Microcefalia: a batalha diária de mães de bebês com a doença


Os casos de mortes de bebês com microcefalia continuam a ocorrer no Brasil.

Não há números oficiais precisos que informem a dimensão dos casos de óbito e internação de bebês com a doença. É a partir da iniciativa de mães de bebês microcéfalos que registros informais estão sendo feitos através de grupos de apoio criados nas redes sociais, que reúnem mães de todo o país. Um desses grupos foi formado no WhatsApp, onde foram noticiadas, em apenas duas semanas, três mortes e cinco internações.

Em matéria sobre o tema, a BBC buscou os relatos dessas mães. Severina Carla da Silva, de 32 anos, viu sua filha, de 6 meses quase morta. Após a amamentação, a bebê desmaiou. “Ela ficou toda roxinha, ficou sem respirar e desmaiou. Aí eu me lembrei da massagem cardíaca e fiz. Foi quando ela voltou”, disse.

A filha de Severina tem microcefalia causada pelo vírus Zika. Dentre os problemas que ela apresenta está a crise respiratória, relacionada com lesões cerebrais, a qual, em alguns casos, pode levar à morte.

Severina agora sabe que crianças como a sua filha têm problema de deglutição. O que aconteceu com a bebê é que, durante a amamentação, ela broncoaspirou e o leite entrou no pulmão.

Os especialistas já sabem que isso pode acontecer. Problemas como a broncoaspiração (quando líquidos, alimentos ou até a saliva são aspirados para o pulmão ao invés de irem para o esôfago) são comuns em pacientes com microcefalia grave, que são cerca de 70% dos casos causados pelo vírus da zika.

Segundo explicação da neurologista Vanessa van der Linden, “quando você nasce, sucção e deglutição são reflexos. Nosso cérebro consegue fazer com que, na hora de comer, a gente pare de respirar, engula e volte a respirar. Se comemos e respiramos ao mesmo tempo, respiraremos o alimento. É o que acontece com essas crianças. À medida que o bebê vai ficando mais velho, ele começa a perder o reflexo e a ter que organizar isso usando o cérebro. Mas, quando ele tem um comprometimento neurológico, pode nascer mamando bem, mas a partir dos três ou quatro meses, deixa de coordenar essas funções”.

O primeiro ano de vida das crianças com microcefalia é o mais difícil, de acordo com a neurologista, porque é nesse período que os danos causados pelo vírus começam a ser descobertos por pais e médicos.

“O aparecimento dos sintomas da criança ocorre na medida em que o cérebro amadurece. Nesse início, ainda não se sabe exatamente tudo o que ela tem e fica difícil prevenir as crise. Depois do primeiro ano as complicações continuam, mas pelo menos já sabemos se a criança conseguirá comer pela boca, se precisa de sonda, etc. Sabemos o que se pode fazer para deixar a vida dela um pouco melhor”, diz Vanessa.

Outra sintoma que se manifesta nos bebês é a convulsão. O medo das mães que acompanham seus filhos aos hospitais é compartilhado nos grupos de apoio, o que afeta a todas. Se um bebê more, as mães sofrem e até entram em pânico, comenta Daniele Cruz, pediatra no IMIP, em Recife.

É natural que as mães sejam solidárias entre si, mas “não têm muita noção do risco que isso pode causar”, diz a fonoaudióloga Luciana Calabria, da AACD em Pernambuco. Fonoaudiologia e fisioterapia são tratamentos indicados para crianças que têm dificuldades de respiração. Calabria alerta que os pais devem estar atentos a algumas situações, que podem sinalizar que há algo errado:

– Se a criança tem dificuldades de respiração, fica “cansada” (ofegante) com frequência;

– Se costuma engasgar com alimentos e líquidos;

– Se tem dificuldades de pegar o peito da mãe ou de sugar a mamadeira;

– Se fica roxa durante a amamentação ou acumula saliva na boca;

– Se a criança fica gripada com muita frequência.

É importante alimentar a criança sentada ou o mais elevada possível, de forma que a cabeça fique alinhada ao tronco, pois isso diminui o risco de engasgo.

Esta semana, o Ministério da Saúde confirmou 1.581 casos de microcefalia e outras alterações do sistema nervoso no Brasil.

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Gisella Meneguelli

É doutora em Estudos de Linguagem, já foi professora de português e espanhol, adora ler e escrever, interessa-se pela temática ambiental e, por isso, escreve para o greenMe desde 2015.


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