Cresce o movimento da desprescrição contra o abuso de remédios


O jornal The Economist trouxe um tema muito importante para a sociedade hiper medicamentada que vivemos hoje.

Pesquisas, revisões científicas e dados mostram que o excesso de medicação se tornou um problema significativo, levando a um movimento crescente na direção oposta. Muitas pessoas estão tomando um número excessivo de pílulas, e os sistemas médicos geralmente estão focados em prescrever mais medicamentos em vez de descontinuá-los.

Estudos revelaram que uma porcentagem significativa da população em países desenvolvidos toma cinco ou mais medicamentos prescritos por dia. Esse número tende a aumentar com a idade, uma vez que os idosos costumam ter mais condições de saúde. No entanto, nem todos esses medicamentos são benéficos, e alguns podem até ser prejudiciais. Revisões científicas revelaram que pelo menos 10% das prescrições médicas podem ser consideradas inadequadas.

O fenômeno conhecido como “polifarmácia” tem um impacto negativo na saúde. Estudos demonstraram que quase um em cada cinco internamentos hospitalares ocorre devido a reações adversas a medicamentos. O uso excessivo de medicamentos poderia resultar em mais de 150.000 mortes prematuras e 4,5 milhões de internamentos hospitalares nos Estados Unidos até 2030, de acordo com estimativas de um instituto de pesquisa americano.

O movimento da desprescrição médica

No entanto, uma mudança está ocorrendo gradualmente. Profissionais da saúde, como médicos, farmacêuticos e enfermeiros, estão estabelecendo redes de “desprescrição médica” para conscientizar sobre o problema. Alguns países já implementaram planos para reduzir a prescrição excessiva, e conferências internacionais sobre o assunto estão sendo realizadas.

O uso excessivo de medicamentos traz vários problemas para os pacientes. Além das questões logísticas, como organizar e lembrar de tomar todos os medicamentos, há também problemas médicos diretos. Alguns pacientes acabam tomando vários medicamentos que afetam a mesma via biológica, o que pode resultar em sobredosagem. Além disso, o uso excessivo de medicamentos pode levar a interações prejudiciais entre eles.

Efeito cascata

As consequências são ainda mais graves nos idosos, cujo organismo tem uma capacidade reduzida de metabolizar os medicamentos. Doses erradas podem causar efeitos colaterais graves em idosos, como confusão mental, tremores ou quedas, que muitas vezes acabam sendo confundidos com Parkinson ou demência senil e lá vão mais medicamentos. Esse fenômeno é chamado de “cascata de prescrição”, que ocorre quando a prescrição excessiva se torna auto-reforçada.

Infelizmente, os idosos são frequentemente excluídos de ensaios clínicos, dificultando a determinação das doses adequadas e dos efeitos colaterais para essa população.

Existem várias razões pelas quais o uso excessivo de medicamentos persiste. A publicidade excessiva de medicamentos nos Estados Unidos é apontada como um fator, assim como a falta de registros de saúde unificados. Muitas vezes, médicos desconhecem quais medicamentos outros profissionais prescreveram para uma mesma pessoa, pois contam apenas com o relato do paciente.

Muitos medicamentos poderiam ser desprescritos. Por exemplo, em vez de anti-depressivos, prescrever atividade física. É claro que cada caso é um caso, mas a questão é que o excesso de medicamentos pode causar mais danos que benefícios, até porque existem poucos estudos sobre interação medicamentosa e efeitos colaterais, quando as possibilidades de combinações de remédios são infinitas.

Em outras palavras, como saber qual remédio pode ter feito mal quando se toma 5 pílulas por dia? Será que precisamos de um remédio para dormir, outro para acordar, um para se manter em pé e um outro para relaxar acordado? O quinto é para tirar as dores gerais da vida e, como este último não funciona, vem aí o sexto.

O que você acha desse movimento?

Leia aqui na íntegra o artigo Too many people take too many pills Medical systems are set up to put people on drugs, not take them off publicado no The Economist.

Talvez te interesse ler também:

A Medicina Tradicional Indígena e os Remédios do Mato

Remédios naturais contra vícios e dependência química

Medicina Tradicional Chinesa: Origem, Benefícios e Fundamentos




Daia Florios

Cursou Ecologia na UNESP, formou-se em Direito pela UNIMEP. Estudante de Psicanálise. Fundadora e redatora-chefe de greenMe.


ASSINE NOSSA NEWSLETTER

Compartilhe suas ideias! Deixe um comentário...