Vários especialistas já vinham anunciando que os brasileiros podem ser barrados por outros países devido ao risco de sermos potenciais agentes de contaminação de Covid-19, mesmo após a queda na curva epidêmica, que no Brasil está longe de acontecer.
Como as medidas para conter a infecção da doença pelo governo federal são praticamente inexistentes – cabendo aos estados e municípios essa tarefa de forma desarticulada -, a comunidade internacional vê com receio a propagação do vírus para além de nossas fronteiras.
A América registra a maioria dos casos de Covid-19 do mundo. Estados Unidos e Brasil são os responsáveis por esse quadro por terem ultrapassado o número de casos de infecção confirmados da Europa. A porta-voz da Organização Mundial de Saúde (OMS), Margaret Harris, afirmou que:
“Definitivamente, o continente americano é o atual centro [da pandemia]. As Américas estão certamente dirigindo a pandemia no mundo, com maior número de casos e mortes”.
Mario Abdo Benítez, presidente do Paraguai, país com qual o Brasil compartilha 700 km de fronteira, já declarou que somos uma “ameaça à segurança sanitária” de seu país. Benítez enviou reforço militar para a fronteira e afirmou que nem cogita abri-la para o Brasil, informa o UOL.
O vice-ministro de Atenção Integral à Saúde e Bem-Estar Social do Paraguai, Juan Carlos Portillo Romero, disse à BBC News Brasil que a questão sanitária é prioridade no país:
“Os dois governos, do Paraguai e do Brasil, têm muita afinidade, mas a nossa preocupação agora é com a saúde dos paraguaios. O Brasil é uma preocupação pelo número de casos, mas estamos tomando todas as medidas preventivas”.
Os demais vizinhos sul-americanos também têm a mesma visão temerária sobre o Brasil, visto ser o país mais populoso da região e aquele que faz fronteira com a maioria deles.
A Argentina, que vem enfrentando a epidemia em seu território de forma exemplar, fechou quase todas as fronteiras com o Brasil e praticamente não há voos disponíveis entre os dois países.
O presidente da Argentina, Alberto Fernández, avalia que o Brasil é um mau exemplo no combate à covid-19:
“Os que (deram prioridade à atividade econômica) acabaram juntando mortos em caminhões frigoríficos e enterrando (corpos) em fossas comuns”, disse o mandatário à rádio Con Vos, em clara crítica ao governo de Jair Bolsonaro.
O professor de relações econômicas internacionais da Universidade Tres de Febrero (Untref), Raul Ochoa, disse que haverá maior controle sanitário dos produtos comercializados entre Brasil e Argentina, a fim de evitar a propagação do vírus:
“Vamos precisar de novos protocolos e de maior controle ainda. Mas para isso seria importante uma linha sanitária comum”.
Na Bolívia, a maioria dos casos de Covid-19 está em Santa Cruz de la Sierra, cidade que faz fronteira com o Brasil. As fronteiras foram fechadas e o comércio é feito com muito controle e “só passam casos de emergência”, segundo contou o jornalista Ronald Fessy à BBC.
Peru e Colômbia, que estão no cinturão amazônico, preocupam-se com a contaminação dos povos indígenas de seus países.
Diferentemente do Brasil, as lideranças sul-americanas comprometem-se, publicamente, com o bem-estar da população de seus países. As declarações dos presidentes dos países da América do Sul estão em consonância e a única divergência ecoa do Brasil.
Somos vistos como uma real ameaça dentro de nossa região, o que mostra claramente (ainda que haja gente impossibilitada de ver) que estamos navegando para um direção errada. O número recorde de contaminações e óbitos registrados nessa terça-feira (12) são a confirmação disso.
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Categorias: Saúde e bem-estar, Viver
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