Psicose é uma palavra séria, infelizmente usada de maneira leviana por muitas pessoas. Dizer que alguém é psicótico é algo muito irresponsável, pois psicose é um transtorno mental grave que causa perda de contato com a realidade.
Em diversos livros, Sigmund Freud, o pai da psicanálise, descreveu alguns aspectos da psicose. Para ele, a psicose era uma “recusa da realidade”, um mecanismo de defesa de um ego que, incapaz de lidar com a realidade, se afasta dela e cria uma realidade própria.
J. Reid Meloy, psicólogo forense e professor de Psiquiatria na Universidade da Califórnia em San Diego, define a personalidade do psicopata baseando-se em Freud: o psicopata seria um sujeito com um narcisismo patológico – um egoísmo extremo – juntamente com um forte impulso agressivo. Ambas as características são alimentadas por uma ausência de ligação emocional com os outros, o vínculo que impede a maioria das pessoas de agredir fisicamente seus semelhantes. Um psicopata criminal, além de não reconhecer a dor do outro, não reconhece tampouco as regras da sociedade, pois rompeu com a realidade. Mas nem todos os psicopatas são criminosos, embora na construção da psicopatia, existam dois fatores comuns: as deficiências interpessoais e afetivas; e os desvios sociais. A psicopatia tem raízes em nosso desenvolvimento inicial como ser humano. Essa é uma teoria da corrente psicanalítica, muito aceita até hoje.
As Causas da Psicose
A psicose, marcada por uma ruptura com a realidade, possui raízes complexas e multifacetadas, envolvendo uma interação de fatores biológicos, psicológicos e sociais. Para uma compreensão completa, é crucial considerar a influência de cada um desses elementos, reconhecendo que a experiência individual é única e multideterminada.
Fatores Biológicos
- Genética: A hereditariedade desempenha um papel importante na psicose, com estudos demonstrando maior risco para familiares de pessoas com a condição. Mutações genéticas e alterações cromossômicas específicas também podem aumentar a suscetibilidade.
- Desenvolvimento Cerebral: Anormalidades no desenvolvimento cerebral, principalmente durante a gestação e a infância, podem influenciar o risco de psicose. Alterações na estrutura e função cerebral, como no hipocampo e nos lobos frontais, estão associadas à doença.
- Neurotransmissores: Desequilíbrios nos níveis de neurotransmissores, como dopamina, serotonina e glutamato, podem contribuir para os sintomas psicóticos. Alterações na sensibilidade e no funcionamento dos receptores desses neurotransmissores também são relevantes.
Fatores Psicológicos
- Traumas Infantis: Experiências traumáticas na infância, como abuso físico ou sexual, negligência, abandono e eventos estressantes, estão associados ao aumento do risco de psicose. A forma como o indivíduo lida com esses traumas influencia o desenvolvimento da doença.
- Apego Inseguro: Um vínculo afetivo inadequado com os pais ou cuidadores primários, principalmente nos primeiros anos de vida, pode contribuir para a psicose. A falta de segurança e confiança nas relações interpessoais pode fragilizar o ego e dificultar o enfrentamento de situações desafiadoras.
- Estresse: Eventos estressantes, como luto, perda de emprego, problemas financeiros ou sociais, podem desencadear ou agravar os sintomas psicóticos em indivíduos com predisposição. A capacidade individual de lidar com o estresse e a resiliência são fatores importantes.
Fatores Sociais
- Desigualdade Social: Condições socioeconômicas desfavoráveis, como pobreza, falta de acesso à educação, moradia precária e violência, estão associadas ao aumento do risco de psicose. A exclusão social e a falta de oportunidades podem contribuir para o desenvolvimento da doença.
- Discriminação: Pessoas marginalizadas ou discriminadas por sua etnia, orientação sexual, religião ou outros fatores podem ser mais propensas à psicose. O sentimento de isolamento, exclusão e sofrimento social pode ser um fator de risco importante.
- Abuso de Substâncias: O uso de drogas e álcool, especialmente na adolescência, pode aumentar o risco de psicose em indivíduos com predisposição. O uso abusivo de substâncias pode alterar o funcionamento cerebral e desencadear ou agravar os sintomas psicóticos.
Sintomas da Psicose
Antes de tudo, lembre-se: A experiência da psicose varia de pessoa para pessoa. Os sintomas podem ser leves ou graves. Procure ajuda profissional se você ou alguém que você conhece apresentar esses sintomas.
Pensamento
- Confuso e desorganizado.
- Dificuldade de concentração e memória.
- Fala incoerente.
Percepção
- Alucinações (ver, ouvir, sentir coisas inexistentes).
- Delírios (falsas crenças).
Emoção
- Mudanças bruscas de humor.
- Sensação de estranhamento e isolamento.
- Depressão ou ansiedade.
Comportamento
- Agitação ou letargia.
- Comportamento inapropriado ou estranho.
- Agressividade.
Tipos de Psicose
Esquizofrenia
- Tipo mais comum.
- Alucinações, delírios, pensamentos desorganizados, sintomas negativos (apatia, anedonia).
Transtorno Bipolar
- Episódios de mania (euforia) e depressão.
- Pode haver psicose durante a mania ou depressão.
Transtorno Delirante
- Delírios persistentes por pelo menos 1 mês.
- Sem outros sintomas psicóticos.
Transtorno Psicótico Breve
- Sintomas psicóticos graves por pelo menos 1 dia e menos de 1 mês.
Outras
- Psicose induzida por drogas, psicose orgânica, psicose pós-parto, etc.
Lembre-se
O diagnóstico preciso é crucial para o tratamento adequado. Consulte um profissional de saúde mental para avaliação e acompanhamento.
As Fases da Psicose
©David Werbrouck/Unsplash
Fase Prodrômica
- Sinais sutis e inespecíficos, como mudanças na percepção, humor e comportamento.
- Dificuldade de concentração, desmotivação, humor deprimido, distúrbios do sono, ansiedade, retraimento social, etc.
- Suspeita, declínio no funcionamento, afastamento de amigos e familiares, crenças estranhas.
Fase Aguda
- Início dos sintomas psicóticos francos: Alucinações (ver, ouvir, sentir coisas inexistentes).
- Delírios (falsas crenças irreais).
- Pensamentos confusos e desorganizados.
- Grande angústia e sofrimento para o indivíduo.
- Comportamento estranho e inapropriado.
Fase de Recuperação
- Com tratamento adequado, a maioria das pessoas se recupera do primeiro episódio psicótico.
- Possibilidade de não ter outros episódios.
- A psicose é uma doença tratável e a ajuda profissional precoce é crucial para a recuperação.
- Alguns sintomas da fase aguda podem persistir inicialmente, mas muitas pessoas se recuperam com sucesso.
Tratamentos
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Medicamentoso
- Antipsicóticos: controlam os sintomas psicóticos (alucinações, delírios).
- Antidepressivos e ansiolíticos: podem ser usados para tratar sintomas depressivos e ansiosos.
Terapia
- Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC): ajuda a identificar e modificar pensamentos distorcidos e comportamentos disfuncionais.
- Terapia Familiar: ajuda a melhorar a comunicação e o relacionamento entre os membros da família.
- Psicanálise: ajuda a compreender as raízes inconscientes da psicose e fortalecer o ego.
Intervenção Precoce
É fundamental para o melhor prognóstico. O tratamento precoce pode prevenir o agravamento dos sintomas e a cronificação da doença.
A Importância da Perspectiva Psicanalítica
A psicanálise busca compreender a psicose a partir do desenvolvimento inicial do indivíduo, focando nas relações interpessoais e nas experiências vividas na infância. A formação do ego, a capacidade de lidar com frustrações e conflitos, e a construção da realidade psíquica são aspectos importantes nessa perspectiva.
- Relações Primárias: A qualidade das relações com os pais ou cuidadores primários é fundamental para o desenvolvimento emocional e mental da criança. A falta de afeto, a negligência, o abuso e a violência podem gerar traumas que fragilizam o ego e aumentam o risco de psicose.
- Conflitos Internos: A psicanálise reconhece a existência de conflitos inconscientes que podem influenciar o desenvolvimento da psicose. A dificuldade de lidar com esses conflitos e a repressão de conteúdos emocionais podem contribuir para a ruptura com a realidade.
- Mecanismos de Defesa: A psicose pode ser vista como um mecanismo de defesa extremo do ego, utilizado para lidar com a angústia e o sofrimento psíquico. A recusa da realidade, a projeção e o delírio podem ser mecanismos utilizados para proteger o ego de uma realidade insuportável.
Lembre-se:
- A psicose é uma doença complexa, mas com o tratamento adequado e apoio, as pessoas com psicose podem viver vidas plenas e produtivas.
- A psicanálise pode ser uma ferramenta valiosa para o tratamento da psicose, especialmente quando combinada com outras formas de terapia.
Importante!
Este resumo é apenas informativo. Consulte um profissional de saúde mental para um diagnóstico preciso e tratamento adequado.
Links úteis
Fontes:
- A Psychoanalytic View of the Psychopath
- Yale School of Medicine
- National Institute of Mental Health
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