Uma revisão sobre a proibição da cannabis: a Organização Mundial de Saúde anuncia querer reavaliar cientificamente os efeitos da maconha, vislumbrando assim a possibilidade de removê-la da lista das drogas.
Isso é o que fora anunciado em Genebra durante uma sessão aberta da Comissão de Peritos em Toxicodependência da Organização Mundial da Saúde, que, portanto, pela primeira vez na história das Nações Unidas informa a intenção de iniciar uma revisão sobre as propriedades terapêuticas da cannabis.
Trata-se portanto de um debate sobre a legalização da cannabis, que faz parte de um verdadeiro processo evolutivo do qual a OMS está se tornando protagonista, adaptando-se às mudanças históricas da sociedade. Um exemplo disso é a nova Classificação (CID-11) publicada recentemente, que não mais considera “desordem mental” a incongruência de gênero (“transexualidade”) e que, inversamente, vai contra a dependência de videogames e a coloca entre as patologias da mente.
Assim, enquanto o Canadá definitivamente legalizou a maconha, hoje a OMS, 70 anos após sua fundação, finalmente inicia um processo de revisão crítica, visando, isto é, não apenas o estudo, mas também a formulação de recomendações operacionais.
Desde 1961, a cannabis é uma planta interditada para fins de pesquisa científica e uso terapêutico, como a heroína e a cocaína. Desde o início da década de 1970, seus produtos podem ser usados muito raramente para fins terapêuticos, mas, entretanto, especialmente nos últimos 20 anos, houve um boom nas pesquisas sobre a produção da cannabis para fins terapêuticos, onde os efeitos adversos são uma porcentagem desprezível em comparação com os benefícios que envolve o uso desta planta e seus derivados. Com o tempo, os estados europeus abrandaram suas leis e permitiram a prescrição de canabinóides terapêuticos.
Até a presente data, a cannabis está incluída na Tabela I (altamente aditiva e sujeita ao abuso) e na Tabela IV (substâncias incluídas na Tabela I raramente utilizadas na prática médica) da Convenção Única sobre Estupefacientes de 1961. Um cruzamento que complica a pesquisa sobre os componentes ativos da planta devido às dificuldades administrativas que os cientistas encontram para obter acesso às substâncias.
Atualmente, dado o uso médico generalizado, a inclusão na Tabela IV é menos justificável do que há 57 anos e as definições ambíguas de substâncias relacionadas à cannabis e colocadas sob controle internacional, bem como a classificação de suas inflorescências, resinas e extratos como “drogas” e seus compostos ativos como “substâncias psicotrópicas” que foram “condenadas” no passado pelo Comitê de Especialistas da OMS e também pela junta internacional sobre narcóticos.
“E se o mundo rico pode usar terapias à base de cannabis – diz Marco Perduca, ex-senador italiano e especialista no assnto – não está claro por que os países que são vítimas da proibição ocidental não possam cultivar cannabis, muitas vezes uma planta tradicional, e ajudar seus próprios cidadãos como aqueles dos países que desde o pós-guerra à hoje, impuseram leis draconianas contra a produção e o uso terapêutico da planta medicinal”.
Só para mencionar alguns dados, é quase impossível que se verifique uma overdose de THC. Uma grande dose de THC pode causar desorganização conceitual, pensamento fragmentado, desconfiança, delírios paranóicos e distorções perceptivas, mas todos temporários. Além disso, estima-se que 183 milhões de adultos tenham consumido cannabis a nível mundial em 2015. A planta cresceu em 135 países e é a droga mais produzida do mundo e, no que diz respeito ao seu aspecto terapêutico, muitos estudos têm agora estabelecido uma porcentagem irrisória dos seus efeitos adversos, em comparação com os benefícios que envolve o uso desta planta e seus derivados.
Nada resta portanto, que a ONU enfrente a necessidade de equilibrar o famoso proibicionista “princípio da precaução”, com as inovações tecnocientíficas agora feitas pelo mundo da pesquisa, e que chegue em breve a uma recomendação final.
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Categorias: Saúde e bem-estar, Viver
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