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A tecnologia e o mundo globalizado têm delineado uma nova visão para o desenvolvimento humano: o transumanismo (H+), movimento que busca acelerar o processo evolutivo do homem de forma conjugada com o avanço tecnológico.
A princípio, essa proposta de avanço pode parecer algo benéfico mas, ao atrelar o desenvolvimento humano à evolução tecnológica, surge a preocupação de o homem ser dominado pela tecnologia e perder sua essência espiritual e sua humanidade. Isso é muito preocupante!
Neste conteúdo, vamos nos aprofundar sobre essa questão para entender o que é o transumanismo, e sobre como essa movimento pode afetar nossa vida tanto positiva quanto negativamente.
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Houve épocas em que a visão sobre o ser humano era bem distante da nossa realidade atual.
Na Idade Média, prevalecia o teocentrismo, a doutrina onde Deus e os ensinamentos da Igreja eram o centro da vida humana e valores fundamentais da sociedade.
A palavra teocentrismo vem do grego e significa:
Ou seja, Deus como centro da vida.
Posteriormente, com o advento do renascimento cultural e do humanismo, surge o antropocentrismo e o homem passou a ser o centro da criação. Sendo assim, para se chegar a Deus, primeiramente era necessário entender o homem.
A palavra antropocentrismo vem do grego:
Então, significa homem no centro de tudo.
Com a revolução industrial, o surgimento da máquina e o avanço tecnológico, o trabalho humano foi ficando cada vez mais mecanizado e a tecnologia, progressivamente, passou a reger a existência humana.
O ser humano passou a depender da máquina para uma série de coisas e, de certa maneira, a máquina passou a ocupar cada vez mais o espaço na sociedade e nos meios de produção.
A máquina e a tecnologia ganharam tanto espaço na vida do ser humano, que praticamente em quase tudo passaram a ser necessárias.
É possível dizer que o homem moderno acorda, se alimenta, trabalha e dorme com a ajuda da tecnologia, pois sua existência está cercada de aparelhos eletrônicos e, conforme a tecnologia avança, mais o ser humano se torna dependente dela.
De acordo com recentes pesquisas, o Homo sapiens como o conhecemos hoje, surgiu há cerca de 300 ou 200 mil anos.
Todo esse tempo de evolução culminou no transumanismo, um período no qual, por meio da tecnologia, acredita-se ser possível fazer do homem um ser amortal, ou seja, que vive mais tempo e demora para envelhecer.
Em síntese, o transumanismo pretende potencializar a biologia e a genética humana, através da ciência e tecnologia, acelerando processos que demorariam milhares de anos para se verificarem.
Essa ideia é tão atraente que existem pessoas adeptas a esse movimento, posicionando-se como transumanistas como é o caso do biohacker, ciborgue e transumanista holandês Patrick Paumen, que tem vários chips implantados em seu corpo.
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O termo transumanismo foi criado em 1957 pelo biólogo britânico Julian Huxley, irmão do escritor Aldous Huxley.
Julian Huxley definiu este conceito como o:
“homem continuando homem, mas transcendendo ao perceber novas possibilidades de e para sua natureza humana”.
Pode-se definir o transumanismo como um movimento intelectual representado pelo símbolo H+, que defende a aplicação da tecnologia avançada para impulsionar a superação dos limites impostos pela condição e vulnerabilidade humana.
Para o transumanismo, limitações intelectuais, físicas e psicológicas podem ser superadas através do uso da inteligência artificial, da biotecnologia, da nanotecnologia e da neurotecnologia.
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Os objetivos transumanistas se baseiam em dois pilares, de acordo com o filósofo brasileiro Gledinélio Silva Santos.
Alguns exemplos do uso da tecnologia para superação de limitações:
O transumansimo vem se tornando um movimento progressivo e que engloba comunidades como a Humanity Plus, cujo objetivo principal é difundir esse conhecimento e sua aplicabilidade.
Faz parte desta difusão a Declaração Transumanista, uma espécie de manifesto originalmente elaborado em 1998 pela World Transhumanist Association – ATM.
O filósofo David Pearce, um dos autores da Declaração Transumanista e cofundador da Associação Transumanista Mundial – ATM, defende que o transumanismo aplicado pode resultar no fim do sofrimento humano.
David Pearce reforça a ideia de que a tecnologia pode servir ao ser humano como combustível à evolução, anulando ou amenizando os efeitos do desgaste orgânico de nossa espécie.
Outro adepto bem atual do movimento transumanista é o filósofo e escritor transumanista Zoltan Istvan que inclusive em sua pré-campanha de candidato à presidência dos Estados Unidos, tem utilizado as ideias transumanistas como propaganda eleitoral.
O principal ponto que ele defende é que a morte é apenas uma questão biológica, por isso, o governo dos Estados Unidos deve investir mais em pesquisas antienvelhecimento, através do uso da ciência, medicina e tecnologia.
Uma das vertentes do transumanismo é o chamado biochaking ou bilologia DIY, uma fusão da biologia com o conhecimento hacker.
Os biohackers comumente são adeptos da filosofia transumanista e buscam desenvolver implantes cibernéticos para aprimorar suas capacidades, ou fazer experimentos genéticos para potencializar a biologia humana.
Como exemplos de biohackers, temos:
Neil Harbisson
O ciborgue Neil Harbisson, portador de acromatopsia (só enxerga em preto e branco).
Ele resolveu implantar um sensor em seu cérebro que, com o apoio de uma câmera, o torna capaz de interpretar vários tons de cor.
Rob Spence
Outro exemplo é o de Rob Spence, que preencheu a sua cavidade ocular vazia com uma câmera de vídeo sem fio, que capta imagens e envia tudo para um pequeno dispositivo em tempo real.
Rob Spence chegou a gravar um documentário sobre ciborgues, capturando parte das imagens com a câmera de seu olho.
Tim Cannon
Esse outro biohacker tem buscado utilizar mecanismos tecnológicos em seu corpo para identificar problemas de saúde antes que apareçam.
Tim Cannon dedica parte de seu tempo em busca de aprimoramentos para seu corpo por meio do implante de chips.
Por certo tempo, ele portou um dispositivo debaixo da pele de seu antebraço, para obter dados biométricos como a temperatura do corpo, enviados diretamente para o seu tablet.
A finalidade destes implantes é a de incrementar o monitoramento de dados sanitários, a fim de prevenir o surgimento de doenças.
O filósofo brasileiro Gledinélio Silva Santos levanta um ponto preocupante em relação às várias aplicações do transumanismo:
“O homem tenta encontrar nessa fabulosa vida futurista soluções para seus problemas. Entretanto, quando os interesses de uma superestrutura (política, econômica e industrial) ditam as regras, quais as garantias de que a vida e a liberdade dos indivíduos serão respeitadas sem que elas sejam corrompidas pelos interesses do Estado?”
Além de se tornar instrumento de dominação e manipulação dos interesses de uma minoria sobre uma maioria, a aplicação do transumanismo pode fugir do controle da humanidade tornando o ser humano uma criatura cibernética, um Machina sapiens (Homem máquina), ou seja, a evolução ciborgue do Homo sapiens.
Levando essas questões em conta, fica a pergunta:
Isso realmente trará benefícios ao homem? Até que ponto é ético e sábio interferir na evolução natural, biológica e genética humana?
Vale ressaltar, que o objetivo aqui não é demonizar o uso da tecnologia, mas de lembrar que pode servir tanto para o bem, quanto para o mal. Como exemplo: a energia nuclear dizimou milhares de vidas em Hiroshima e Nagazaki mas, em contrapartida, pode ser aplicada na cura e na prevenção do câncer.
Assim é com a biotecnologia, a nanotecnologia e a neurotecnologia que podem servir para tratar problemas de saúde humana ou transformar o ser humano em uma espécie de robô.
Assista neste vídeo do canal Casa do Saber, o mestre em filosofia Alexey Dodsworth falando sobre o conceito do transumanismo e o porquê desse movimento poder ser considerado uma utopia (um ideal que busca a perfeição) ou uma distopia (algo imaginário que se torna assustador):
O problema não são as ferramentas tecnológicas existentes, mas o uso, ou abuso, que faremos delas.
O doutor em Filosofia José Manuel de Cózar em entrevista ao Instituo Humanista Unisinos-IHU, compartilhada no site Outras Mídias, expôs que:
“Dos transumanistas algumas melhoras não radicais podem ser pertinentes e oportunas, ao passo que outras podem ser um disparate, um pesadelo.”
Com base em toda essa reflexão, vêm mais dois questionamentos:
O que você pensa a respeito disso? Deixe seu comentário para ampliarmos esse debate.
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Categorias: Sociedade
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