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Os Jogos Olímpicos de Tóquio, antes mesmo de começarem, trouxeram muita polêmica e insegurança por causa da pandemia.
Tanta pressão sobre os atletas talvez tenha contribuído para repercutir o tema da saúde mental e tantos outros importantes para as sociedades contemporâneas, como a sensualização dos corpos das atletas e a representatividade negra e LBTQIA+.
O esporte é comumente associado à saúde física e mental. Entretanto, para os atletas de ponta essa equação está longe de ser perfeita devido à pressão psicológica que sofrem para superar a si mesmos e seus adversários em competições.
Confira alguns dos temas sociais fundamentais que foram, e que estão sendo levantados nas Olimpíadas de Tóquio.
Não bastassem as pressões por desempenho, as desigualdades sociais acompanham inúmeros atletas que não têm recursos financeiros próprios, nem patrocínio.
As adversidades na carreira da ginasta brasileira Rebeca Andrade, que ganhou o ouro no salto de ginástica artística e a prata no individual geral, revelam o quanto questões de classe e raça são obstáculos para os atletas. Ainda assim, Rebeca conseguiu superá-los para tornar-se a primeira brasileira a vencer duas provas na mesma edição dos Jogos Olímpicos.
É maravilhosa a sua vitória mas é preciso parar de romantizar e entender que ela é um caso raro. Muitas Rebecas poderiam nos representar se o Brasil valorizasse o esporte.
O mesmo aconteceu com Ítalo Ferreira, cheio de fé, o atleta conseguiu ouro no surfe depois da epopeia que é a sua própria vida. Ele aprendeu a surfar com caixa de isopor.
As vitórias no Brasil acabam sendo as exceções que confirmam o mito do brasileiro que nunca desiste. Em vez disso, as vitórias deveriam fazer com que as autoridades entendessem que somos vencedores potenciais, se esporte e educação fossem prioridades ou se tivessem mais apoio.
Outro exemplo vem da ginasta estadunidense Simone Biles, uma das atletas mais premiadas de todos os tempos, que levantou a bandeira da saúde mental em Tóquio.
Sendo favorita para ganhar uma medalha, Biles bravamente retirou-se das finais femininas da ginástica por sentir-se pressionada e insegura. Ela ficou de fora de duas competições para cuidar de si, já que desde a infância vem sendo submetida a enorme pressão e estresse para tornar-se uma atleta de alta performance.
Em uma reportagem à CNN americana, Biles explicou a sua decisão abrupta:
“Sempre que você entra em uma situação de alto estresse, você meio que enlouquece. Tenho que me concentrar na minha saúde mental e não colocar em risco minha saúde e bem-estar. Temos que proteger nosso corpo e nossa mente. É uma merda quando você está lutando com sua própria cabeça.”.
Segundo a Exame, Biles não está sozinha: um estudo realizado durante cinco anos com atletas universitários da National Collegiate Athletic Association, uma organização com mais de 400.000 universitários esportistas nos Estados Unidos, mostrou que 23% deles apresentaram prevalência de sintomas depressivos e 6% mostraram sintomas considerados moderados a graves, índices que mostram um padrão acima do da população em geral.
Uma atleta olímpica que abordou, também, o tema da saúde mental foi a estadunidense Raven Saunders. A arremessadora de peso que ganhou a medalha de prata subiu ao pódio graças a uma mensagem de sua psicóloga, há cerca de três anos, que a impediu de cometer o suicídio.
Negra e homossexual, Saunders conta que teve uma crise de saúde mental no início de 2018 que quase a levou a tirar a própria vida. Conhecida como Hulk, a atleta recebeu a medalha fazendo um gesto de protesto em formato de X com os braços, que significa “o cruzamento onde todas as pessoas oprimidas se encontram”, informa a Folha de S. Paulo.
Além do tema da saúde mental, representado pelo uso de uma máscara de proteção contra a Covid-19 com um sorriso da personagem Coringa, Raven levantou a bandeira da diversidade nas Olimpíadas de Tóquio. Ela mandou
“Um salve para meu povo negro. Um salve para toda a minha comunidade LGBTQ. Um salve para todo o meu povo que lida com saúde mental”.
A importância de falar de diversidade de gênero foi atualizada durante os Jogos. A arqueira sul-coreana An San, que bateu um recorde olímpico e conquistou três medalhas de ouro nesta semana, foi alvo de misoginia por causa de seu corte de cabelo curto. Segundo o jornal espanhol El Pais, a atleta foi insultada, em grupos de redes sociais, por homens sul-coreanos que exigiram que a jovem de 20 anos devolvesse seus títulos olímpicos. Ela foi atacada de feminista, por estudar em uma universidade somente para mulheres na Coreia do Sul.
A reação veio como flecha: milhares de sul-coreanas condenaram os ataques e uma campanha online fez um apelo à Associação Coreana de Tiro com Arco para que proteja a atleta e jamais a obrigue a se desculpar, no caso, por ser mulher!
As Olimpíadas de Tóquio está sendo marcada pela diversidade, já que 142 atletas LGBTQIA+ estão participando da competição, um recorde. Em 2016, elxs eram 56 e, em 2012, apenas 23, informa o site Gênero Número.
No caso das mulheres trans, por exemplo, as novas regras do Comitê Olímpico Internacional (COI) prevê que elas devem permanecer ao menos um ano com os níveis de testosterona dentro do limite estabelecido pela entidade, o qual deve ser mantido durante todo o período de competições, sob pena de suspensão. Somente após aquele prazo é que elas estão aptas a participar das disputas.
Como disse Raven após a sua vitória no arremesso, seus gestos foram para dar visibilidade a “pessoas de todo o mundo que estão lutando e não têm plataforma para falar por si mesmas”.
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Categorias: Esporte e Tempo Livre
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