As palavras dão sentido ao mundo, conectam pessoas e facilitam a comunicação. Porém elas também pode ser opressoras, discriminadoras e ferirem um semelhante.
Uma palavra, por exemplo, foi motivo de polêmica, recentemente. Uma entrevista antiga do ex-piloto Nelson Piquet viralizou nas redes. Isso por que em uma das falas, Piquet chama o heptacampeão de Fórmula 1, Lewis Hamilton, de “neguinho” diversas vezes para mostrar que uma manobra que ele fez em uma das corridas foi mal-intencionada.
Alguns defendem que houve racismo nessa expressão de Piquet, outros dizem que há um certo exagero na discussão. O fato é que Hamilton – o alvo da alcunha – não gostou do termo e foi ele quem levantou a questão do racismo.
E está aí o cerne da questão: uma expressão vai ser ou não pejorativa a depender de como o alvo do “apelido” se sentir. Hamilton se sentiu ofendido, então precisamos falar sobre racismo sim.
Algumas expressões racistas utilizadas há muito tempo já são amplamente entendidas como problemáticas, porém outras ficam no meio do caminho nessa discussão. É o caso das expressões “negão”, “neguinho” ou “neguinha”.
Falado de modo pejorativo, para denotar uma suposta superioridade racial por parte dos brancos, ela é sim racista, já se dita em um ambiente familiar, de pessoas de mesma classe racial, pode ser apenas uma expressão de carinho.
Nós somos diversas personas sociais e adaptamos nossos discursos, modos de falar e até vestimenta a depender do local, do interlocutor.
Ninguém vai a uma entrevista de emprego de biquini ou usa palavrões para defender que deveria trabalhar em determinada empresa. Da mesma forma como devemos fazer essa leitura racial quando formos nos comunicar. É bom que as pessoas estejam falando a respeito.
Certos comportamentos, falas e atitudes problemáticas de outrora não cabem mais em uma sociedade que se supõe em evolução. Mas será que estamos evoluindo mesmo?
Usar a expressão “neguinha” pode ou não ser racista, como dito acima. Tudo vai depender do contexto social, da pessoa que fala. É o que defende a linguista Larissa Fontana, em entrevista ao UOL:
“Dizer ‘neguinho’ ou ‘negão’, de forma isolada não é racismo, mas pode ser, dependendo do contexto histórico e situacional em que a palavra aparece, quem está dizendo a palavra, quais são as relações sociais das pessoas envolvidas no diálogo e a intenção da frase, se de afeto ou conflito”, explica.
No caso que abre esse texto, Piquet usou o termo para desmerecer Hamilton, logo, foi racista sim.
Eu, a autora desse texto, sou negra. E já fui chamada de “neguinha” em algumas ocasiões. Em todas elas, me senti ofendida. Assim como Hamilton. Longe de mim querer me comparar ao heptacampeão mundial, pois nem carro eu sei dirigir. Porém, assim como Hamilton, eu também me vi ouvindo essa expressão sempre em um contexto no qual o interlocutor quis desmerecer alguma conquista minha, ou a mim pessoalmente.
Então, o que posso dizer aos brancos é que essa expressão problemática só deve ser usada se a outra pessoa não se importar, se houver uma relação de afeto, se couber. Em todos os outros casos, não use. Você consegue palavras melhores.
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Categorias: Sociedade
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