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A pandemia trouxe profundas mudanças nas formas como passamos a nos relacionar com os demais e conosco. Seja porque passamos a olhar mais a nossa cara no espelho, seja porque ela passou a ser exibida nas videochamadas, o chamado efeito Zoom tem provocado distorções de autoimagem em quem usa a plataforma para trabalhar ou estudar, sobretudo, entre os adolescentes.
Após quase dois anos de pandemia, o número de procedimentos cirúrgicos faciais aumentou por causa dessa percepção negativa que as pessoas passaram a ter sobre si mesmas. O fenômeno foi nomeado de dismorfia do Zoom pela dermatologista e professora de Harvard Shadi Kourosh para definir o transtorno dismórfico corporal que consiste em uma obsessão com “defeitos” na aparência.
Segundo o Zap, a especialista contou ao The Guardian que percebeu um aumento nas consultas por busca de cosméticos e procedimentos durante a pandemia:
“Estava preocupada que o tempo que se passa em frente às câmaras tenha efeitos negativos nas pessoas sobre a sua aparência. As pessoas não estão a olhar para um verdadeiro reflexo de como são. Não percebem que é um espelho distorcido”.
Os procedimentos mais procurados no consultório da dermatologista têm sido a rinoplastia e os que atenuam as rugas na testa.
O alerta sobre o efeito do Zoom na autoestima das pessoas é que essa percepção negativa não corresponde a quem elas realmente são, pois as câmeras distorcem nossa imagem. Quando o nosso rosto está muito próxima delas, ele parece ser muito maior do que realmente é.
No Reino Unido, os cirurgiões plásticos também notificaram um aumento de 70% nas consultas e a rinoplastia e o lifting foram os procedimentos mais realizados nos consultórios durante a pandemia.
Uma pesquisa no Google Trends mostrou que no último ano houve um aumento de cerca de 4.800% nas buscas pelo termo “rinoplastia” em relação aos cinco anos anteriores.
No Brasil, a situação também é semelhante. De acordo com profissionais ouvidos pela Folha de S. Paulo, por aqui a tendência é a mesma dos EUA.
Muitos brasileiros estão buscando a rinoplastia, que é uma operação feita na estrutura nasal para melhorar a estética e/ou corrigir disfunções do nariz (como desvio de septo).
Existem grupos privados em redes sociais, cujos membros são em sua maioria mulheres jovens, que postam fotos do “antes e depois” com os nomes dos cirurgiões e os preços da cirurgia plástica, que podem varia de R$ 7.000 a R$ 40 mil.
Um estudo acerca dos efeitos da pandemia sobre a aparência, realizado pela Universidade de Harvard com 7 mil pessoas, concluiu que 71% dos participantes estão ansiosos com o retorno das atividades presenciais, 64% já procuraram apoio mental e três em cada dez pretendem investir na sua aparência para lidar com o estresse dos eventos presenciais. As principais inseguranças dos entrevistados estão com o aumento de peso, as rugas e a acne.
Os autores do estudo afirmam que:
“O transtorno dismórfico corporal nas mulheres está crescendo durante a pandemia e piorou com o maior uso das videoconferências. O aumento do tempo nas videoconferências, usando as redes sociais e filtros destas plataformas durante a pandemia, levou a um agravamento da auto-percepção e da saúde mental, especialmente em mulheres jovens”.
A dismorfia do Zoom é mais grave do aquela que se apresenta nos filtros de aplicativos que aumentam o tamanho dos olhos, diminuem o tamanho do nariz, suavizam a textura da pele e tornam os lábios maiores, porque as pessoas parecem não se dar conta da distorção provocada pelas câmeras.
Ainda segundo a reportagem da Folha, há relatos nos grupos de redes sociais de pessoas que não somente ficaram insatisfeitas esteticamente com o resultado da rinoplastia como relatam das sequelas deixadas pela cirurgia, como dificuldade para respirar, sangramentos e infecções.
O cirurgião plástico Denis Calazans, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, alerta que a rinoplastia apenas deve ser realizada por indicação médica, devido aos riscos cirúrgicos que implica. Ele explica que a estrutura nasal é complexa e fundamental para a nossa respiração. Uma intervenção desastrosa nela pode ser irreversível.
É verdade que o Zoom e outras plataformas vieram para ficar. Mas nenhum procedimento em nosso corpo deve ser feito por modismos ou por uma impressão falsa que uma câmera nos apresenta. Nós não somos aquela imagem refletida em uma tela.
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Categorias: Saúde e bem-estar
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