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Para que o surto de uma doença seja oficialmente declarado uma pandemia, é preciso que se encaixe em três critérios: a possibilidade de disseminar-se entre pessoas, matar e ter um alcance global, diz o Centro para Controle de Doenças e Prevenção dos Estados Unidos.
Os dois primeiros já foram atendidos: já são mais de 93.000 pessoas infectadas no mundo desde dezembro e 3.000 delas morreram. O terceiro, que se refere ao alcance global, aparentemente ainda é relativizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), muito embora se trate de um vírus com presença confirmada em 81 países até o momento, em todos os continentes, com possibilidades reais de continuar a se alastrar por sabe-se lá mais quantos.
A Alemanha acaba de quebrar o tabu, anunciando que o coronavírus já é uma pandemia, como diz o título de um artigo publicado nesta quinta-feira (5) no jornal italiano La Stampa.
Até agora, ninguém tinha ousado se pronunciar, pública e abertamente, usando a palavra pandemia. Ontem a noite (4), o ministro da saúde alemão, Jens Spahn, o fez, destacando que o coronavírus sequer havia atingido o seu pico no país, onde foram confirmados, até o momento, 240 casos de infecção, 44 a mais em relação ao dia anterior. A infecção chegou a 15 dos 16 estados alemães.
Enquanto a Alemanha quebra o tabu, o estado da Califórnia, nos Estados Unidos, declarou emergência por coronavírus. A região é a mais atingida do país.
Como informa a AFP, dos 6 novos casos em Los Angeles, 3 são de pessoas que estiveram no norte da Itália, o país que vem sendo considerado o novo “exportador” do vírus.
Os números de infecções tendem a aumentar na região e a administração californiana se prepara para tomar as medidas necessárias, como fechamento de escolas e cancelamento de eventos públicos.
Uma explicação para a relutância da Organização Mundial de Saúde em apertão o botão vermelho de vez é que a classificação de pandemia significa, na prática, que os governos devem pôr em ação determinados planos e protocolos, os quais podem não ser adequados para combater o novo coronavírus – e a OMS não quer correr o risco de desviar os países da direção correta, como salienta um artigo publicado na New Scientist.
Como o GreenMe destacou recentemente, a Organização Mundial de Saúde já foi cobrada, no passado, tanto por ter se equivocado quanto ao nível de gravidade de um surto, quanto pelo timing de suas comunicações.
Exemplo do primeiro caso foi a postura diante do vírus H1N1, em 2009, que, como constatou-se depois, não era tão grave quanto se pensava. Por outro lado, a OMS demorou a acionar os mecanismos adequados durante a epidemia de ebola que, de 2014 a 2016, acabou vitimando 11,3 mil pessoas em três países da África Ocidental.
“Especialistas em epidemias dizem que não há critérios globais. Costumava haver pandemias de gripe, mas a OMS as abandonou quando foi criticada após declarar uma pandemia de gripe em 2009 que desencadeou contramedidas caras em alguns países, que alguns consideraram desnecessárias”, destaca Debora MacKenzie na New Scientist.
Mas o problema, como aponta a autora do artigo, não se restringe à possibilidade de se desperdiçar recursos financeiros. Diz respeito também ao fato de que soar o alerta geral pode conduzir a procedimentos-padrão que não levam em conta as especificidades desta epidemia atual, nem as particularidades de suas manifestações locais.
Há dois tipos de resposta para uma pandemia crescente: contenção, em um momento inicial – isolamento de pessoas infectadas, rastreamento de contatos e quarentena – e mitigação, quando o vírus já se espalhou e não é mais possível manter tantas pessoas isoladas.
Os planos de pandemia foram projetados principalmente para gripes. Como estas se espalham rapidamente, os planos pulam a etapa contenção e concentram-se em ações de mitigação – como fechar escolas, a exemplo do que a Itália está fazendo agora, desestimular viagens e grandes aglomerações públicas.
No entanto, a situação é completamente diferente na atual epidemia de Coronavírus, que precisa ser atacado das duas formas. Um exemplo é a própria China, país onde se originou o surto, que combinou os dois tipos de ações possíveis e agora vê, aos poucos, a epidemia arrefecer.
Olhando por esse prisma, conclui o artigo da New Scientist, a cautela da OMS faz todo o sentido – embora essa possibilidade gere ressalvas por parte dos especialistas em comunicação de risco, para quem a relutância em informar claramente o público quanto à gravidade do cenário pode ter sérias consequências adiante.
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Categorias: Saúde e bem-estar
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