“Cerca de 40% das meninas acabam deixando a escola por causa da menstruação, devido à falta de produtos de higiene íntima feminina”. Pobreza? Sim!
Muitas meninas em países pobres como Uganda deixam a escola quando se inicia seu momento de menstruar. Lhes faltam produtos adequados à higiene íntima que permitam sua frequência, falta também educação sobre o que é a menstruação, falta aceitação social para a realidade da menstruação como parte da vida feminina. Sim, são países pobres, com culturas muito diferentes da nossa e sem qualquer poder aquisitivo onde, um pacote de absorventes femininos custam o equivalente a um dia de trabalho.
Algumas culturas têm por tradição que a mulher deve se recolher a uma cabana, recanto só para mulheres, durante o período menstrual. Essa prática tem motivações higiênicas mas não só. Data de um tempo em que as mulheres sabiam que neste período do mês deveriam se resguardar de trabalhos pesados, do sol forte, das chuvas, dos frios, para manterem sua saúde e fertilidade. Nestas tendas ou cabanas de mulheres era comum a realização de rituais de oferecimento do primeiro sangue menstrual à terra, como uma oferenda de fertilidade. Isso há 5 mil anos ou mais.
Essas histórias você pode ler no livro de Anita Diamant “A Tenda Vermelha”, que conta a vida das mulheres da tribo de Jacó. História antiga, muito bonita. Na tenda vermelha as mulheres de uma tribo se reuniam, todas juntas, desde que começavam a menstruar. Lá aconteciam também os partos e o período de resguardo das que deram à luz.
Os filhos pequenos estavam junto com suas mães. E, interessante, em uma tribo, a época da menstruação se regulariza, quer dizer, todas as mulheres menstruam na mesma semana. E, nesse período, o menstrual, as mulheres cuidavam de si mesmas, umas das outras, ensinavam suas filhas, faziam seus rituais de fertilidade. Mas, com a industrialização as mulheres foram perdendo este direito, o de se recluírem durante “a semana da lua” – este e outros direitos foram sendo esquecidos em nome da necessidade de trabalharem sem descanso.
E aí começa a história da “Be Girls“- uma calcinha com fundo impermeável e um bolso de filó, que permite que as meninas coloquem seus “paninhos menstruais” sem medo que eles caiam ao chão ao menor movimento.
O engraçado é que, quando eu era menina, 50 anos atrás, existiam dessas calcinhas no mercado. Então a invenção não é nova. Só o designe é que é bem mais bonito. Este é o resultado do trabalho da designer Diana Sierra e seu sócio, Pablo Freund, que redesenharam a calcinha e a fabricaram. A calcinha é bonita, bem mais do que as antigas de que me lembro. Tem cores vivas, e rendas, super-feminina. O difícil é mudar a cultura mas, toda mudança passa por convencer as meninas de que esta é uma alternativa boa. Bem, nos dias de hoje, deve até ser pois, o capitalismo não pode prescindir do trabalho das mulheres durante uma 1 semana em cada mês. Mas, bom mesmo seria que o mundo entendesse que as mulheres precisam desse período de descanso, todos os meses. Isso sim é que seria ótimo.
20 mil exemplares foram já feitas da Be Girls e vendidas para ONGs que trabalham com ajuda às meninas de 13 países africanos. Atualmente, um programa piloto para uso das Be Girls está ocorrendo com a etnia Ticuna, na amazônia colombiana.
Talvez te interesse ler também:
DESIGN DE COMUNICAÇÃO PARA AJUDAR PESSOAS COM ALZHEIMER
CASA DE PAPELÃO: BARATA E SUSTENTÁVEL
EMPRESA CRIA ALTERNATIVA SAUDÁVEL ÀS TRADICIONAIS REDES DE FAST-FOOD
Fonte: BBC Mundo
Categorias: Saúde e bem-estar, Viver
ASSINE NOSSA NEWSLETTER