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Um dia você nota que seu filho ou filha gosta demais de brincar de bater. Seja com espadas, armas de brinquedo, ou mesmo competindo, fica claro a predileção dele ou dela por esse tipo de brincadeira. Nesse momento, acende-se o alerta: será que isso é bom ou ruim para a criança? Brincar de luta, por exemplo, pode ser um convite à violência ou tem efeito contrário?
Essas são dúvidas muito comuns na cabeça dos pais, e elas fazem todo sentido. Ninguém quer criar uma criança violenta, que, posteriormente, vai levar esse comportamento combativo para a vida adulta.
Portanto, saiba abaixo se há ou não motivos para se preocupar com essas brincadeiras e o que fazer.
Não há como ignorar que a agressividade é inerente ao ser humano.
Sentimentos como raiva, competitividade e dificuldade de lidar com frustrações são comuns em todas as fases da vida. Porém é na infância, quando o amadurecimento cognitivo está em formação, que comportamentos agressivos devem ser melhor trabalhados, pois é nessa fase que a criança aprende a lidar com seu mundo interior.
O maior pico de agressividade, segundo estudiosos, é entre 2 e 3 anos. Depois disso, ele vai decrescendo até a fase escolar.
Embora seja comum, o excesso no uso de violência vai acompanhar cerca de 5 a 10% das crianças na infância e depois na adolescência.
Existem uma série de fatores que influenciam na forma como a criança vai vivenciar a própria agressividade, que vão desde como foi a gestação da mãe, se bebeu, ou fumou, se passou por problemas emocionais, até mesmo viver em áreas mais carentes, ter pais que reproduzem comportamentos violentos em casa, etc.
Vale lembrar que os adultos mais próximos da criança vão se tornar o modelo de vida dela, de certa forma. Além disso, é comprovado que meninos tendem a ser mais agressivos que as meninas, também por sofrerem uma pressão cultural desde cedo para serem mais combativos.
Embora pareça que brincar de combater, guerrear ou mesmo jogar um jogo mais agressivo possam estimular ainda mais a agressividade infantil, na realidade, há quem diga que o que ocorre é exatamente o oposto.
Segundo a psicanalista Monica Seincman, coordenadora do Núcleo de Psicanálise com Crianças do Centro de Estudos Psicanalíticos (CEP), a dramatização da violência em forma de brincadeira ajuda no desenvolvimento infantil, na medida em que leva para o lúdico o que “não pode ser feito na realidade”. Com isso, as crianças aprendem que existe um terreno de faz de conta e outro de vida real, e aprendem a controlar os ímpetos de agressividade que todo mundo tem, na medida em que descarregam as raivas e as frustrações em um ambiente permitido.
O controle da raiva é aprendido, em grande parte, pelos adultos que cuidam dessa criança. São eles que vão direcionar esses sentimentos e ensinar os pequenos que existem comportamentos não aceitáveis na vida em sociedade. Ademais, vale lembrar que o termo violência vem do latim “volere”, que significa querer. Ou seja, dentro de todo comportamento violento, existe um desejo, muitas vezes, uma frustração. O mais importante, nesse caso, é saber direcionar esse querer, ajudando a criança a lidar com esses sentimentos de uma forma positiva.
Existem algumas formas de ajudar as crianças a aprenderem a lidar com a violência interna, sem que elas se tornem adultos agressivos.
Algumas dessas medidas são:
– Começar desde cedo, dos primeiros anos de vida a ensinar a criança a lidar com as emoções, explicando os sentimentos, dando nomes; orientando-as, por exemplo, a aprenderem a respirar profundamente para “acalmar” a mente;
– Assim que a criança aprende a falar, os pais ou responsáveis devem ensinar a elas que a agressão física não é o melhor caminho para demonstrar contrariedade, e que para isso ela precisa falar sobre o que está sentindo;
– Ensine a criança a reconhecer os próprios sentimentos e a controlá-los, seja com técnicas de respiração, conversando ou mesmo deixando-a quieta para que ela se acalme;
– Os pais devem sempre supervisionar as brincadeiras das crianças, principalmente quando envolverem aparatos tecnológicos, como TV e tablets;
– É importante mostrar calma mesmo quando as crianças estão no auge da agressividade. Além disso, evite gritar, bater ou reprimir. A criança se espelha nos pais e pode reproduzir o que vê em casa;
– Discipline amorosamente, ensinando a criança a pedir desculpas, mostrando o porquê daquele comportamento não ser aceitável e que toda ação tem uma consequência;
– Encoraje a criança a ser uma pessoa tranquila, fazendo as pazes, cooperando a ajudando o próximo;
– Ensine a criança que existem limites entre o real e o faz de conta e que muitas brincadeiras só devem existir na vida “de mentirinha”;
– Aproveite a oportunidade para aprender a ser uma pessoa mais calma também, pois isso certamente só vai fazer bem para todos em volta, incluindo a criança.
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