Uma nova técnica de ensino está sendo testada pelo Instituto de Física (IF) da USP, com as turmas de alunos ingressantes, nas disciplinas de Física I e II. Trata-se da Técnica de “Aprendizagem Ativa”, um conjunto de práticas que põem o estudante no papel de protagonista do seu processo de aprendizado.
Ou seja, os estudantes devem se preparar antes das aulas, que já não serão expositivas, lendo os materiais preliminares indicados. Essas práticas já são adotadas no MIT, em Yale e em Harvard, nos Estados Unidos, entre outras instituições de renome. Diversas metodologias estão reunidas sob o guarda-chuva da “aprendizagem ativa“. No IF, a escolhida foi o SCALE-UP (student-centered active learning environment with upside-down pedagogies), desenvolvida por Robert Beicher na Universidade Estadual da Carolina do Norte e adotada em mais de 200 instituições.
Nesta metodologia, a SCALE-UP, as aulas expositivas, que normalmente levam os estudantes a uma postura passiva, são substituídas por atividades de observação dos fenômenos físicos, levando os estudantes a refletirem sobre estes e a discutirem ativamente com seus colegas e o professor, que se torna mais um interlocutor no grupo, até que o conceito seja apreendido por todos.
“Basicamente, a metodologia inverte a ideia de que o aluno tem o primeiro contato com o conteúdo em sala de aula, com a exposição do professor, e depois fixa esse conteúdo sozinho, em casa. Na aprendizagem ativa, os alunos têm de se preparar previamente para a aula, têm leituras para fazer. Na aula eles vão sedimentar o que leram, e o professor vai iluminar pontos chave. É uma tentativa de trazer os métodos de discussão e debate, usados no ensino das ciências humanas, para uma aula de ciências duras”, explica André Vieira, um dos professores responsáveis pela implantação do SCALE-UP no IF.
As aulas pelo novo método são dadas em uma sala especialmente preparada, na Ala II do IF. Com capacidade para 72 alunos, esta sala tem piso elevado para instalação de tomadas por baixo e para que os alunos possam levar seus computadores. As mesas são modulares e permitem que os alunos trabalhem em grupos de seis, sendo que em cada uma delas há um computador (no total de 24 máquinas). Cada módulo em forma hexagonal permite que os estudantes olhem para todos os lados do ambiente. Três telões estão à disposição permitindo que o professor possa ser visto por todos quando for preciso dar uma explicação. Este formato é complementado pelos já tradicionais quadros brancos.
São desenvolvidas, basicamente, três tipos de atividades: cálculo, experimentos simples e aquelas que requerem uso do computador, e aulas duram cerca de uma hora e 40 minutos, como explica André Vieira, um dos professores responsáveis pela implantação do SCALE-UP no IF, que esteve durante três dias na Universidade Estadual da Carolina do Norte acompanhando aulas pelo método SCALE-UP e conversando com professores que o utilizam, antes de ajudar a implementá-lo no IF.
Já para a professora Carmen Prado, que ministra Física I para os alunos do primeiro semestre, é muito diferente trabalhar dessa maneira. “Do meu ponto de vista há indiscutivelmente um ganho visível na participação dos alunos na aula, eles faltam menos, se engajam, interagem mais, são mais desinibidos para expor ideias e para perguntar, sem contar que há menos desistência”, afirma. Segundo suas palavras, o plano de fundo do SCALE-UP é fundamentado na metacognição, ou seja, o conhecimento que a pessoa tem sobre o seu processo de aprendizado.
Ação muito importante deste novo método é derivada das discussões em grupo e, como explica a professora Carmen Prado: “O aluno que sabe mais se beneficia muito de ter que explicar o conteúdo para o outro, porque é uma oportunidade de checar seus conhecimentos. O aluno ‘mais fraco’ ou ‘mais tímido’ se sente muito mais à vontade para expressar dúvidas para os colegas do que para o professor”. Carmen Prado divide os créditos da implementação do projeto com outros seis professores, além de Vieira: José Roberto B. Oliveira, Marcio Varella, Maria Teresa Lamy, Renato Higa e Vera Henriques.
No momento, o grupo de professores está preocupado em criar indicadores que avaliem o desempenho dos alunos pelo novo método, que está no seu segundo ano de aplicação. Nos EUA, em uma meta-análise realizada ano passado envolvendo mais de 200 estudos distintos em disciplinas de ciências, tecnologia, engenharias e matemática, os métodos da aprendizagem tradicional foram comparados aos da aprendizagem ativa. Os estudos apontam uma diminuição de um terço nos índices de repetência e uma melhoria na compreensão conceitual dos estudantes que estiveram envolvidos com a aprendizagem ativa.
Deixemos os alunos participarem mais!
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Fonte foto: freeimages.com
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