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Estamos vivendo uma era diferente, na qual o conhecimento nunca foi tão valioso. Os big data se converteram em um bem cujo valor os países, agora, estão em disputa. Temos uma quantidade enorme de informação no mundo ao mesmo tempo em que nos afundamos num abismo de desinformação e manipulação de dados, que levam às “fake news”. Como podemos nos defender desse ataque informacional e nos mantermos bem informados?
Sobretudo a partir de 2013, casos sobre vazamentos de dados privilegiados e oriundos de espionagem usados, depois, para fabricar notícias falsas começaram a fazer parte do cotidiano global. É importante relembrar alguns desses episódios para compreendermos melhor a nova categoria das “fake news”: as “deepfakes”.
A Cambridge Analytica, empresa privada de mineração e análise de dados com comunicação estratégica para processos eleitorais, foi criada justamente em 2013, para participar da política dos Estados Unidos. Em 2014, a CA já havia participado de 44 campanhas políticas, mas foi em 2015 que se tornou conhecida como a empresa de análise de dados que trabalhou para a campanha presidencial do candidato Ted Cruz. Em 2016, a CA passou a trabalhar para a campanha presidencial de Donald Trump e, também, para a do Brexit.
Recentemente, a prisão do ciberativista Julian Assange trouxe à tona novamente o caso da WikiLeaks, organização sediada na Suécia que publicava em seu site postagens de fontes anônimas, documentos, fotos e informações confidenciais vazadas de governos ou empresas, em geral sobre assuntos sensíveis.
O WikiLeaks passou a ser caçado, bem como Assange, após a enorme repercussão da divulgação de documentos secretos do exército dos Estados Unidos, relacionados à guerra do Afeganistão. Um ano antes da eleição presidencial que elegeu Donald Trump, o site publicou dados sobre negociações secretas de acordos comerciais entre APEC, NAFTA e União Europeia, além de publicar emails da candidata do Partido Democrata Hillary Clinton sobre o acordão do partido no impedimento da candidatura de Bernie Sanders, um fato decisivo sobre aquela eleição.
Em 2013 também, o ex-analista da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (NSA) Edward Snowden Novos vazou documentos que indicavam que a Petrobras também havia sido espionada pelos americanos, justamente no momento em que o Brasil anunciava a descoberta do pré-sal e o uso de 25% dos recursos obtidos em educação e saúde, como informou à época a BBC. Essa informação veio à tona uma semana após a então presidenta, Dilma Rousseff, ter sido espionada pela agência.
“Fake news”, ou literalmente notícias falsas, são publicações cujo conteúdo falso é passado como se fosse real. O objetivo das “fake news” é deslegitimar algum ponto de vista, sobretudo, em momentos de grande polemização social. O seu poder viral é enorme, sendo capaz de serem difundidas de forma muita rápida para milhões de pessoas, representando um grande perigo para a formação das opiniões públicas.
Se as “fake news” já são um problema contemporâneo, visto que elas podem trazer prejuízos para pessoas e para países, com a manipulação de informações falsas durante o período eleitoral, por exemplo, já existe algo mais assustador: uma nova tecnologia capaz de dar ares absolutamente verossímeis a uma notícia falsa.
Recentemente, uma apresentação na OpenIA, uma organização de inteligência artificial sediada na Califórnia (EUA), deixou os presentes impressionados. A razão é o desenvolvimento de um software, o GPT-2, capaz de produzir textos de forma autônoma, como informou o Valor. O potencial destrutivo do software, de acordo com Jack Clark, diretor da OpenIA, é devido ao alto nível qualitativo de manipulação de som, imagem e textos.
Os riscos dessa tecnologia são iminentes. A web, hoje, é abundante em conteúdo de todo tipo. Qualquer pessoa, até mesmo uma criança, consegue reunir um conjunto de dados com uma simples busca. Há de se considerar que, em breve, a tecnologia empregada no GPT-2 se tornará acessível, já que a própria evolução da inteligência artificial consegue fazer com que as imagens produzidas ganhem o status da verossimilhança.
É esse perigo real que vem sendo chamado de “deepfakes”, ou seja, “fake news” em nível de profundidade extremamente elevado – muito falso mesmo, mas com uma aparência bem real!
As adulterações, embora já ocorram há muito tempo, sempre foram um pouco toscas e facilmente descobertas, seja pela evidente montagem, seja por softwares especializados em descobri-las quando são mais bem feitas. O problema atual é que a produção das “deepfakes” estão ao alcance de qualquer pessoa familiarizada com computação, inclusive, existem programas gratuitos disponíveis para download para criá-las.
De acordo com a professora da PUC-SP Lúcia Santaella, especialista em tecnologias da inteligência e design digital: “Não é que a verdade já não exista. O problema é que ela já não importa”. A fala de Santaella para o Valor elucida os novos tempos, em que emergem terraplanistas e pessoas defendendo a ignorância no lugar da educação e do conhecimento – o que nos deve levar a fazer algumas perguntas: Por que há pessoas pregando o obscurantismo e a ignorância?; A quem isso interessa?; Qual é a finalidade de fazer reinar as “deepfakes”?
Algumas propostas têm sido discutidas para que não caíamos nessa “matrix”. Em geral, elas têm como foco a transparência da informação e a educação. É preciso que as fontes de informações se revistam cada vez mais de credibilidade na produção e difusão de conteúdos. Em relação à educação, para não sermos enganados por “deepfakes”, é cada vez mais urgente ações educativas que promovam os multiletramentos, isto é, o letramento que não seja apenas o da “letra”, mas de todas as modalidades de linguagem que estão presentes nos textos contemporâneos, como a verbal, a visual, a sonora.
Nunca foi tão importante informar-se, não apenas sobre o conteúdo como sobre as fontes que nos dão acesso a ele.
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