O escritor e jornalista americano Richard Louv é um defensor ferrenho da importância do contato com a natureza para o desenvolvimento humano. Em uma entrevista ao jornal espanhol El País, afirmou categoricamente: crianças que brincam ao ar livre e se sujam na terra são mais capazes de lidar com a vida.
Autor de livros como A Última Criança na Natureza, Louv dedica-se aos efeitos prejudiciais da desconexão com a Terra para a saúde. Há uma década, ele começou a pesquisar o assunto, viajou pelos Estados Unidos e acompanhou os hábitos de 3.000 mil famílias americanas. A partir desse trabalho, pôde verificar a ausência de contato com ambientes naturais, cada vez mais agravada entre as novas gerações, e documentou seu impacto para a saúde física e mental de crianças e adultos.
É de sua lavra a expressão “déficit por natureza“, que, embora não possa ser considerado um termo médico, refere-se aos efeitos negativos provocados pelo afastamento da natureza. E quais seriam eles?
“Redução da criatividade, da capacidade de admiração, de estímulos físicos, da capacidade de aprender através da experiência direta. Esses são complementados pela ausência dos efeitos positivos propiciados pelo contato com o meio ambiente, sobre os quais há um crescente corpo de evidências.
Várias pesquisas relacionam esse contato a uma redução dos transtornos de déficit de atenção, estresse e depressão, e até mesmo a um melhor desenvolvimento cognitivo. Além de ser, logicamente, um importante antídoto contra a obesidade. Lembro que há cerca de dez anos havia cerca de 20 estudos sobre o assunto.
Hoje, existem mais de 500″, afirmou Louv ao El País, na entrevista concedida em junho do ano passado.
Por outro lado, crianças que brincam ao ar livre aprenderiam a cooperar, a desenvolver a imaginação, a introspecção e a reflexão.
Na opinião do escritor, a disseminação do medo, potencializada pelo noticiário, aumentou a sensação de insegurança e despertou nos pais o instinto de proteger seus filhos, mantendo-os mais dentro de casa, restritos aos brinquedos eletrônicos. Para ele, aliás, a popularização da tecnologia é um fator chave para a desconexão com o ambiente natural. Reequilibrar o jogo, então, seria missão de pais e educadores:
“Quanto mais tecnológicas nossas vidas se tornam, mais natureza precisamos na equação. É uma questão de tempo e dinheiro. Por exemplo, se uma escola investiu X dólares em computadores e sistemas de realidade virtual, teria que investir pelo menos outro X na promoção de experiências reais, no mundo real, particularmente no mundo natural. Se fizermos isso, as crianças ficarão bem. É uma questão de equilíbrio, não de proibição”.
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