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Reviravolta do novo coronavírus: médicos relatam acidentes vasculares em jovens de 30 a 40 anos com sintomas leves de Covid-19 e hospitais já estudam alterar protocolo de atendimento.
O médico neurologista Thomas Oxley, do Hospital Mount Sinai Beth Israel, em Manhattan, ao The Washington Post relatou um aumento expressivo de acidentes vasculares cerebrais em pacientes jovens e de meia idade com sintomas leves da Covid-19.
Ele afirma que os vários casos demonstram uma coincidência terrível e sugere o AVC como possível consequência do novo coronavírus. Isso porque, segundo o médico, a maioria das vítimas recentes de derrame estavam na faixa dos 30 e 40 anos e todos infectados pelo vírus, enquanto normalmente acidentes vasculares graves acometem pessoas com idade média de 75 anos.
Outro apontamento percebido pelo neurologista foi notado durante a cirurgia para remoção do coágulo do cérebro do paciente. Ele usa uma agulha para extrair o coágulo e verifica as imagens através de um monitor que mostra o cérebro e pôde ver que, enquanto removia o coágulo, outros iam se formando ao redor, em tempo real. Situação bem impressionante e pouco comum em casos de AVCs.
Três importantes centros médicos norte-americanos estão se preparando para publicar pela primeira vez os dados sobre a ocorrência dos derrames, porém os números são relativamente pequenos, algumas dezenas de casos estão sendo investigados.
Mas em se tratando de Covid-19, que já infectou mais de 3 milhões de pessoas com mais de 220 mil mortes no mundo, ainda se sabe pouco ou quase nada sobre a doença.
A situação é mais grave porque os casos indicam que os pacientes que tinham o coronavírus e que sofreram derrame tiveram o tipo mais mortal, o AVC hemorrágico, que compromete grande parte do cérebro responsável pelo movimento, fala e tomada de decisões de uma só vez, pois são adjacentes às principais artérias que irrigam o cérebro.
Os pesquisadores apontaram que a possível causa seja porque o novo coronavírus produz coágulos na parede dos vasos sanguíneos de partes do corpo da pessoa, por exemplo pernas, e eles podem subir e migrar para os pulmões causando embolia pulmonar, prejudicando a respiração. Em alguns casos, se os coágulos acontecem próximo ao coração ou perto dele, podem levar a um ataque cardíaco, outra causa comum de morte entre os pacientes com Covid-19. Já qualquer coágulo acima dessas áreas, provavelmente seguiria para o cérebro, levando a um derrame. Mas estudos ainda precisam ser feitos para comprovar essa tese.
Até recentemente, eram poucos os dados relacionando os derrames à Covid-19.
Por ser uma doença absolutamente nova, não se sabe a origem dos coágulos, e as dúvidas giram em torno de duas possibilidades: poderiam se formar devido um ataque do vírus direto às células sanguíneas ou poderiam ser formar como resposta do sistema imunológico do paciente.
Os médicos norte-americanos pretendem iniciar os estudos a partir das informações recebidas de pacientes tratados em 68 centros médicos de 17 países. Enquanto isso, neurologistas norte-americanos temendo o aumento de AVCs, resolveram mudar o protocolo de atendimento dos pacientes com Covid-19.
Por causa das evidências relatadas pelos médicos norte-americanos, o Jornal O Estado ouviu neurologistas de alguns hospitais de São Paulo e do Rio e identificou a ocorrência de pelo menos três situações parecidas.
O neurologista Gabriel Freitas, pesquisador do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR) e da Universidade Federal Fluminense, afirma que teve dois pacientes, um que chegou ao hospital com AVC e depois com uma tomografia de tórax percebeu que ele tinha a Covid-19 e outro que ele atendeu em consultório com AVC leve, também depois foi testado como positivo para o novo coronavírus.
O médico também afirmou que conversou com neurologistas da Espanha e também lá foi muito nítido os casos de AVC em pacientes com sintomas leves de Covid-19.
Por causa disso, ele afirma que o protocolo de atendimento para esses pacientes está mudando ao menos em dois hospitais – o Quinta D’Or e o Copa D’Or –, e sendo discutida essa implantação em toda a Rede D’OR.
Gisele Sampaio, diretora científica da Rede Brasil AVC e neurologista do Hospital Albert Einstein e da Escola Paulista de Medicina, afirmou também ter recebido um caso de derrame em uma paciente de 56 anos que depois descobriu a Covid-19 sem histórico anterior importante para AVC, exceto a coincidência de ter contraído o novo coronavírus.
Segundo Gisele, as sociedades brasileiras de Doença Cérebro-Vascular e de Neurointervenção estão elaborando um documento com recomendações para que os pacientes com AVC sejam investigados para Covid-19.
O novo coronavírus, Sars-Cov-2, bem como a doença que ele causa, a Covid-19, são ainda grandes enigmas para a medicina e para a virologia. Enquanto aumentam os casos de contágio e doença, cientistas do mundo inteiro vão tentando montar este quebra-cabeça em busca de cura e vacina.
Com um número maior de casos para amostra em estudos, em teoria, ficaria mais fácil desvendar os mistérios.
Enquanto isso, a única coisa certa é que a prevenção é a melhor forma de combate ao novo vírus: lavagem frequente das mãos e isolamento social. É o que temos para o momento. #FiqueEmCasa.
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Categorias: Saúde e bem-estar, Viver
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