Chuva de agrotóxicos para expulsar moradores de suas casas: fazendeiros são multados


Uma reportagem da Repórter Brasil denunciou a chuva de agrotóxicos que vem sendo despejada sobre uma comunidade no Maranhão onde há disputas por terras.

Uma criança, que chegou a receber um banho de agrotóxico em 22 de abril, começou a sentir uma forte coceira que fez sua pele ficar seca, com vermelhidão, feridas, cheia de caroços até ficar em carne viva. A reportagem teve acesso a um vídeo enviado pela mãe do menino de 7 anos no qual é possível ver as feridas abertas em várias partes de seu corpo.

Essa não foi a única vez que a comunidade rural do Araçá, no município de Buriti, no Maranhão, recebeu a visita de aviões de guerra. Pelo menos foi o que pensou o presidente da associação de moradores, Edimilson Silva de Lima, um dos 80 moradores de Araçá, que relatou à reportagem que mais oito pessoas tiveram sintomas de intoxicação como coceiras, febre e manchas no corpo por conta da pulverização.

Disputa fundiária

A comunidade suspeita que o mandante do crime seja o produtor de soja Gabriel Introvini, que já entrou em conflitos fundiários com outras comunidades da região.

A polícia o apontou, assim como o seu filho André Introvini, de serem os responsáveis pela prática de desmatamento ilegal, roubo de terras e ameaças de expulsão de moradores locais, que já vivem na região muito antes das plantações de soja começarem a desmatar o cerrado.

Guerra química

O advogado da Sociedade Maranhense de Direitos Humanos, Diogo Cabral, considera gravíssima a situação:

“O quadro é muito grave, porque nós já temos um conflito agrário e, agora, eles jogaram veneno em cima das casas. É uma guerra química contra essas famílias”.

Os produtores rurais estão fazendo uso dos agrotóxicos que utilizam em suas plantações para expulsar moradores de suas casas. O agricultor Vicente de Paulo Costa Lira, morador da comunidade de Carranca, que fica próxima de Araçá, contou à reportagem que recebeu a seguinte ameaça de um funcionário de Gabriel Introvini:

“Recebi um recado que eles iam colocar o veneno pior que eles tivessem na porta da minha casa pra que eu não suportasse e desocupasse a área”.

A sua casa fica a apenas 15 metros da plantação de soja, que recebe recorrentemente agrotóxicos. Além da intoxicação a que ele e sua família são expostos, o agricultor já perdeu vários animais necessários à sua subsistência.

Os pequenos agricultores, além de correrem risco de morte e doenças, estão tendo o fruto de seu trabalho perdido, já que as suas plantações secaram.

A chuva de agrotóxico no mês de abril sobre Araçá foi tão forte e repetitiva que os moradores, literalmente, respiraram veneno, provocando-lhes náuseas e dor de cabeça.

Caso não é isolado

As denúncias de expulsão de moradores através do uso de agrotóxicos pulverizados por fazendeiros só crescem no Maranhão.

Em 2017, a região de Pau D’Arco, palco da conhecida chacina de Pau D’Arco (policiais civis e militares assassinaram dez trabalhadores rurais que resistiram a ordens de despejo), votou a ser alvo de disputa – agora com a pulverização.

A promotora Herena Neves, da Vara Agrária de Redenção, chama os episódios de “envenenamento deliberado”. Apesar de o caso estar sob investigação, ela levanta a hipótese de que a pulverização é uma “tentativa de prejuízo à saúde ou lesão corporal para que essas pessoas não possam se alimentar ou tenham a saúde diretamente afetada, e aí façam o deslocamento forçado”.

A Fundação Oswaldo Cruz publicou uma nota alertando que eventos similares aos do Maranhão vêm ocorrendo no Pará e, também, no Rio Grande do Sul, onde agricultores orgânicos registraram voos de aeronaves pulverizando agrotóxicos sobre as suas plantações e residências. Os efeitos da ação são morte e adoecimento de animais, perda da produção e o desaparecimento de abelhas.

Os testes feitos no Rio Grande do Sul revelaram que foi utilizado o herbicida 2,4-D, que a Anvisa classifica como extremamente tóxico e a Agência Internacional de Pesquisa em Câncer, da Organização Mundial da Saúde, avalia como “possível carcinogênico”.

Fazendeiros são multados

Após o caso do menino ferido pelos agrotóxicos ganhar repercussão nacional e internacional, a Secretaria de Estado e Meio Ambiente (Sema) informou que os responsáveis pela Fazenda São Bernardo, Belém e Brejão – que são os produtores de soja da família Introvini – “não possuíam licenciamento ambiental da atividade de pulverização aérea, que motivou embargo da atividade e também auto de notificação e infração no valor de 273 mil reais“, informa o Movimento Sem Terra.

As comunidades denunciam que não há fiscalização por parte de órgãos da União ou do Estado do Maranhão. A família Introvani segue desmatando uma região que parece ser uma área pública. O Tribunal de Justiça do Maranhão considerou que a documentação da família, que faz grilagem, é válida e por isso segue com licença para desmatar.

Multa é muito pouco

Uma multa é insuficiente para inibir a guerra química que vem sendo empreendida no país. A punição com multa não se referiu ao ataque contra a vida de pessoas, mas tão somente sobre o fato de os fazendeiros não terem licença ambiental.

Esse é mais um caso que corrobora que a vida vale muito pouco – ou quase nada – no Brasil.

Confira a reportagem completa da Repórter Brasil CLICANDO -> AQUI.

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Gisella Meneguelli

É doutora em Estudos de Linguagem, já foi professora de português e espanhol, adora ler e escrever, interessa-se pela temática ambiental e, por isso, escreve para o greenMe desde 2015.


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