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Embora hoje em dia os jovens tenham várias fontes de acesso à informação, um tema importante parece não estar sendo discutido entre a juventude brasileira: a importância do uso do preservativo.
Uma recente pesquisa realizada pela Pense (Pesquisa Nacional de Saúde Escolar) e publicada pelo IBGE mostrou que, no ano de 2015, 33,8% dos adolescentes entre 13 e 17 anos com vida sexual ativa não fez uso da camisinha na última transa – o índice, além de elevado, é nove pontos percentuais a mais do que em 2012.
Não é por falta de alerta da importância do uso de preservativo para evitar Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs) ou uma gravidez indesejada, já que são várias as justificativas dos jovens para não fazer da camisinha um hábito durante a prática sexual.
De acordo com a UOL, a pesquisa do Ministério da Saúde apontou que 9 em cada 10 jovens de 15 a 19 anos têm informações sobre a camisinha ser o melhor método para evitar o HIV, mas 6 em cada 10 desses adolescentes não fizeram uso de preservativo em suas relações sexuais no último ano.
O dado é ainda mais alarmante porque aqueles que são mais jovens e iniciam a sua vida sexual precocemente não têm dado a devida atenção para o uso do preservativo.
As justificativas dos jovens sobre o não uso da camisinha se alternam entre esquecimento, falta de preocupação e/ou informação e descuido.
A TV continua sendo um veículo de comunicação de massa, mas os jovens cada vez ligam menos a TV e estão conectados com o mundo através dos seus celulares. Seria o momento de o poder público diversificar as campanhas informativas para outros meios de comunicação e suportes para atingir o público mais jovem. A escola, nesse sentido, também tem um papel fundamental para esclarecer os jovens sobre a importância do uso do preservativo.
A diretora do Departamento de Infecções Sexualmente Transmissíveis, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, Adele Benzaken, diz que: “O mundo e as conversas mudaram, as campanhas pelo uso da camisinha têm que evoluir“. Ciente disso, o Ministério da Saúde vem tentando modernizar o diálogo com a população desde as Olimpíadas e as Paraolimpíadas, realizadas no Rio de Janeiro, em 2016, através do aplicativo de paquera “Hornet”, onde puderam ser encontradas respostas sobre prevenção, diagnóstico e tratamento de DSTs.
A editora-executiva da Agência Aids, Roseli Tardelli, chama a atenção para o “sumiço” das campanhas alertando sobre a Aids e demais DSTs. Segundo ela, “falta usar mais essa criatividade nas campanhas. Tem que ser menos careta, mais frequente. As campanhas estão sumindo e o jovem não percebe a vulnerabilidade que tem”.
O Brasil, após o “boom” de contaminação do HIV nas décadas de 1980 e 1990, fez importantes campanhas educativas sobre o problema, além de ter combatido a doença com um programa que inspirou muitos países do mundo. Os jovens de hoje não vivenciaram esse momento e muitos de seus ídolos não morreram por causa da Aids, como os de muitos adultos, hoje, que foram jovens naquela época.
Adele Benzaken, que é diretora do Ministério da Saúde, relembra que “no início da epidemia de Aids, ao descobrir um soro positivo você praticamente anunciava a morte. O sofrimento era enorme, marcou a população, mas 30 anos depois esse medo se esfarelou“.
Outro aspecto preocupante é que, como hoje em dia, existe um controle medicamentoso da doença, a doença foi banalizada, como se não fosse um grande problema se infectar pelo vírus. Benzaken ressalta que os profissionais de saúde têm a sua cota de responsabilidade sobre isso, já que ficaram entusiasmados “com o tratamento fantástico, os benefícios do remédio apareceram mais do que a preocupação com a transmissão“.
Embora existam tratamentos que controlam a doença e a mortalidade tenha diminuído, o HIV não mudou e continua sendo grave.
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Não só a Aids é uma preocupação. Muitas outras DSTs estão se espalhando pela população brasileira jovem. Segundo dados de 2014 do Ministério da Saúde, mais de 10 milhões de brasileiros já tiveram um sintoma de alguma DST. E a falta de uso de preservativo aumenta a transmissão de DSTs.
O HPV, por exemplo, é uma doença que existe em 50% dos homens e entre 25% e 50% das mulheres no mundo inteiro. O papilomavírus pode ser transmitido pelo sexo oral e levar ao desenvolvimento do câncer de garganta. Uma pesquisa da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) mostra que os casos de câncer de amídala cresceram de 25%, há 20 anos, para 80% em 2015.
Em 2016, o Brasil viveu um surto de casos de sífilis. O ministro da Saúde, Ricardo Barros admitiu, em outubro passado, que o país vivia uma onda de epidemia, sobretudo, por causa de uma grande resistência a antibióticos.
Hoje, muitos jovens usam aplicativos de paquera para marcar encontros, dos quais podem ocorrer sexo casual. Caio Oliveira, especialista em saúde coletiva e oficial de HIV/Aids do Unicef, afirma que existe relação entre esses apps de encontros, o aumento do número de parceiros casuais e o crescimento de epidemias, caso o jovem não use camisinha.
Claro que a responsabilidade não está nos aplicativos, mas ele promovem uma maior diversificação de parceiros sexuais, aumentando a chance de transmissão de DSTs, caso esses parceiros não se protejam.
Muitos jovens, também, quando começam a namorar acham que não é necessário usar camisinha. Além de isso ser perigoso, pois uma relação estabilizada não salva ninguém de contrair uma DST, pode levar a uma gravidez indesejada, se o casal não estiver planejando engravidar.
Como é difícil estabelecer uma mesma regra para todas as pessoas usarem camisinha, Benaken acredita que a melhor estratégia é oferecer várias opções preventivas, como a PEP (Profilaxia Pós-Exposição), um tratamento que dura 28 dias após uma relação de risco, e a terapia antirretroviral, um tratamento que evita a sobrevivência e a multiplicação do vírus HIV no organismo.
Recentemente, viralizou nas redes sociais o depoimento de um jovem que se abriu para contar ser portador do vírus HIV. Infelizmente, ainda há muito preconceito com a Aids. Muitos grupos são estigmatizados, como se o HIV escolhesse quem vai infectar. Ele chama a atenção para o preconceito dizendo que a melhor maneira de combatê-lo e combater a doença é com informação. Confira aqui, na íntegra, o depoimento.
Não se deixe enganar achando que é uma “prova de amor” fazer sexo sem camisinha, ou que é mais gostoso. Quem ama, cuida. Se o seu parceiro ou parceira intimida você a fazer sexo sem camisinha, avalie essa relação. Tente conversar, primeiramente, com o seu parceiro sobre a importância do uso do preservativo para a saúde de vocês. Se, mesmo assim, você ainda for pressionado, reavalie se essa atitude é realmente a “demonstração de amor” que você deseja para a sua vida.
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