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Com monitoramento de amostras de esgoto, cientistas e pesquisadores pretendem acompanhar o comportamento do coronavírus durante a pandemia.
O Sars-Cov-2 é o nome do vírus que gerou a pandemia Covid-19 (a doença), levando milhares de cientistas a promoverem estudos e pesquisas, nos mais variados campos, para tentar entender a causa, estrutura, funcionamento, transmissão, efeitos, vacinas, remédios e os impactos do novo vírus causados na sociedade.
Uma das linhas de pesquisa é entender como o vírus se comporta e como se transmite.
Já há comprovação científica de que o vírus é encontrado na saliva, catarro e secreções nasais e podem ser liberados através de espirro, tosse e pela fala.
As pesquisas tentam comprovar que o contato e o toque pessoal e em superfícies contaminadas também podem transmitir o vírus.
Mas será que além de secreções orais e nasais o vírus está presente também em outras partículas ou secreções?
Já há evidências científicas que o coronavírus também pode ser encontrado nas fezes do ser humano, porém ainda não há evidência científica sobre a transmissão por meio de fezes.
Até o momento, a via respiratória é o principal modo de transmissão, através de gotículas respiratórias geradas pela tosse ou espirros.
No final de abril, a Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz) anunciou um estudo que vem sendo realizado, em parceria com a Prefeitura de Niterói, cujo objetivo é acompanhar o comportamento da disseminação do coronavírus durante a pandemia.
Para isso, os pesquisadores coletaram inicialmente 12 amostras do esgoto de várias partes da cidade de Niterói, – que teve um grande número de infectados pela Covid-19 -, e constataram a presença de material genético do novo coronavírus (Sars-CoV-2) em 5 amostras. As coletas vão continuar por 4 semanas.
Os pesquisadores acreditam que a partir dos resultados positivos das amostras é possível identificar qual região ou microrregião existe a presença do vírus auxiliando no monitoramento dos sistemas de saúde.
É uma pesquisa do tipo monitoramento ambiental e ajuda a entender como o vírus se comporta, evolui, a relação com locais movimentados, comerciais, bairros residenciais e suas regras de isolamento, controle e pico da doença.
A Fiocruz já desenvolve o monitoramento ambiental através da vigilância dos esgotos há 15 anos e a pesquisa é alinhada com estudos científicos internacionais que acreditam que conseguem identificar mais rápido a presença da doença por esse método.
Os resultados iniciais evidenciam a eficácia da metodologia na ampliação da vigilância de propagação do novo coronavírus, porque será possível mapear por onde o vírus está circulando, incluindo locais com casos assintomáticos e subnotificados no sistema de saúde, verificando a ocorrência do vírus em uma determinada região geográfica.
A pesquisadora Marize Pereira Miagostovich, chefe do Laboratório de Virologia Comparada e Ambiental do IOC/Fiocruz e responsável pela pesquisa, explica:
“Mais uma vez, a Fiocruz direciona especial atenção no enfrentamento de um problema de saúde pública, na busca de respostas que possam ser diretamente aplicadas para fortalecer o Sistema Único de Saúde (SUS). Nossa experiência em virologia ambiental será somada aos esforços do excelente trabalho desempenhado pelo centro de referência da Fiocruz em diagnóstico laboratorial do novo coronavírus, que estima a quantidade de pessoas infectadas pela doença”.
Mas a virologista e pesquisadora Marize faz um alerta, ainda não existem evidências científicas sobre a possibilidade de transmissão do novo coronavírus por rota fecal-oral:
“Nossas análises detectam a presença de fragmentos de material genético do vírus, indicando que existe presença de casos positivos em determinada localidade. Porém, ainda não há evidências na literatura científica de que, quando excretado nas fezes, o vírus ainda esteja viável para infectar outras pessoas”, esclarece.
Seguindo o exemplo da Fiocruz, a Agência Nacional de Águas (ANA) em parceria com a UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) e Secretaria de Saúde do Estado de Minas iniciaram uma pesquisa para detectar a presença do coronavírus no esgoto das cidades mineiras de Belo Horizonte e Contagem.
O projeto vai ter duração de dez meses e o objetivo também é contribuir para mapeamento da incidência da Covid-19 nas localidades estudadas.
Segundo o professor Carlos Chernicharo, que é coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia da UFMG:
“Conhecer a ocorrência do coronavírus dará subsídios à adoção de medidas de relaxamento consciente do isolamento social e ainda pode gerar avisos sobre os riscos de aumento de incidência da Covid-19 de forma regionalizada, embasando a tomada de decisões por parte dos gestores públicos”.
Os pesquisadores acreditam que o mapeamento pode ajudar a detectar regiões mesmo onde a Secretaria de Saúde não mapeou pessoas infectadas ou doentes. Ou seja, é uma forma de identificar, sem precisar fazer testes, aquelas pessoas assintomáticas através da localização regional e servir como mais um instrumento às autoridades de saúde estabelecerem ações de redução dos níveis de transmissão da doença e possíveis medidas de proteção.
Outros Estados como Ceará e Pernambuco através de suas Universidades Federais, já manifestaram interesse em desenvolver o mesmo estudo.
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Categorias: Saúde e bem-estar, Viver
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