Falta muito para o Brasil erradicar a tuberculose, doença do passado


Quando ouvimos falar em tuberculose, parece se tratar de uma doença do passado, que acometia as personagens de livros do século XIX. Mas essa doença não parou no tempo e, ainda, hoje mata.

Condições insalubres de moradia, como as encontradas em milhares de casa em favelas do Brasil, podem causar a tuberculose, uma doença infecciosa, que é transmitida pelo ar por uma bactéria que afeta, principalmente, os pulmões. Os sintomas mais comuns da tuberculoso são falta de apetite, tosse por mais de três semanas e cansaço. Muitas vezes costuma ser confundida com pneumonia ou gripe, o que pode agravar o quadro do enfermo.

O grande problema no tratamento da tuberculose é que a doença não é apenas um caso de saúde pública, mas decorre de um problema social e de urbanização. Embora exista cura e o tratamento seja acessível, a prevenção é o maior desafio para combater a tuberculose, pois ela se dissemina pelo ar em áreas muito povoadas e com alta concentração de pobreza. Por isso, as favelas são um foco de tuberculose, devido às suas moradias fechadas, úmidas, sem entrada de luz e circulação de ar.

A favela da Rocinha é considerada um dos principais focos de tuberculose do Brasil, segundo especialistas. O alerta, feito em uma publicação do El Pais, aponta dados da Prefeitura do Rio de Janeiro que indicam uma taxa de 372 casos por 100.000 habitantes, onze vezes maior do que em todo o país, que registrou, em 2014, 68.467 casos (33,8 por 100.000 habitantes). Isso faz do Brasil o 17º país entre os 22 países que concentram 80% dos casos de tuberculose do mundo, de acordo com informações da Organização Mundial da Saúde (OMS).

O psicólogo e ativista do Observatório de Tuberculose no Brasil, Carlos Basilio, explica que:

“Na verdade, não é que a Rocinha tenha o mais alto índice do país, mas sim que esse mesmo perfil econômico, social e urbano se reproduz em outros lugares, como Cidade de Deus, Complexo do Alemão, Maré, Rio das Pedras…”.

Além das favelas, outras áreas preocupantes são penitenciárias, comunidades indígenas, zonas onde vivem moradores de rua, isto é, a tuberculose ataca pessoas em situação de vulnerabilidade social, que, desde o século XIX, ainda não foi superada. Em muitos países, a OMS considera a doença já eliminada, já que as taxas são baixíssimas.

Tratamento difícil

Como a prevenção é a melhor ferramenta para combater a tuberculose, o programa Saúde da Família é fundamental nos cenários de vulnerabilidade social.

A presença das Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) nas regiões menos atendidas pelas urbanização leva assistência médica primária às populações que vivem nessas áreas.

As equipes de Saúde da Família são formadas por médicos, enfermeiros e agentes comunitários, em geral, moradores do lugar. Eles são responsáveis, na favela da Rocinha, por exemplo, por levar as quatro doses de antibiótico aos pacientes de tuberculose.

Os antibióticos usados no tratamento são geridos e distribuídos pelo SUS, pois não são vendidos em farmácias. Isso, por um lado, é bom e eficiente porque um grande problema levantado por um relatório da OMS é o uso indiscriminado de antibióticos, que leva à criação das superbactérias. Entre as doenças já consideradas resistentes ao tratamento com antibióticos, está a tuberculose.

A gonorreia, por exemplo, já é considerada intratável.

Segundo Fabiana Assumpção, professora da Escola de Enfermagem da UNIRIO responsável pelo monitoramento dos casos de tuberculose na Rocinha:

“O tratamento funciona muito bem, o problema é que ainda falta no Brasil uma política mais eficaz para prevenir a família, que fica suscetível a ser infectada. Ainda priorizamos a cura e não a prevenção porque, quando o paciente abandona o tratamento, a tuberculose vira multi-resistente. Então devemos melhorar ainda mais as taxas de cura”.

A tuberculose geralmente se cura dentro de 6 meses, prescrevendo tratamento adequado com base em antibióticos muito potentes. Agora, no entanto, as bactérias estão se mostrando cada vez mais resistentes aos tratamentos convencionais, de modo que em países da África, os hospitais são obrigados a mandar pacientes com tuberculose para suas casas, porque não conseguem tratá-los com os medicamentos que antes eram eficazes.

Para erradicar totalmente a tuberculose no Brasil é preciso investir em infraestrutura nas nossas cidades, isto é, em projetos de cobertura sanitária total e na formação e valorização de profissionais da saúde que trabalhem com medicina preventiva. Mas para isso dependemos da vontade política que priorize a vida.

Se somos um “país do futuro”, não podemos mais sofrer com doenças do passado.

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Gisella Meneguelli

É doutora em Estudos de Linguagem, já foi professora de português e espanhol, adora ler e escrever, interessa-se pela temática ambiental e, por isso, escreve para o greenMe desde 2015.


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