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O discurso das mídias precisa captar o público para chamar a atenção. Para isso, os meios de comunicação usam várias estratégias para seduzir o público fazendo uso de rótulos muitos vezes estereotipados e com forte carga emocional. A cobertura dos Jogos Paralímpicos Rio 2016 usou muitos rótulos com os quais os atletas pouco se identificaram.
Rótulos como “super-atletas” e “heróis” não encontraram eco nos atletas paralímpicos, que querem ser considerados o que são: atletas de alto rendimento, que se esforçam para obterem o melhor desempenho em suas modalidades esportivas. Os atletas paralímpicos que nasceram ou não com alguma deficiência tiveram que enfrentar muitos preconceitos, e esse é o maior legado que eles deram para todos nós durante os Jogos. A secretária especial dos Direitos da Pessoa com Deficiência do MJC, Rosinha da Adefal, acredita nisso. Para ela, o principal legado dos Jogos Paralímpicos Rio 2016, além de propiciar a construção de espaços acessíveis, é a mudança cultural na sociedade brasileira, que teve com o evento a oportunidade de conhecer a vida de pessoas com deficiência e o quanto é importante a promoção de direitos para essa parcela da população.
Nas Paralimpíadas Rio 2016 recordes foram quebrados e performances de alto nível foram apresentadas em quadras, pistas e piscinas, demonstrando o alto nível da competição. Embora o discurso bem intencionado de Carlos Arthur Nuzman na cerimônia de abertura dos Jogos tenha exaltado os atletas como “super-humanos”, eles não se veem dessa forma.
Como qualquer atleta, os competidores das Paralimpíadas têm uma rotina de muitos treinos para conseguir alcançar o melhor rendimento. A mídia e a sociedade exaltaram as performances dos atletas como exemplos de superação de deficiências físicas ou mentais. Entretanto, como explica Guilherme Camargo, atleta da seleção brasileira de rugby em cadeira de rodas, em matéria da EBC, as dificuldades dos atletas já foram superadas. O momento atual deles é outro. “Hoje, estamos acostumados com a nossa lesão, adaptados. Nós somos atletas de alto rendimento”. Após ficar paraplégico em um acidente de carro em 2007, Guilherme diz que esse obstáculo já foi superado por ele. Seu desafio é vencer as melhores seleções do mundo em sua modalidade e ter o reconhecimento de que o esporte paralímpico seja visto como de alto rendimento.
A rotina de um atleta paralímpico é a mesma de um atleta olímpico. O nadador brasileiro André Brasil acredita que a realização dos jogos no país foi uma grande oportunidade para revelar isso à sociedade. “Qual é a diferença que as pessoas colocam e o medo de se falar sobre a pessoa com deficiência ou o deficiente? É um momento especial que a gente vive no nosso país, de transformação cultural, um momento no qual as pessoas querem entender mais sobre qualquer modalidade adaptada. É a hora que a gente tem para quebrar um pouco disso”, defende André.
O silêncio e o ocultamento são ferramentas para manter a ignorância sobre a vida das pessoas com deficiência e, consequentemente, fortalecer o preconceito. O nadador ainda diz que: “O esporte é saúde, mas o quão bacana seria promover saúde e educação para uma criança, seja ela com ou sem deficiência, e gerar oportunidade? Vamos fugir um pouco dessas terminologias do politicamente correto, do que é certo, do que é errado.”
O esgrimista paralímpico Rodrigo Massarutt, que ficou paraplégico em 2005 em um acidente de moto, não acha que seja mais especial do que outra pessoa, nem um exemplo. Ele se considera igual a qualquer um, dentro de sua própria limitação. Ele conta que: “No começo eu achava que não tinha sentido a minha vida. Mas você vai vendo que o ser humano é adaptável a tudo”.
Isso mostra que todos nós, de diferentes formas, temos obstáculos para superar na vida. Alguns em uma cadeira de rodas, como Rodrigo, e outros não, mas com os seus desafios por viver e enfrentar. Como diz Rodrigo: “Acho que todo mundo tem dificuldade, acho que todos são super-humanos”.
Pessoas com deficiência enfrentam discriminação no trabalho, na escola, na sociedade, infelizmente e ainda muito. O legado que realmente gostaríamos que este evento nos deixasse seria uma mudança de cultura em nossas mentalidades. “O verdadeiro legado que as Paralimpíadas vão deixar é uma mudança cultural no país. Os jogos têm que trazer uma mudança de atitude em relação à pessoa com deficiência. É preciso respeitar as diferenças e promover a igualdade para que possamos garantir a plena participação das pessoas com deficiência na sociedade,” disse a secretária especial dos Direitos da Pessoa com Deficiência do Ministério da Justiça e Cidadania, Rosinha da Adefal.
E o esporte é isso, superação, cooperação, trabalho em equipe. Uma linda inspiração para nos deixar como exemplo.
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Categorias: Saúde e bem-estar, Viver
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