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Enquanto o povo treina a melô do Belchior para a Virada do Ano – “ano passado eu morri mas esse ano eu não morro” – notícias do Reino Unido jogam baldes de água fria na cabeça de todos.
Países europeus se fecham para o Reino Unido: para lá ninguém vai, dali ninguém chega, porque o novo vírus é inglês (não é mais chinês). E a novela parece não ter fim, ninguém sabe nada sobre essa nova variante, a B117, mas como poderiam saber se do próprio SARS-COV-2, o original made in China, ninguém sabe?
Perante o novo lockdown nas terras frias britânicas, o povo tenta fugir de Londres como o diabo foge da cruz porque o lockdown, de fato, é uma cruz! E pessoas simples como nós se perguntam: mas a nova variante é mais letal? É mais contagiosa? Vacinas funcionarão? É sério que precisa se trancar em casa de novo?
Para todas as perguntas, a única resposta que o governo parece ter na ponta da lingua é: sim, precisa se trancafiar de novo.
Pelo menos é isso o que os governos europeus estão querendo fazer, se já não o fizeram. Muitos países proibiram voos para o Reino Unido e outros estão para proibir. As canetas europeias estão para assinar novas medidas de restrição de circulação de pessoas, ainda que ninguém saiba exatamente o que está acontecendo.
Vamos aos dados colhidos na web entre revistas, blogs de ciência e sites de jornalismo, para resumir os fatos, e concluir a única coisa certa até agora: a de que ninguém sabe nada.
Na notícia sobre “o que se sabe sobre a nova variante do coronavírus” da BBC Brasil, resumindo, tem-se que:
Vírus naturalmente sofrem mutações o tempo todo, por isso é difícil entender se essa nova variante está se espalhando mais rapidamente por causa do comportamento humano, ou porque se tornou de fato mais contagiante.
O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, disse que a variante pode ser até 70% mais transmissível, mas é realmente muito cedo para se concluir alguma coisa e menos ainda para disparar estatísticas sobre a transmissibilidade.
Inclusive há quem haja dúvidas se essa versão é realmente mais infecciosa. Isso porque, como disse para a BBC o virologista Jonathan Ball, professor da Universidade de Nottingham:
“A quantidade de evidências em domínio público é inadequada para chegar à conclusões firmes sobre se o vírus realmente aumentou sua transmissibilidade”.
Ainda não há evidências de que a nova variante seja mais agressiva e mais mortal. Enquanto os novos casos se alastram, governos e pesquisadores monitoram e levantam dados sobre essa questão.
As 3 principais vacinas — Pfizer, Moderna e Oxford — trabalham na defesa do sistema imunológico para atacar a proteína Spike, que é chave de entrada do vírus no corpo. E justamente foi essa proteina a sofrer grande parte das mutações do novo coronavírus.
Por enquanto os cientistas estão dizendo que provavelmente as vacinas funcionarão. Talvez eles não queiram causar revolta na véspera do Natal com duas notícias-bombas: fiquem em casa e vacinas não funcionarão.
Fato é que o vírus, como todo ser vivo, quer sobreviver, e as vacinas colocam em jogo essa sua capacidade de sobrevivência. Se o vírus estiver treinando para conseguir mudar de formato e adentrar o corpo para infectar pessoas, adeus vacina.
A variante B117 é o resultado de 17 mutações no coronavírus, 8 delas propriamente na proteína Spike. Quem é leigo no assunto pode imaginar o que está acontecendo, mas nem por isso precisa se preocupar porque, de fato, nem os espertos estão entendendo.
O SARS-CoV-2 evolui como nenhum outro vírus da história. Ele é uma espécie de metamorfose ambulante do Raul Seixas.
Até agora, ele já mudou em uma taxa de cerca de 1 a 2 alterações por mês. Ele não é mais o mesmo vírus de Wuhan de janeiro e, enquanto fecham-se as portas para o Reino Unido, o vírus provavelmente já está circulando por aí, em outros lugares com outras roupagens.
Como diz diz Nick Loman, genomicista microbiano da Universidade de Birmingham em um artigo publicado na Science:
“O que quer que tenha permitido o surgimento da linhagem B.1.1.7 provavelmente está acontecendo em outras partes do mundo”
Ou seja, para os cientistas, o B117 já pode ser muito mais difundido do que se imagina e sua difusão pode ter sido inclusive um fruto do acaso, tendo encontrado o ambiente certo na hora certa para mutar.
Como no caso da cepa da Espanha, que colocou todo mundo em alerta em agosto para o então mais novo do novo coronavírus, esse novíssimo em folha coronavírus britânico nos dá uma lição. Como lembra a virologista Emma Hodcroft, da Universidade de Basel no artigo da Science: cientistas do Reino Unido inicialmente pensaram que o coronavírus espanhol tivesse uma taxa de mortalidade 50% mais alta, mas tudo acabou sendo
“dados puramente confusos e tendenciosos no início”, diz ela. “Acho que é um lembrete muito forte de que sempre devemos ter muito cuidado com os dados iniciais.”
Por fim, antes que a depressão seja o presente certo do Papai Noel no pior Natal da vida daqueles que restam vivos, em um artigo da pesquisadora visitante do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, Natalia Pasternak, para o site Questão de Ciência
“O que a situação no Reino Unido mostra é a importância da vigilância epidemiológica para detectar rapidamente mutantes que possam ser causa de preocupação. O que não se deve fazer, no entanto, são afirmações para as quais ainda não temos dados, que podem assustar a população e causar um pânico desnecessário”.
Aguardemos novas novidades sobre o novo coronavírus, esperando cantar o mais breve possível adeus ano velho, sem feliz vírus novo.
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Categorias: Saúde e bem-estar
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