Pesquisa relaciona anormalidades reprodutivas, defeitos congênitos e infertilidade masculina ao uso do plástico


O alarme já soou faz tempo em relação à destruição ambiental provocada pelos resíduos plásticos. Mas será que governos locais e líderes mundiais tomariam medidas mais enérgicas se a própria capacidade de reprodução humana estivesse comprometida?

Cientistas da Harvard Medical School e do Departamento de Saúde do Estado de Nova York acabam de publicar os resultados de uma pesquisa, realizada durante anos, que investigou a relação entre a exposição ao di(2-etilhexil) ftalato (DEHP, sigla em inglês) – um produto químico adicionado a muitos plásticos para torná-los flexíveis – e o aumento do riscos para a saúde humana, incluindo anormalidades reprodutivas, como defeitos congênitos e infertilidade masculina.

O estudo

Os pesquisadores utilizaram uma espécie de minhoca, a Caenorhabditis elegans, organismo modelo usado comumente na condução de estudos sobre a genética e a biologia humana. A partir de uma série de testes de laboratório, com uma técnica específica capaz de alterar a coloração das Caenorhabditis elegans e torná-las verdes brilhantes quando desenvolvem um número anormal de cromossomos, elas foram expostas a dezenas dos principais produtos químicos presentes nos materiais plásticos.

Assim, puderam constatar que o DEHP, especialmente, é capaz de atuar de forma disruptiva no processo de divisão celular diretamente ligado à reprodução, a meiose, do qual resultam os óvulos e espermas. De diversas maneiras, a atuação química a defeitos de formação.

Segundo Monica Colaiácovo, professora de genética da Harvard Medical School e pesquisadora sênior da equipe que conduziu os experimentos, tratam-se de descobertas completamente novas que podem trazer clareza em relação ao impacto dos ftalatos na saúde reprodutiva humana, além de orientar regulações no mercado e políticas públicas destinadas a proteger a saúde da população.

Uma de suas preocupações é que, embora as reações no organismo das Caenorhabditis elegans tenham variado, fato é que mesmo uma exposição ao DEHP menor, relativamente, à que costuma ser detectada nos seres humanos já é capaz de gerar anomalias reprodutivas.

“Nem todos os vermes são afetados, nem afetados no mesmo grau”, disse Colaiácovo. “Mas essa é uma característica do experimento, não um bug. Nem todo mundo metaboliza o DEHP da mesma maneira […] A rota e a duração da exposição, a idade e a dieta de uma pessoa, esses são apenas alguns dos fatores que podem fazer com que algumas pessoas sejam mais afetadas pela exposição de baixo nível a um determinado produto químico do que outras”.

A ponta do iceberg

O alarme já soou faz tempo dada a quantidade de plástico que vem sufocando a vida marinha. Mas os efeitos do plástico em nosso organismo ainda são desconhecidos. O que mais falta para que haja uma total recondução na nossa forma de produzir e consumir?

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Daia Florios

Cursou Ecologia na UNESP, formou-se em Direito pela UNIMEP. Estudante de Psicanálise. Fundadora e redatora-chefe de greenMe.


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