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Rafaela Silva é uma mulher cuja história deve inspirar todos nós, brasileiros. Sobretudo, neste momento, em que parecem faltar bons exemplos que nos mostrem um pouco de luz.
Rafaela é judoca e conquistou todos os prêmios importantes da modalidade. Campeã mundial sub-20 em 2008, mundial adulta em 2013, mundial militar em 2015, olímpica em 2016 e pan-americana em 2019. Mas a principal luta dela, por muito tempo, foi contra o preconceito. A judoca sofreu racismo, por ser negra, e muitas críticas durante os Jogos de Londres, em 2012, quando ouviu insultos ao ser derrotada no tatame.
A atleta é originária da Cidade de Deus, favela carioca. Ao Jornal O Dia, ela conta sua alegria em poder compartilhar as suas conquistas com a sua comunidade:
“É muito bom para as crianças (de lá) assistirem agora ao judô. Se eu puder ajudá-las com esse resultado, mostrar que uma criança que saiu da Cidade de Deus, que começou no judô por brincadeira e hoje é campeã olímpica, isso é inexplicável. Se elas têm um sonho, elas têm que acreditar, porque esse sonho pode se realizar.”
Entretanto, sabemos que, no Brasil, para tornar-se um atleta é tão difícil que muitas pessoas com potencial não conseguem percorrer o caminho para alcançar esse objetivo.
É claro que uma medalha conquistada por Rafaela é um motivo de orgulho que precisa – e muito – ser valorizado, mas é necessário que nós não caiamos no engodo da retórica da meritocracia. Naturalmente, a atleta precisou de muito garra, persistência, força de vontade para realizar o seu sonho.
Mas, se houvesse políticas públicas que, de fato, desenvolvessem as habilidades promovidas pelo esporte, bem como fossem um motor de oportunidades para aqueles jovens que poderiam, através dele, ter uma porta para sair da rota da violência, Rafaela não seria uma exceção.
Meritocaria quer dizer “o poder do mérito”, ou seja, a retórica meritocrática pressupõe que todas as pessoas saem do mesmo ponto de partida. O parâmetro da meritocracia é o esforço individual, como se todos partíssemos das mesmas condições de igualdade – mas sabemos que isso não é verdade.
Logo, é fundamental discutir a relação indivíduo e estrutura. Não se podem minimizar os condicionamentos sociais, culturais, de gênero, políticos e econômicos, como se todas as pessoas tivessem nascido sob as mesmas condições e por, mérito próprio, cada um pudesse conseguir o que quer.
Outra questão que envolve a meritocracia é que ela coloca o mito de que com o esforço individual tudo se pode. Ou seja, aquele que se esforça, em algum momento, conquista o seu prêmio. Mas quantas pessoas lutam e se esforçam e não conseguem “triunfar” por causa da estrutura social em que se encontram? Ao nosso redor, há dezenas de pessoas que conhecemos que se esforçam há anos e parecem não sair do lugar. Será que esse problema é mesmo só delas?
Não podemos confundir os prêmios de Rafaela com meritocracia. Ela é uma exceção a uma regra muito cruel, a regra da falta de oportunidades para a maioria da população brasileira que não é contemplada por políticas sociais concretas.
Por isso mesmo, os prêmios de Rafaela devem ser muito comemorados e valorizados, porque, além do esforço dela como atleta, essa mulher foi capaz de driblar todos os desafios de uma vida cujas oportunidades não estavam dadas para ela.
Rafaela é ouro em tudo!
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Fonte foto: Reuters-GloboEsporte
Categorias: Esporte e Tempo Livre, Viver
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