Cigarro mata! Mas não apenas quem fuma, quem o produz também


Todos nós sabemos dos riscos e males que o cigarro provoca para quem fuma e para quem é fumante passivo, isto é, quem convive com fumantes. Mas (quase) ninguém fala dos riscos a que estão expostos os produtores de tabaco.

Uma reportagem da BBC, divulgada pela Uol, resolveu investigar quais são os efeitos que o fumo causa a quem o produz. Muitos agricultores do Rio Grande do Sul estão morrendo por causa dos agrotóxicos utilizados na agricultura do fumo.

Assim como sabemos dos males do cigarro, conhecemos os perigos dos agrotóxicos. E, se não sabemos, a reportagem nos ajuda a expor e divulgar esse problema que está literalmente matando muita gente em nosso país. Pior: os agricultores gaúchos estão se suicidando. Segundo a reportagem divulgada pela Uol, o estado do Rio Grande do Sul contabiliza o maior número de suicídios no Brasil: 10 a cada 100 mil habitantes.

Na pequena cidade de Gramado Xavier, polo fumageiro da indústria do fumo, há uma forte conexão apontada por várias pesquisas entre os casos de suicídio e a agricultura do fumo. A Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do estado, já em 1996, apresentou um relatório que indicava que 80% dos suicídios da cidade de Venâncio Aires, o maior polo produtor de tabaco da região, foram cometidos por agricultores. Nesse mesmo relatório, constatou-se que a taxa aumentava de acordo com o maior uso de agrotóxicos no plantio. A Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) também realizou uma pesquisa que mostra que o uso de agrotóxicos leva os agricultores à depressão. Em uma pesquisa de 2014, a UFRGS constatou que 20% dos agricultores entrevistados apresentavam um quadro depressivo, o que pode evoluir para um suicídio.

Segundo um relatório do Greenpeace, estudos demonstraram que a exposição a determinados agrotóxicos está associada a vários tipos de câncer e doenças neurodegenerativas, como Parkinson e Alzheimer.

O Rio Grande do Sul também é o estado com a maior estimativa de novos casos de câncer para este ano, de acordo com pesquisa elaborada pelo Inca: 588,45 homens e 451,89 mulheres para cada 100 mil pessoas de cada sexo. Em 2014, 17,5 mil pessoas morreram de câncer em terras gaúchas – no país todo, foram 195 mil óbitos.

O Sindicato da Indústria do Tabaco local (Sinditabaco) se defende argumentado que “atrelar casos de suicídio ao uso de agrotóxicos na cultura do tabaco é inconsistente”. Mesmo os agricultores recebendo orientações sobre o uso de equipamentos de segurança, há denúncias de que a ergonomia dos equipamentos favorece o contato dos agrotóxicos com o corpo, já que o veneno é carregado nas costas dos agricultores e, muitas vezes, escorre pelo corpo quando aplicado.

Danos físicos e psíquicos

Além dos danos psíquicos, o corpo dos agricultores é penalizado pelo uso de agrotóxicos. No mesmo estudo, a UFRGS mostrou que 67% dos agricultores têm a doença da folha verde do tabaco (DFVT). Ela é provocada por intoxicação decorrente do contato da pele com a folha úmida da planta. Os sintomas da doença são náusea, tontura, dor de cabeça, segundo o Ministério da Saúde. É muito comum os agricultores desmaiarem na lavoura enquanto estão trabalhando.

Segundo o psiquiatra Rafael Moreno de Araújo, coordenador do Comitê de Prevenção do Suicídio da Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul (APRS), a válvula de escape de muitos desses agricultores com problemas de saúde é o álcool, o que só faz agravar o quadro de depressão e o aumento de chances de suicídio. “É uma bomba-relógio”, alerta o psiquiatra sobre os fatores de risco a que os fumicultores são submetidos: genética, fatores histórico-familiares, estresse e intoxicação.

O estresse a que os agricultores estão expostos também vem da relação deles com a indústria do tabaco, a sua própria empregadora. Eles recebem apenas uma vez por ano e precisam organizar a renda para um ano inteiro. Essa situação cria uma dependência com as empresas pelas dívidas contraídas, que culminam, muitas vezes, em processos nos quais os fumicultores perdem as suas terras para elas. Além das dívidas, os produtores perdem o bem mais valiosos que têm, a sua própria terra, fonte de renda familiar e de laços culturais.

De acordo com Mateus Ferrari, advogado que trata dos casos de dívidas dos agricultores, a defesa deles perante as empresas é difícil porque a maioria tem baixa escolaridade, o que os colocam em uma posição de vulnerabilidade. As empresas os ameaçam dizendo que vão cancelar os pedidos e colocar o nome deles no SPC. “A gente tenta salvar as terras, mas não há como combater os contratos. Então, tentamos um acordo para que os agricultores consigam pagar”, conta Ferrari.

Além dos danos às vidas das pessoas envolvidas na agricultura e às dos consumidores, os agrotóxicos contaminam o meio ambiente e afetam a biodiversidade. Estudos afirmam que há uma ligação entre o uso de agrotóxicos e a morte de abelhas, importantes polinizadores e, por isso, fundamentais na produção de alimentos.

Mais um motivo para não fumar

Fumar é uma ação que põe em risco não só a sua saúde e a sua vida como a de milhares de pessoas próximas e distantes, que fazem parte de uma cadeia produtiva nem um pouco preocupada com a vida. A indústria do cigarro produz uma droga que só causa problemas ao mundo, logo não devemos apoiá-la. Diga não ao cigarro.

Especialmente indicado para você:

OMS: 5 AGROTÓXICOS CLASSIFICADOS COMO CANCERÍGENOS PARA OS SERES HUMANOS

POR QUE O CIGARRO É MAIS PERIGOSO DO QUE HÁ 50 ANOS? VEJA O QUE ESTÁ POR TRÁS DA SUA INDÚSTRIA

OS EFEITOS DO CIGARRO NOS BEBÊS DURANTE A GESTAÇÃO: IMAGENS DE ALTA DEFINIÇÃO




Gisella Meneguelli

É doutora em Estudos de Linguagem, já foi professora de português e espanhol, adora ler e escrever, interessa-se pela temática ambiental e, por isso, escreve para o greenMe desde 2015.


ASSINE NOSSA NEWSLETTER

Compartilhe suas ideias! Deixe um comentário...