Quem tem, ou teve, um ou mais filhos, sabe o quanto é difícil, e desesperador, entender porquê o bebê chora. Mas agora a tecnologia promete nos ajudar e muito. Pesquisadores da Escola Paulista de Medicina da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) foram responsáveis pelo desenvolvimento de um software capaz de detectar as expressões faciais relacionadas à sensação de dor em recém-nascidos.
Tal descoberta é essencial, pois poderá auxiliar no cuidado com os bebês, dando a possibilidade de intervenções mais eficazes.
A iniciativa surgiu a partir da dificuldade enfrentada por cuidadores desses bebês mais novos, sobretudo nas unidades de terapia intensiva (UTI), no que tange ao reconhecimento e na avaliação dos sinais de dor.
A dificuldade em entender os porquês de um bebê chorar, dificulta a tomada de decisão em determinadas intervenções, pois há uma série de fatores que podem levar o recém-nascido a demonstrar certos incômodos nem sempre relacionados à dor.
Portanto, tal pesquisa viabiliza um instrumento útil para monitorar a dor do bebê na rotina das unidades neonatais; o que é um enorme avanço.
Até então, em crianças que ainda não são capazes de verbalizar, o reconhecimento da dor é feito com base em indicadores comportamentais e fisiológicos, como respostas motoras simples, expressões faciais e choro.
O software concebido na Unifesp foi desenvolvido com base na escala Neonatal Facial Coding System (NFCS), amplamente utilizada no reconhecimento dos movimentos faciais de dor, convertida pelos pesquisadores em linguagem de computador com a colaboração do Departamento de Informática em Saúde (DIS) da EPM e de profissionais da Universidade de Mogi das Cruzes.
A captação das imagens foi feita durante procedimentos dolorosos com indicação médica, como: punção capilar, venosa ou arterial e injeção intramuscular ou subcutânea, necessários ao cuidado com os neonatos e não realizados para fins de pesquisa, de modo a oferecer o menor impacto possível aos bebês – que tinham entre 24 e 168 horas de nascimento, sem necessidade de qualquer suporte ventilatório ou sonda gástrica e sem malformações congênitas. Foram fotografados em tempo real por três câmeras, posicionadas à esquerda, à direita e acima do recém-nascido.
O software, através de identificação biométrica, mapeou e detectou 66 pontos da face dos bebês, reduzidos em seguida a 16 pontos nodais principais, a partir dos quais foram selecionados aqueles que mais se movimentavam quando era expressa dor aguda provocada por algum procedimento médico.
As distâncias entre os pontos serviram para detectar as expressões faciais que, de acordo com a escala da pesquisa, demonstram sinais de dor. Assim, foram identificadas 5.644 imagens, uma média de 188 por recém-nascido.
Na sequência, os pesquisadores testaram a concordância entre as análises do software e as de seis profissionais de saúde experientes no reconhecimento da dor neonatal, com especialização em neonatologia. Foram comparadas três imagens de cada bebê: duas registradas no período de repouso, sem dor, e uma durante procedimentos dolorosos.
Os pesquisadores trabalham agora na adaptação do software para monitoramento de bebês enfermos, aprimorando as câmeras e adequando o sistema para que ele possa ser usado à beira do leito.
Mais detalhes sobre a pesquisa, publicada internacionalmente, podem ser localizados aqui.
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Fonte foto: freeimages.com
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