Será mesmo que existem interesses financeiros por trás do tratamento com cloroquina?


Países como Estados Unidos e Brasil vêm defendendo o uso da cloroquina no tratamento da Covid-19, ainda que não haja consenso na comunidade científica sobre a sua eficácia.

Diante da insistência de figuras públicas, como Donald Trump e Jair Bolsonaro, no uso da cloroquina para a Covid-19, a indagação sobre o real interesse disso veio a reboque.

Interesses financeiros

De acordo com a Revista Forum, o presidente estadunidense tem interesses financeiros na produção e comercialização da cloroquina, já que teria fundos de investimentos em empresas farmacêuticas fabricantes de remédios com a substância.

O‌ The New York Times fez uma matéria falando sobre o incentivo de Trump para pacientes de Covid-19 experimentarem a hidroxicloroquina. Em coletiva de imprensa na Casa Branca, ele teria indagado: “O que vocês têm a perder?”.

Trump foi o desencadeador da polêmica em torno do medicamento que gera dúvidas entre médicos de todo o mundo. Apesar do êxito no tratamento de alguns pacientes, existem efeitos colaterais que podem acarretar complicações, inclusive, a morte do paciente.

Se a hidroxicloroquina tornar-se um tratamento aceito, acredita-se que várias empresas farmacêuticas poderiam lucrar com isso, incluindo acionistas que têm conexões com Trump. 

O médico intensivista do Brooklyn Hospital Center, Joshua Rosenberg, disse ao NY Times:

“Ele é o presidente dos Estados Unidos. Ele tem que projetar esperança. E quando você está em uma situação sem esperança, as coisas vão muito mal. Portanto, não o culpo por insistir, mesmo que não haja muita ciência por trás, porque é, neste momento, a melhor e mais disponível opção de uso“.

Entretanto, um médico sênior do Wyckoff Heights Medical Center, no Brooklyn, onde os médicos não estão fornecendo o medicamento, têm uma visão diferente, devido aos riscos da hidroxicloroquina em pacientes crônicos. Um outro médico, que atende no Hospital St. Barnabas, no Bronx, alerta para o perigo de animar o uso de um medicamento cuja eficácia não é comprovada: “A falsa esperança também pode ser ruim”.

Ainda de acordo com a publicação estadunidense, hospitais da Suécia deixaram de usar a hidroxicloroquina para tratar o coronavírus após relatos de efeitos colaterais adversos.

Interesses legítimos

Por outro lado, há quem argumente que a cloroquina é um tratamento antigo, econômico e que, inclusive já tem genéricos sendo fabricados em outros países para substituir o original, criado pela Sanofi, uma empresa francesa. Independentemente da eficácia dessa substância para tratar a Covid-19, argumenta-se que investir nesse medicamento poderia ser mais barato e mais rápido do quem em qualquer outra opção do momento.

Fato é que, diante das circunstâncias e da ansiedade por encontrar soluções para o fim do bloqueio mundial causado pelo Sars-Cov-2, desconfianças, conspirações e esperanças fazem parte do “pacote antivírus”.

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Gisella Meneguelli

É doutora em Estudos de Linguagem, já foi professora de português e espanhol, adora ler e escrever, interessa-se pela temática ambiental e, por isso, escreve para o greenMe desde 2015.


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