Abstinência sexual faz mal? O que acontece ao corpo?

Acontece nas melhores famílias. Querendo ou não, a maioria de nós já viveu períodos de seca sexual. Mas o que acontece ao corpo se ficarmos muito tempo sem sexo? Será que essa abstinência faz mal?

Certamente alguns dirão que a abstinência sexual só faz bem, afinal, ela faz parte de todos os rituais e cultos religiosos que se prezem, pois a elevação espiritual seria o contrário do prazer carnal.

No catolicismo, por exemplo, temos o sexo como pecado original e, para muitos, o sexo representa procriação, apenas, e não prazer.

Na filosofia a questão também é discutível. Se alguns filósofos da escola hedonista cultuavam o prazer como principal coisa da vida, alguns filósofos como Sêneca (estoicismo) distinguia bem o prazer da alegria, condenando o primeiro como sendo um vício, enquanto a alegria é a felicidade verdadeira, pois emana do interior do ser (e não de algo externo a si).

Recentemente, uma moda entre os geeks tomou conta do Silicon Valley. Para alguns jovens trabalhadores e empreenderes, a abstinência sexual, assim como a de álcool e de outros prazeres da vida, aumenta a capacidade cerebral (memória, aprendizado, concentração). Eles  começaram a fazer jejum de dopamina para reiniciar o cérebro. A ideia consiste em tirar todo tipo de prazer da vida para ganhar foco (principalmente no trabalho).

A dopamina é o hormônio do prazer. Será que tirar esse hormônio faz bem? Alguns especialistas dizem que sim, especialmente nos casos em que o prazer é gerado por vícios.

Mas fora isso, a maioria das pessoas “normais” acredita que sexo faz bem e que a sua falta é um grande problema.

Vejamos o que a falta de sexo pode fazer ao corpo.

Falta de sexo irrita e estressa

Ai isso é um chavão comum mas, pelo menos do ponto de vista psicológico, fazer pouco ou nenhum sexo pode afetar, sim, o humor. É o que diz o psicoterapeuta e sexólogo italiano Matteo Merigo.

“Uma falta ou diminuição não voluntária no sexo, envolve uma menor produção de endorfinas e oxitocina, dois hormônios ligados ao bem-estar. A abstinência de sexo também pode aumentar o nível de estresse e provocar maior predisposição a estados depressivos ou ansiosos. A liberação dos famosos hormônios do bom humor contribui para uma melhora geral do nosso estado de bem-estar. Obviamente, não é só o sexo que é responsável pelo nosso humor, mas certamente desempenha um papel de liderança.”

Matteo explica outras consequências que o corpo pode sofrer com a abstinência sexual.

Segundo ele, quem não faz sexo fica menos atento e mais esquecido.

Não lembro quando foi a última vez

É rir para não chorar mas…

“Quando o humor melhora, habilidades cognitivas como atenção e memória também melhoram. Uma diminuição da atividade sexual pode levar a um declínio na memória de curto prazo”, explica.

Doente por (falta) de sexo

Alguns estudos indicam que ter uma vida sexual ativa aumenta a imunidade, pois ajuda o organismo a combater algumas doenças e aumenta os níveis de alguns anticorpos, especialmente o IgA (um anticorpo que mostra o quão forte é o nosso sistema imunológico).

Estudos também indicam benefícios cardiovasculares, redução da pressão arterial, da dor, de problemas na próstata.

Outros benefícios comprovados incluem melhora no sono, no humor, na memória e na autoestima, ou seja, fazer sexo regularmente melhora a saúde e diminui os riscos de doenças.

Para homens e mulheres é igual?

O que acontece com o corpo das mulheres que ficam muito tempo sem sexo? E dos homens?

É bom deixar claro que nem todas as mulheres estão nervosas por falta de sexo. Ou melhor, homens também podem estar nervosos por esse motivo. É porque esse é um assunto cheio de preconceitos, como se as mulheres fossem sempre as vítimas ou coitadas da situação. A verdade, as mulheres sabem, é que elas são mais exigentes e por isso, talvez, tenham períodos de abstinência maiores que os homens.

Dito isso, existem diferenças relacionadas à saúde do homem e da mulher que a falta de sexo pode causar.

Segundo Matteo Merigo, desistir de ter uma vida sexual, especialmente para as mulheres que estão na menopausa, pode levar a uma perda de lubrificação e elasticidade.

“Fazer amor regularmente ajuda a manter os músculos da vagina treinados. Com a menopausa, de fato, ocorre a secura vaginal e a relação sexual pode se tornar mais difícil e dolorosa. Praticar sexo regularmente pode, portanto, certamente ajudar”.

Para os homens a atividade sexual regular é especialmente boa para prevenir câncer de próstata.

“Muitos estudos têm demonstrado que a atividade sexual regular pode prevenir o aparecimento desta patologia”.

Mas podemos acrescentar um problema, muito comum em homens e mulheres, que o sexo pode pode ajudar a combater: a perda muscular pélvica que causa incontinência urinária.

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Quanto sexo é preciso fazer?

Não existe uma média recomendada de relações sexuais mas, acredita-se que a falta prolongada leva sempre a um desejo menor. O corpo se acostuma a toda situação: quanto mais, mais. Quanto menos, menos.

Segundo Matteo, é importante manter a libido sempre ativa, principalmente com o passar dos anos quando acreditamos que é normal perdê-la. “O bem-estar sexual afeta muitos outros aspectos de nossa vida e nossa saúde”, diz o psicoterapeuta.

Ok, mas e quando a coisa fica mesmo difícil de conseguir?

Como compensar a falta

Convenhamos, sexo é bom e tudo o mais mas é uma atividade complicada porque é preciso de, pelo menos, uma outra pessoa envolvida.

Sexo é intimidade, é troca, é comunicação, é ligação, inclusive espiritual então, não é, ou não deveria ser, uma coisa que se compra, que se usa ou que se subestima.

Para se obter os benefícios do sexo, ele deveria ser bem feito, com uma troca energética satisfatória entre as pessoas. Do contrário, qualquer atividade física está valendo.

Portanto, podem criticar a vontade, mas sexo como atividade física pode simplesmente ser trocado por… atividade física.

“Se você não tem relações sexuais há muito tempo, deve compensar essa atividade com outra coisa – sugere Matteo Merigo – Como o esporte. Uma vida sedentária leva não apenas à preguiça geral, mas também mais facilmente à renúncia da atividade sexual”.

Se sexo como uma atividade física cardiovascular faz bem ao corpo como um todo, correr, nadar, pular corda, etc, fazem igual. Então, nada de ficar triste. Voltando ao começo do artigo, há vantagens também na abstinência.

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