Pesquisa afirma que sucesso está associado ao esforço, e não à inteligência


Uma pesquisa realizada nos últimos 35 anos mostra que a expectativa sobre o desenvolvimento de uma inteligência “superior” ou de algum talento deixa as pessoas vulneráveis ao fracasso, pois elas sentem medo de desafios e desmotivação para aprender.

Em artigo publicado na revista Scientific America, um dos principais periódicos científicos do mundo, a pesquisadora Carol S. Dweck, professora de psicologia da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, diz que valorizar os avanços no processo de desenvolvimento produz grandes empreendedores na escolar e na vida. Para a autora do artigo e outros pesquisadores envolvidos no estudo ao longo de três décadas, pais e professores são responsáveis por garantir o desenvolvimento cognitivo das crianças incentivando-as a serem persistentes com estratégias de resolução de problemas, no lugar de enaltecer a sua inteligência. Ao contar às crianças histórias que enfatizam o trabalho duro, a perseverança e o prazer pela aprendizagem, ensina-se que a mente precisa ser constantemente atualizada para funcionar bem.

A motivação do estudo de Carol nasceu nos anos de 1960, quando ela percebeu que um grupo de roedores desistia de realizar um percurso após sucessivas falhas, ficando estáticos. A pesquisadora interpretou que os animais aprendiam, com esse insucesso, a não ter esperança, pois não recebiam incentivo para superar os desafios.

Intrigada pela “desesperança aprendida”, a pesquisadora decidiu investigar mais profundamente a questão. De acordo com ela, a “desesperança” é aprendida e está ligada à crença das pessoas sobre os motivos que a levam a errar. A pesquisa foi estendida ao campo educacional, sendo realizada com estudantes da educação básica. Notou-se que a falta de esforço dos alunos, que não tem a ver com incapacidade, fazia com que eles cometessem mais erros ao tentar solucionar problemas matemáticos. O estudo, que separou as crianças em dois grupos, incentivou um grupo com elogios sobre o “quanto eram inteligentes” e outro grupo com elogios sobre o “quanto eram esforçados”. O primeiro grupo não conseguiu solucionar problemas mais complexos, enquanto o segundo conseguiu desvendar as dificuldades e avançar.

A explicação para esse resultado é que alunos mais persistentes não pensavam sobre a sua falha, e sim focavam no trabalho de encontrar os erros cometidos durante o processo para tentar corrigi-los. Tal capacidade é denominada resiliência.

Nossa sociedade crê no talento e assume que algumas pessoas têm uma habilidade superior. De acordo com uma pesquisa realizada nos anos de 1990, 85% dos pais acreditavam que louvando a habilidade e a inteligência de seus filhos, quando tinham uma boa performance, faziam com que eles se sentissem mais motivados. Entretanto, os estudos mostraram que isso só fazia com que as crianças se sentissem mais frágeis e defensivas.

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Desenvolver a resiliência é um processo que começa no início da vida e deve ser incentivado em casa e na escola. Crianças que são elogiadas por seu talento inato, por exemplo, podem desenvolver uma crença implícita de que elas nasceram inteligentes, e que o esforço para aprender algo novo é menos importante do que ser inteligente para aprender aquilo. O problema nessa crença faz com que elas vejam desafios, erros, e, até mesmo, a necessidade de exercer um esforço, como ameaças ao seu ego – e não como oportunidades para melhorar. Isso faz com que percam a confiança e a motivação quando o trabalho não é mais fácil para elas.

As pesquisas concluem, portanto, que incentivar o processo (que nada mais é do que a soma de esforço pessoal com estratégias eficazes), ajuda a direcioná-los para uma melhor vida acadêmica e pessoal.

Confira, a seguir, os enunciados que, segundo a pesquisadora, professores e pais devem usar para se comunicar com as crianças, incentivando-as a serem os sujeitos do seu processo de aprendizagem:

– Não diga “como você é inteligente”; diga “você fez um bom trabalho” e explicite os fatores que fazem com que aquele trabalho seja elogiado;

– Não elogie apenas a nota alta obtida em uma prova, foque o elogio no processo, dizendo, por exemplo: “Você realmente estudou para seu teste. Você leu o material várias vezes e testou-se sobre ele. E realmente funcionou!”;

– Não foque no resultado da resolução de um problema, aponte as estratégias usadas pela criança, dizendo, por exemplo: “Eu gosto do jeito que você tentou essa série de estratégias diferentes no problema até finalmente resolvê-lo”;

– Elogie o tempo de estudo, focando no quanto o tempo dedicado influenciou o resultado. Por exemplo: “Você ficou em sua mesa e manteve sua concentração, por isso conseguiu achar a solução. Isso é ótimo!”;

– Não aponte o erro como uma falha imutável. Pelo contrário, mostre que o erro é apenas um desafio a ser superado e ofereça ferramentas para que a criança possa superá-lo para seguir adiante.

Essas estratégias fazem com que a criança perceba que o sucesso não é uma questão de inteligência, habilidade ou classe social, mas sim um mérito do esforço.

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Fonte foto: tribunadoreconcavo.com




Gisella Meneguelli

É doutora em Estudos de Linguagem, já foi professora de português e espanhol, adora ler e escrever, interessa-se pela temática ambiental e, por isso, escreve para o greenMe desde 2015.


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