Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o novo coronavírus (SARS-CoV-2) tem potencial de “pandemia“, ou seja, de alastrar-se pelo mundo inteiro. Para impedir que isso ocorra, cientistas correm contra o tempo para obter mais informações. Descobrir qual animal originou o surto é uma peça-chave nessa história.
O balanço é preocupante: já são mais de 80 mil pessoas infectadas em quase 40 países e mais de 2.760 mortes ao redor do mundo, sendo mais de 95% na China.
As suspeitas dos cientistas recaem sobre os morcegos, mas pode haver outros elos nessa corrente. Trata-se de um “trabalho de detetive”, disse à BBC o professor Andrew Cunningham, da Zoological Society of London, no Reino Unido.
Segundo a reportagem publicada nesta quarta-feira (26), desde que os cientistas decifraram o código genético do novo coronavírus os morcegos se tornaram os principais suspeitos.
Não é para menos: os mamíferos voadores são conhecidos portadores de diversos tipos de coronavírus. Além disso, eles, que costumam ser bem resistentes a doenças devido a adaptações genéticas, têm potencial de espalhar patógenos de forma ampla, uma vez que vivem em enormes colônias, voam longas distâncias e estão presentes em quase todos os continentes.
No entanto, a origem do novo surto pode ter sido um pouco mais complexa e envolver outros animais silvestres.
Um pangolim, por exemplo, que estivesse à procura de insetos para comer pode ter entrando em contato com excrementos de morcegos e, consequentemente, com o vírus.
Esse pangolim infectado – que costuma ser alvo de cobiça dos chineses, uma vez que sua pele tem uso medicinal – pode ter ido parar em um mercado na cidade de Wuhan, epicentro do surto. Lá, teria infectado um humano, que, por sua vez, infectou outros.
Trata-se de uma hipótese que ainda precisa de comprovação científica, mas ela é suficiente para que esses mercados estejam na mira das autoridades chinesas. No momento, está suspensa a comercialização de produtos oriundos de animais selvagens, como alimentos, peles e medicamentos tradicionais.
Acredita-se que a suspensão possa ser permanente, embora esta não seja a primeira vez que medidas assim foram tomadas. Durante a eclosão da síndrome respiratória aguda grave (Sars), em 2002, também causada por um coronavírus, semelhante ao atual, os mercados de animais silvestres também foram temporariamente suspensos. No entanto, rapidamente se reestabeleceram não só na China, mas também em outros países do sudeste asiático.
Em sintonia com as preocupações dos preservacionistas, que temem pelo abate em massa dos morcegos, o professor Cunningham destacou a importância desses mamíferos:
“Se entendermos os fatores de risco, podemos tomar medidas para impedir (a propagação) sem afetar negativamente os animais selvagens”, explicou à BBC. “Os morcegos insetívoros comem grandes quantidades de insetos, como mosquitos e pragas agrícolas, enquanto os morcegos que se alimentam de frutas polinizam árvores e espalham suas sementes […] É imperativo que estas espécies não sejam abatidas por meio de medidas equivocadas de ‘controle de doenças'”, acrescentou.
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Categorias: Saúde e bem-estar
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