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Capoeira é de Angola, hê, hê. Capoeira é de Angola, Angolá!
Angola, hê, hê, Angola êh, Angolá!
Vamos falar da capoeira de Angola?
Mestre Pastinha Fonte foto: farm3.staticflickr.com
Capoeira de Angola, a mãe da capoeira para muitos (ou todos) os que praticam essa luta-dança brasileira, é fundamentada em movimentos primitivos, tanto das culturas negras que aportaram ao Brasil durante a escravidão, quanto das culturas indígenas nativas que, dançando, lutavam e jogavam. Porém, de onde veio a Capoeira, se índigena e africana, se só africana, isso é controvérsia de academia pois, sendo de onde seja, é brasileira de nascida, criada e florescida.
Fonte foto scielo.br
Mas, os fundamentos da Capoeira, seus passos que imitam movimentos de animais em auto-defesa e ataque, tem muito parecido com um jogo africano, o N’Golo ou Jogo da Zebra, um ritual bantu de passagem para a vida adulta, que era jogado pelos meninos na senzala, como conta o vídeo que segue:
Ao Jogo da Zebra foram incorporados outros passos, golpes como o “Rabo de Arraia”, deixando de ser a zebra o único animal instrutor.
Neste jogo de mandinga – malícia e malandragem – que fortalece a busca do afro-descendente por justiça, igualdade e liberdade é o que nós conhecemos como Capoeira, palavra, no entanto, de origem tupy e que quer dizer “mato ralo, rasteiro”.
A Capoeira de Angola é reconhecida como a capoeira mãe, aquela que preserva os princípios mais antigos e também os rituais. Se atribui sua sistematização a Mestre Pastinha, que viveu entre 1889 e 1981 e deixou inúmeros mestres formados.
Fonte foto: www.capoeiradobrasil.com.br
E, como conta Mestre Pastinha no vídeo abaixo, ele, menino, aprendeu a jogar com um “africano” que lhe ensinou um jogo mais baixo, mais lento. Mas isso aqui, no Brasil.
Capoeira é batuque, afoxé, berimbau, triângulo, reco-reco e outros instrumentos variados (até viola pode ter na roda) uma roda de gente que fecha, no seu centro, os que vão jogar (ou se enfrentar em luta, se for o destino).
Fonte foto: i1.wp.com/portalcapoeira.com
O ritmo é marcado pelo berimbau a partir da metade do século XIX e, segundo a historiadora da USP, Rosângela Costa Araújo, fundadora do Grupo Nzinga de Capoeira-Angola: “O berimbau é a alma dessa mistura de dança e arte marcial, definindo tanto os movimentos quanto o ritmo”.
Antes, dizem os pesquisadores, era na palma da mão e, quem sabe, com algum atabaque de pequeno porte. Assim dizem, porém, também se sabe que, nas rodas de jogos (capoeira?) das senzalas, o berimbau já lá estava.
Hoje, na capoeira, o berimbau abre o jogo, as saudações, e comanda o andamento conforme as ordens do mestre – gunga, médio e viola são os três que se duelam em ritmo e som nas mãos de bons tocadores, cada qual com sua função.
Fonte foto: capoeiraaltoastral.files.wordpress.com
Eu vou lê o B-A-BA
Eu vou lê o B-A-BA
O B-A-BA do berimbau
A cabaça e o caxixi
E um pedaço de pau
A moeda e o arame, colega velho
Está aí um berimbau
Berimbau é um instrumento
Tocado de uma corda só
Pra tocá São Bento Grande
Toca angola em tom maior
Agora acabei de crê, colega velho Berimbau é o maior, camará
Capoeira já é matéria na educação básica brasileira, estudo rotineiro para quem quiser mais e melhor aprender os fundamentos do brasileiro, segundo o projeto de lei aprovado, o ensino da capoeira deverá ser integrado à proposta pedagógica das escolas.
Fonte foto: blogspot.com
E, bem merecidamente, “a roda de capoeira foi reconhecida como Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO (2014) e tem registro como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil, outorgado pelo Iphan (2008).”
CAPOEIRA ME MANDOU, DIZER QUE JÁ CHEGOU, CHEGOU PARA FICAR…
Falando sobre nossas danças de raízes em um artigo anterior: DANÇAS FOLCLÓRICAS DO BRASIL! DANÇAS, ORIGENS, ROUPAS E VÍDEOS lembrei da Dança de Roda, situação que está intrinsecamente unida à capoeira pois, manifestação cultura feminina do mesmo povo e mais ainda, uma consequência de um jogo que, muitos anos proibido por lei, era transformado em festa.
Se a capoeira, dança e luta, está sempre armada, o samba de roda é seu esconderijo mais perfeito
Desde 2008 o samba de roda baiano, tradicional, é considerado Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco
“É na palma da mão, é na planta do pé, que a marcação se faz no ritmo do batuque do coração – essa é a base rítmica do samba de roda, uma roda dançante, de mulheres, acompanhada pelo som do berimbau, dos atabaques, do agogô, do xequerê e do ganzá. Mas, basicamente, o ritmo se dá na palma da mão, movimento imprescindível para a manipulação da energia individual.”
Para mim, o samba de roda e a capoeira, muito mais do quê patrimônios culturais representam a alma do povo que louva seus deuses, as forças originais, os orixás que vieram de África, os deuses das matas indígenas, a maré, as ondas e os peixes, a luz do Sol e o brilho da Lua – parte da alma brasileira.
Não é difícil – tá certo, também não é fácil – requer um certo “sei lá o quê”, dom, talvez, ou intenção. Tocar o berimbau, que é instrumento de dança, que não é de uso ritualístico, não é só uma questão de musicalidade – mexe com as energias, as do tocador e as da roda que o cerca. Dá-se o mesmo com o atabaque, com certeza.
Mas, para aprender a tocar berimbau tem muito jeito aqui com o Contramestre Baiano Caxixi numa aula prática, bem explicadinha, fácil de se entender. O difícil, no entanto, é chegar lá: no ritmo que muda conforme a energia da roda puxa e pede.
E que também ensina, passo a passo, como fazer o seu berimbau (o certo é cada tocador fazer o seu pois, quando o faz já o impregna da sua energia, o axé)
Angola dança rente ao chão (a diferença de outros tipos que são mais altos) com toda a diversidade que se pode ver nesse mix gravado na Praça da República, em dia de Ogum
A mamãe da capoeira, Yemanjá, e nosso pai Oxalá, canta o mestre quando puxa o ponto de abertura do jogo, avisando que é prá jogar devagar, prá ninguém se machucar, pois todos somos irmãos – essa é a capoeira, Angola, festejando Ogum.
A ginga do Mestre Cobra Mansa nesse documentário:
A sinceridade humilde de Mestre Moreno que toca Angola Nagô na Zona Leste de São Paulo
Três filhos que jogam Angola resulta nessa “apreciação afetiva” do que é a Capoeira de Angola cujos pontos ressoam na memória, nas entre rodas de mandinga.
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Categorias: Esporte e Tempo Livre, Viver
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