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Recentemente, a imprensa foi invadida por notícias sobre a morte de mulheres causada por negligência médica em procedimentos de cirurgia estética. Esses casos devem levar a sociedade brasileira a refletir sobre os padrões inalcançáveis de beleza que bombardeiam, sobretudo, as mulheres.
Existe uma indústria da beleza, da qual participam veículos de comunicação, empresas publicitárias, médicos, esteticistas, indústria dos cosméticos e da moda, que cria uma imagem de “perfeição” a ser atingida pelas mulheres, minando a autoestima delas.
Como não existe padrão para a beleza, visto que cada pessoa é singular, a indústria das imagens cria representações que reforçam estereótipos femininos, fazendo com que muitas mulheres recorram a cirurgias plásticas, fórmulas milagrosas, dietas, produtos, enfim, a vários artefatos que a façam se sentir “lindas” em conformidade com um padrão que foi construído por um nicho de mercado que apenas quer dinheiro – e não a felicidade dessas mulheres, visto que o motor desse lucro é a insatisfação das mulheres com a sua autoimagem.
O Brasil vive uma verdadeira febre estética por causa da vaidade. Isso tem gerado mortes, sequelas, cirurgias mal feitas, problemas na justiça e infelicidade.
A história da cirurgia plástica nasce como uma técnica de reabilitação de feridos em guerras e acidentes ou por malformações congênitas. Como ramo da medicina, trata-se de uma especialidade que visa a melhorar a saúde das pessoas, e não deixá-las enlouquecidamente insatisfeitas, como temos assistido.
O Brasil tem na história de sua medicina o exemplo do cirurgião Ivo Pitanguy, que atendia gratuitamente pessoas com problemas reais que precisavam reconstruir seus corpos por causa de algum acidente ou doença graves.
Pitanguy, quando vivo, dizia que “quem estuda para ser médico, tem que ter um grau enorme de compaixão“. Logo, a medicina não deve ser um lugar para exibir patentes ou títulos caricaturais.
O médico brasileiro também alertava sobre o respeito ao “sentido de beleza”. Isso significa que o padrão “beleza universal” é uma invenção. Logo, uma medicina humanizada deve respeitar a singularidade do paciente.
Leia mais: IVO PITANGUY É UMA GRANDE PERDA. CIRURGIA PLÁSTICA NÃO É SÓ ESTÉTICA
Vieram à tona nos noticiários de todo o país casos como as mortes da bancária Lilian Calixto, que morreu após se submeter a um procedimento estético para colocar implantes nos glúteos, e da professora Adriana Ferreira Pinto, que fez uma lipoescultura.
Em um caso, o médico não tinha o registro para trabalhar na cidade onde realizou o procedimento, além de ter vários processos no currículo; no outro, embora a médica tivesse com o registro em dia, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica não reconhece a “especialidade” dela, medicina estética.
Antes de se submeter a qualquer procedimento cirúrgico, é necessário que o paciente se informe sobre o currículo do médico, que busque indicações do profissional e solicite ver o registro profissional dele. Com a internet, todas essas informações ficaram bem mais fáceis de serem verificadas.
A Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica disponibiliza, em seu site, uma consulta informativa para saber se o profissional é ou não credenciado pela sociedade para realizar cirurgia plástica.
Informe-se, também, sobre as reações e os efeitos que um procedimento ou produto podem causar. O diretor do Serviço de Cirurgia Plástica da Santa Casa, Francesco Mazzarone, explica que todo procedimento, por menos invasivo que seja, precisa ser feito em um ambiente cirúrgico que conte com aparelhagem especial para caso ocorra alguma emergência.
Bioplastia é um procedimento no qual é utilizado o PMMA (polimetilmetacrilato), um tipo de acrílico. “É um termo inventado para determinar procedimentos com o chamado bioplástico [o PMMA]”, diz Niveo Steffen, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, em São Paulo, ao G1.
O PMMA não é absorvido pelo organismo – e é aí que está o problema. Ele é introduzido no corpo com uma microcânula, uma espécie de agulha, após anestesia local. Embora o procedimento não seja complexo, o material apresenta risco para o organismo, já que pode provocar diversas reações inflamatórias, além de ser muito difícil de ser retirado do corpo.
O produto, ao cair na corrente sanguínea, pode entupir uma artéria, levando à paradas cardíacas, acidente vascular cerebral e embolia pulmonar.
Por causa dos riscos, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica condena o uso do produto. Mas a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) informa que o PMMA tem registro válido no Brasil até 2024. A agência diz que: “Sob a forma de microesferas, a técnica é utilizada para correções de pequenas assimetrias. Pode ser utilizada em procedimentos estéticos para corrigir rugas ou restaurar pequenos volumes perdidos pela idade”.
Temos que nos perguntar por que tantas pessoas, sobretudo, mulheres querem fazer cirurgias plásticas? É preciso nos questionar sobre as cobranças que são exigidas das mulheres para serem “impecáveis” no quesito beleza. O problema não é apenas das mulheres, mas de toda a sociedade que naturaliza essas cobranças de padrões inexistentes e, portanto, inatingíveis de beleza.
O imediatismo dos tempos modernos também tem levado as pessoas a quererem soluções milagrosas – e, em geral, questionáveis – para os seus problemas. É importante nos aceitarmos como somos e reconhecermos a nossa própria beleza. Claro que se você quer emagrecer um pouco, mesmo por razões estéticas, isso não é condenável, mas é preciso se respeitar e respeitar os limites do seu próprio corpo.
Comece fazendo uma avaliação dos seus hábitos e aos poucos vá tentando melhorá-los, se é esse o seu entendimento. Buscar ajuda profissional, como educadores físicos, psicólogos, psiquiatras, nutricionistas, é um passo mais saudável e menos radical para você não apenas dar “up” na beleza mas, principalmente, cuidar da saúde, tanto física quanto mental.
Uma pessoa bonita está feliz e confortável sendo quem é!
Pense nisso!
Categorias: Saúde e bem-estar, Viver
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