração de empregos e de renda. Mas, acima de tudo, podemos impactar a alimentação funcional para uma significativa porcentagem da população”.
Cristiane Vieira Helm, pesquisadora da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que, junto com Latoh, testou a farinha de alfarroba na elaboração de biscoitos, afirma:
“A farinha de alfarroba é um ingrediente que favorece e marca o sabor de chocolate, conferindo aos produtos uma coloração caramelo e uma elevada concentração de compostos fenólicos, substâncias que apresentam ação antioxidante.
Não apresenta teobromina, nem cafeína na composição química, diferindo do cacau”.
Segundo ela, a concentração de açúcar na farinha de alfarroba é baixa, tornando-a apta para o consumo por indivíduos diabéticos.
Há alguns anos, ainda antes da introdução da espécie no Brasil, a professora Claudia Carneiro Hecke Kruger, do Programa de Pós-graduação em Alimentação e Nutrição da UFPR, realizou estudos de abordagem nutricional envolvendo a farinha da alfarroba.
Foi desenvolvida uma pesquisa pensando na incorporação da alfarroba em formulações fermentadas, para permitir o consumo por intolerantes à lactose.
Em outro estudo, a glicose liberada foi medida ao longo do tempo em indivíduos que consumiram tabletes de alfarroba.
O experimento obteve valores de índice glicêmico inferiores a 50, sendo que em testes que utilizam a glicose como alimento padrão, considera-se o índice glicêmico baixo quando seus valores são menores ou iguais a 55.
Para a nutricionista, o alto teor de fibras que a farinha de alfarroba apresenta pode contribuir para o baixo índice glicêmico dos produtos feitos a partir dela.
“Alimentos com baixo índice glicêmico promovem uma resposta lenta e gradual nos níveis de glicose, oferecendo substrato para a flora intestinal, promovendo sensação de saciedade e melhoria do controle glicêmico. Dessa forma, podem ser utilizados por indivíduos diabéticos ou em dietas para o controle de peso.
A inclusão de alimentos ricos em fibras na dieta tem sido associada com a diminuição do risco de obesidade e de diabetes. A fibra alimentar também possui potencial efeito preventivo contra certos tipos de câncer, em particular aqueles que atingem o trato gastrointestinal”.
A farinha de alfarroba ainda possui mineiras como:
Os compostos fenólicos presentes no produto podem apresentar atividade antioxidante, anti-inflamatória, antimicrobiana e anticarcinogênica.
A tese de doutorado deve ser defendida em 2023.
Dados preliminares foram publicados no IV Simpósio Paranaense de Fruticultura, em novembro.
A matéria completa sobre essa pesquisa você pode ler AQUI.
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Categorias: Saúde e bem-estar
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