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Na era das fakes news, é importante buscarmos informações produzidas por fontes com legitimidade para tratar de certos assuntos, sobretudo, quando, por desconhecimento, são disseminadas sementes de pânico em escala global, como tem acontecido sobre o coronavírus.
Buscar os órgãos oficiais também é um meio importante para estar bem informado sobre o tema, já que muitas fake news têm circulado pelo Whatsapp.
O presidente substituto da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres, informou que o órgão colocou o Brasil em situação de alerta para o risco de transmissão do coronavírus, isto é, o país está no nível 1 – em uma escala que vai até 3, quando há confirmação de casos em território nacional.
Torres explicou que ainda não serão alterados os procedimentos de inspeção nas aeronaves que chegam ao Brasil da China, visto que não há notificação de casos suspeitos ou confirmados em território brasileiro, informa a Tribuna de Minas. Mesmo a Organização Mundial da Saúde (OMS) tendo classificado como “elevado” o risco internacional do coronavírus, a Anvisa não irá alterar a sua rotina de fiscalização.
O representante do órgão explicou que, quando ocorre a notificação à Anvisa, suas equipes passam a ter acesso à aeronave para realizar a triagem inicial. Havendo suspeita, o veículo é isolado e os passageiros são conduzidos para um lugar seguro, podendo ser monitorados por equipes de vigilância sanitária nos dias subsequentes.
Torres esclareceu que:
“Os riscos existem. Estamos diante de situação de um agente viral levando a graves consequências de saúde. Estamos buscando a melhor forma de lidar”.
Todas as suspeitas de casos de coronavírus no Brasil foram descartadas pelo Ministério da Saúde, já que não estariam em conformidade com os padrões da OMS, os quais são: sintomas de crise gripal como febre, dificuldade para respirar e tosse, além de registro de pessoa que tenha estado na cidade chinesa de Wuhan ou que teve contato com pessoas com suspeita ou confirmação de infecção.
O Ministério da Agricultura informa que não apenas os seres humanos podem ser infectados pelo coronavírus: animais também correm o risco. Entretanto, a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) divulgou que não há casos confirmados nem relatos de animais de qualquer espécie que tenham sido vítimas do vírus.
Em nota, a OIE orientou que:
“Ao visitar mercados ou feiras de venda de animais vivos, carnes, peixes ou produtos de origem animal frescos, recomendam-se medidas gerais de higiene e prevenção, como lavagem das mãos. Após tocar animais e produtos de origem animal, deve-se também evitar contato das mãos com olhos, nariz ou boca. Recomenda-se ainda evitar contato com animais doentes ou produtos animais deteriorados”.
Cientistas de todo o mundo vêm enfatizando a necessidade de maior cooperação e transparência para pesquisar o coronavírus, que está se espalhando rapidamente. O diretor executivo do Instituto de Saúde Nottingham China da Universidade de Nottingham Ningbo (China), Stephen Morgan, disse ao Times Higher Education que “informações e estimativas de qualidade baseadas na rápida evolução da epidemia [são] essenciais para informar o governo e as agências de saúde em sua resposta”.
Os cientistas alertam, ainda, sobre a importância de o Estado chinês manter atualizadas as informações sobre o coronavírus, de forma que as pessoas tenham confiança naquilo que os meios de comunicação lhes reportam. Igual atitude deve ser tomada pelos cientistas em relação às comunidades de que fazem parte, como pontua Steve Tsang, diretor do Instituto da China na Universidade SOAS de Londres:
“Nos casos de saúde pública em que a população em geral pode ser exposta a um novo sério risco à saúde, os acadêmicos que trabalham no campo têm a responsabilidade de dizer a verdade ao poder ou falar se necessário”.
A antropóloga brasileira Rosane Pinheiro-Machado, que é professora de Desenvolvimento Internacional da University of Bath (Reino Unido), pesquisa a China há muitos anos, sendo uma das principais especialistas brasileiras sobre o país. Motivada pela confusão informacional carregada de estereótipos sobre a China, a antropóloga escreveu um artigo para The Intercept, a fim de desmistificar o pânico criado em torno do coronavírus para o mundo.
Em seu artigo, Pinheiro-Machado relembra uma fala da jornalista Eliane Brum, em 2014, acerca da epidemia de ebola na África ter provocado um surto ainda pior: o da xenofobia. Através desse fio condutor, a antropóloga destaca que, mais do que um problema sanitário em escala global, o coronavírus revela uma disputa sobre conhecimento e poder.
A especialista alerta para que não sejamos vítimas do bioterror:
“Essa é a narrativa apocalíptica – ou a doutrina do choque, como diria a escritora Naomi Klein – sempre muito bem manipulada para fins políticos”.
Os fins políticos a que a antropóloga se refere estão diretamente relacionados ao jogo econômico que envolve os Estados Unidos e a União Europeia com a China. Esse imaginário que associa o gigante asiático simbolicamente à impureza é antigo, aliás. Há cerca de 30 anos, os chineses vêm “infestando” o mundo com as suas mercadorias – amplamente consumidas pelo ocidente.
O artigo de Pinheiro-Machado não busca escamotear o problema do coronavírus. O que ela pretende é tirar a China do obscurantismo que as narrativas ocidentais estereotipadas criaram, porque a realidade é muito mais complexa do que aquela condensada em um estereótipo acerca do país mais populoso do mundo (1,4 bilhão de pessoas) e sobre o qual temos pouco acesso, o que produz em nós um um misticismo dual entre a tradição e a modernidade que a China representa.
Em uma era de crise informacional, gerada a partir da pobreza intelectual e do desinteresse pela diferença – ambientes propícios para a proliferação de fake news – é preciso atenção para um possível problema de saúde pública, mas é necessário abrir os olhos, também, para os discursos xenófobos, racistas e preconceituosos que estão por trás de uma guerra informacional com interesses político-econômicos.
Muita desinformação tem sido propagada através do Whatsapp. Considerando o estudo recente do Congresso Nacional que constatou que 79% dos entrevistados têm como principal fonte a rede social, é preocupante fiar-se nela para manter-se informado sobre o coronavírus.
Informe-se sobre o coronavírus em fontes confiáveis e nos órgão oficiais para não cair em um falso alarmismo e, se for o caso, saber se proteger de forma correta.
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Categorias: Saúde e bem-estar, Viver
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