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Com o desenvolvimento da ciência, espera-se que a cura para várias doenças seja logo descoberta e disponibilizada para os pacientes. Uma das curas mais aguardadas em todo o mundo certamente é a do câncer.
Entretanto, muitos protocolos precisam ser observados, sem falar que o câncer é uma doença muito complexa, já que se manifesta de formas diferentes e em diversas regiões, exigindo tratamentos muito específicos.
Recentemente, criou-se uma grande polêmica sobre a fosfoetanolamina, um composto químico que foi nomeado como a “pílula do câncer”.
A fosforiletanolamina é um composto químico presente naturalmente no organismo de diversos mamíferos, que ajuda a formar uma classe especial de moléculas que participam da composição estrutural das membranas das células e das mitocôndrias.
Por tratar-se de um nutriente, está presente na composição do leite materno humano, sendo o mais importante aminoácido fosfórico consumido por bebês em fase de amamentação.
A fosfoetanolamina começou a ser produzida em laboratório pelo pesquisador Gilberto Orivaldo Chiericeda, da Universidade de São Paulo (USP), que acreditava que a substância poderia ser usada em tratamentos de diversos tipos de câncer. Com isso, a euforia de muitas pacientes foi alimentada a ponto de recorrem à justiça para se submeterem ao tratamento com a substância. Gilberto Orivaldo Chiericeda morreu no mês passado.
Entretanto, além de não ter sido comprovada cientificamente a eficácia da fosfoetanolamina (que não é um medicamento) para esse tratamento específico, são desconhecidos os efeitos dela quando combinada com outros medicamentos já usados no tratamento de câncer.
Segundo o Proteste, o pesquisador da USP chegou a solicitar à Anvisa autorização para realizar mais testes, mas ele alegou que o órgão teve “má vontade” em atender a sua demanda. Por outro lado, a Anvisa rebate dizendo que nunca recebeu formalmente tal solicitação. O pesquisador dizia ter feito um contato com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que lhe exigiu a patente do método de síntese da fosfoetanolamina – pedido que ele não aceitou – algo que a entidade diz que não o fez.
São muitas as controvérsias e quem mais sofre com elas são os pacientes e seus familiares. A verdade, no momento, é que não existe comprovação científica sobre a eficácia da fosfoetanolamina sintética em tratamentos de câncer. Para ser comercializada como um medicamento, a fosfoetanolamina precisa ter eficácia e segurança comprovadas. Os testes completos iniciam-se com células, depois são feitos com animais até chegarem aos testes clínicos, com humanos. Finda essa fase, o produto passa para a análise da Anvisa para que seja registrado e, finalmente, disponibilizado para o tratamento.
Por isso, é perigoso e irresponsável o uso da substância sem que sejam conhecidos os seus efeitos. O tratamento convencional do câncer aceito pela comunidade médica inclui quimioterapia, radioterapia, entre outros medicamentos, ou cirurgia, em alguns casos. Esses tratamentos são, sim, conhecidos e, por isso, não podem ser substituídos pela chamada “pílula do câncer” – seria como trocar o certo pelo duvidoso, mesmo que os resultados daqueles tratamentos não sejam, sempre, os mais esperados.
A pílula que que promete curar todos os tipos de câncer acabou atraindo centenas de pessoas para uma cidade no interior de São Paulo em busca de um milagre. O doutor Drauzio Varella fez um alerta e prestou esclarecimentos sobre a substância ser usada para tal fim.
Para ajudar a lançar luz sobre a polêmica, o professor Maurizio Ferrante, da Universidade Federal de São Carlos (USFCar), escreveu o livro “A Saga da Fosfoetanolamina” sobre os supostos efeitos anticancerígenos da fosfoetanolamina, abordando os fatos que se desenvolveram desde a descoberta da molécula.
Segundo o autor:
“Mais que um relato estático, este livro expressa uma corrida atrás de acontecimentos que se seguiam rapidamente. A história da fosfoetanolamina envolve diferentes aspectos: pessoas, instituições, egos e reações químicas. Motivado pela vontade de compreender como tudo isso se relaciona iniciei a escrita em 2016. O que coloquei no papel descreve desde a quase fortuita descoberta do professor Gilberto, até suas tentativas de lidar com a academia e a comunidade médica. No meio disso tento explicar o mecanismo da ação da substância no organismo. Minha convicção é de que as pessoas precisam conhecer esse importante desenvolvimento no caminho da luta contra o câncer”.
Caso alguém queira se aprofundar sobre o assunto, é interessante confrontar as visões do Dr. Drauzio e o livro de Ferrante. É fundamental se informar quando se trata de saúde. No desespero, muitas pessoas se deixam levar por curas milagrosas que podem afetar ainda mais a sua condição.
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Categorias: Saúde e bem-estar, Viver
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