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Enquanto as pessoas estão morrendo sem diagnóstico de Covid-19, o Presidente Bolsonaro fala em rede nacional que a doença não passa de um gripezinha que só atinge idosos, incita as pessoas a saírem do isolamento e desqualifica a imprensa.
Contrariando o pronunciamento do presidente, que a doença só é fatal a um grupo específico de pessoas, idosos e doentes crônicos ou com baixa imunidade, um jovem de 26 anos faleceu no último sábado, dia 21, no Rio de Janeiro após apresentar sintomas parecidos com os da Covid-19.
Segundo a mãe do jovem, ele não fazia parte do grupo de risco e começou a apresentar sintomas da doença no dia 15 de março, ocasião em que procurou o hospital Badim, na região norte do Rio de Janeiro, tendo sido medicado e dispensado para retornar para casa sem realização do exame para detecção do coronavírus. Ela conta ainda, que chegou a procurar outros laboratórios para realização do exame, mas não conseguiu agendamento em nenhum dos locais.
A mãe do jovem afirma que seu filho caçula era saudável, não estava no grupo de risco, não fumava e que foi a falta de diagnóstico que impossibilitou que seu filho tivesse o tratamento adequado, levando a sua morte. O jovem ficou em casa se tratando com analgésico e quando seu quadro piorou, retornou ao hospital, ocasião em que foi entubado, passando a respirar com ajuda de aparelhos e faleceu após uma parada cardíaca.
O hospital Badim informou que todos os esforços foram feitos na tentativa de salvar o paciente e que o exame do coronavírus fora feito somente no dia sábado, dia 21, data do falecimento do jovem.
São dezenas os casos de pessoas relatando que não estão sendo realizados o exame para detecção do novo coronavírus.
Quando houve a comunicação da primeira morte de um brasileiro vítima do coronavírus, no dia 16 de março, um homem de 62 anos que foi internado no Hospital Sancta Maggiori, da rede PreventSenior, em São Paulo, passadas mais de 24 horas, os seus familiares, mãe, irmão e duas irmãs, todos acima de 60 anos, com os quais a vítima teve contato, ainda não tinham sido submetidos a testes para detecção do coronavírus.
Um colunista do jornal o globo, Pedro Doria, relatou que ao sentir sintomas da doença, conversou por telefone e WhatsApp com diversos médicos e que todos foram unânimes no provável diagnóstico do coronovírus, porém, todos também foram unânimes em dizer que ele não deveria procurar o hospital nem se testar, porque seus sintomas não eram graves, tendo sido recomendado apenas o isolamento social.
Diante dessa situação, vê-se claramente que o Brasil não vem adotando a recomendação da Organização Mundial de Saúde que recomendou a ampliação de testes em pacientes com sintomas do novo coronavírus e fortalecimento de ações de isolamento daqueles com suspeitas de infeção.
Na contramão da recomendação da OMS e também do próprio Ministério de Saúde do Brasil, foi o pronunciamento em rede nacional feito pelo Presidente Jair Bolsonaro, ontem, dia 24 de março.
O presidente Jair Bolsonaro disse que autoridades estaduais e municipais devem abandonar o “conceito de terra arrasada”, com proibição de transportes, comércio fechado e confinamento em massa e afirmou:
“O que se passa no mundo tem mostrado que o grupo de risco é de pessoas acima de 60 anos. Então, por que fechar escolas?
O presidente fez críticas às medidas de enfrentamento à pandemia de coronavírus.
“Nossa vida tem que continuar, os empregos devem ser mantidos. O sustento das famílias deve ser preservado”.
Além de atacar as medidas adotadas pelas autoridades estaduais e municipais, ainda criticou a cobertura dos meios de comunicação acerca do novo coronavírus, dizendo que foi espalhada sensação de pavor, sendo usados, para isto, os números de mortes na Itália – país que tem grande número de idosos e clima diferente do Brasil, segundo o presidente.
Disse, por fim, que, se for contaminado pelo vírus, nada sentiria ou seria acometido por uma “gripezinha” ou um “resfriadinho” devido ao seu histórico de atleta.
https://www.instagram.com/p/B-K1953HO9D/
O pronunciamento do presidente gerou uma sensação de repúdio em grande parte da população e da maioria das autoridades do país, governadores de Estado e políticos, inclusive o Presidente do Senado Davi Alcolumbre e o Presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, ambos se pronunciaram pelo Twiter, como dezenas de entidades, como a SBI – Sociedade Brasileira de Infectologia, todos no sentido de que o país precisa de uma liderança séria, responsável e comprometida com a vida e a saúde da população.
Eu e o vice-presidente do @SenadoFederal, @Anastasia, divulgamos nota sobre o pronunciamento do presidente da República nesta noite (24): Neste momento grave, o País precisa de uma liderança séria, responsável e comprometida com a vida e a saúde da sua população.
— Davi Alcolumbre (@davialcolumbre) March 25, 2020
Desde o início desta crise venho pedindo sensatez, equilíbrio e união. O pronunciamento do presidente foi equivocado ao atacar a imprensa, os governadores e especialistas em saúde pública.
— Rodrigo Maia (@RodrigoMaia) March 25, 2020
O presidente fez uma fala desnecessária, improcedente, em um momento de agonia, praticamente negando a realidade mundial quanto aos efeitos do novo coronavírus, num momento tão turbulento e danoso, desprezando as medidas que estão sendo tomadas no Brasil, inclusive pela equipe do próprio governo, usando de sarcasmo e ofensa, utilizando de sorriso no canto do rosto, ao dizer que todas as medidas tomadas provocam somente histeria, ansiedade e pânico.
O pronunciamento do presidente é contrário às orientações da ONU e do próprio Ministério da Saúde, traz uma sensação de insegurança e desqualifica as medidas tomadas que foram tão difíceis de incutir na aceitação da população.
Com certeza haverá maior perda de tempo e forças, na tentativa de convencer a população novamente quanto à necessidade de seguir as orientações que o presidente desqualificou.
Se “nossa vida tem que continuar”, como ele mesmo pronunciou, seu discurso vai na contramão do que os especialistas, médicos, cientistas, líderes dos principais países vêm recomendando para conter a difusão do Sars-Cov-2 e as consequentes mortes que ele causa.
Ademais, o presidente cometeu impropriedades afirmando que as crianças podem ir à escola porque são menos vulneráveis, mostrando toda sua ignorância a respeito da cadeia de transmissão, além de criar o falso dilema entre o salvar vidas ou salvar a economia. Não existe essa opção. Cada um tem seu remédio próprio.
A retomada das atividades somente poderá ocorrer quando tivermos tomadas todas as medidas necessárias para proteger a população. O presidente subestimando os efeitos nocivos do novo coronavírus coloca em risco a vida da população porque muitos brasileiros podem criar essa falsa sensação de segurança, num momento crítico onde está aumentando o número de infectados e mortes.
Aqui é salve-se quem puder porque, ao invés de o presidente apontar medidas sérias e efetivas, ao invés de adotar medidas econômicas de socorro à população mais frágil e carente, aos autônomos, aos empregados e às pequenas empresas, ele vem cobrar do povo o sacrifício à própria saúde, à própria vida em favor da economia, quando poderia e deveria fazer os sacrifícios necessários com a caneta que tem na mão.
https://www.instagram.com/p/B-KGAgypoM3/
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Categorias: Saúde e bem-estar, Viver
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