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Você já ouviu falar em etarismo? Trata-se de uma forma de preconceito contra pessoas mais velhas.
Mas qual é a idade que marca que alguém passou a ser velho? Quem determina isso? Um outro ou a própria pessoa?
Em um mundo em que cada vez mais as populações estão envelhecendo, ao mesmo tempo em que várias tecnologias são empregadas para aumentar o tempo de vida e a aparência jovial das pessoas, ser ou tornar-se idoso está longe de ter uma fácil definição.
A polêmica mais recente relativa ao etarismo vem do Grammy Awards, a mais importantes premiação para os profissionais da indústria musical. Após ter sido criticada por sua aparência artificial, a cantora pop Madonna criticou a “discriminação por idade” e a “misoginia” do “mundo que se recusa a celebrar as mulheres com mais de 45 anos“. Ela também disse que nunca se desculpou pelas “decisões criativas” que tomou sobre sua aparência e seu vestuário, e que “não iria começar agora”.
Acontece que, ao que parece, a discriminação pela idade começa pela própria cantora quando se recusa a assumir seus 64 anos, tentando aparentar 20, 30 ou 40 anos a menos.
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Dois anos atrás, em 2021, viralizou nas redes sociais um vídeo em que a escritora Cris Guerra colocava em debate o etarismo a partir de um vídeo do grupo Porta dos Fundos que estereotipava a mãe da personagem representada pelo humorista Fábio Porchat.
No vídeo, a mãe da personagem que tinha apenas 57 anos, era tratada de forma infantilizada pelo filho. O preconceito e os estereótipos construídos pelo etarismo passam de forma velada em sociedades (como a nossa) que enaltecem a juventude. Eles se apresentam em falas do tipo “você não tem mais idade para fazer isso” e, também, no mercado de trabalho que fecha as portas para pessoas com mais de 50 anos.
Em resposta ao vídeo do Porta dos Fundos, Cris Guerra fez um reels (que chegou a ter 200 mil visualizações) chamando Porchat para o debate. A escritora, inclusive, deixou isso claro, colocando-se contra a cultura do cancelamento, justamente porque já passou da hora de cultuarmos a juventude e desprezarmos a velhice, com se ser velho fosse algo ridículo ou incapacitante.
A jornalista Eliane Brum também se posicionou sobre o tema dizendo que:
“A velhice sofreu uma cirurgia plástica na linguagem”.
Ela explica:
“Na semana passada, sugeri a uma pessoa próxima que trocasse a palavra ‘idosas’ por ‘velhas’ em um texto. E fui informada de que era impossível, porque as pessoas sobre as quais ela escrevia se recusavam a ser chamadas de ‘velhas’: só aceitavam ser ‘idosas’. Pensei: ‘roubaram a velhice’.”.
A velhice está sendo roubada pela linguagem, pela economia, pelas cirurgias plásticas, por doenças psíquicas, pela solidão e pelo preconceito.
Para Brum é como se a palavra “idoso” fosse um lifting ou um photoshop da palavra “velho”, pois tenta esconder o óbvio: que o tempo passa e todos nós envelhecemos – se tivermos sorte para isso. O adjetivo “velho” ficou proibitivo, como se colocá-lo no discurso criasse uma cena negativa ou ruim.
Cris fez um depoimento sobre como a experiência acumulada durante anos é sinônimo de amadurecimento para a sua vida:
“Mas, mesmo com esse mundo caótico, eu vejo que amadurecer tem o seu lado bom, sim. Hoje, eu sei escolher melhor as batalhas que valem a pena, eu aprendi com o tempo e com a minha contadora a optar pelo simples, sou bem mais flexível hoje do que quando eu tinha 20/30 anos, tem um ano que eu assumi o cabelo grisalho e foi libertador. O tempo passa sim, para todo mundo, o tempo todo. E envelhecer, não significa não poder mais fazer as coisas, mas também não é a certeza de que eu posso tudo, aliás, eu nunca pude. Mas, eu te garanto, eu não troco os meus 50 pelos meus 20”.
O jornal El Pais também levantou o tema do etarismo a partir da história de Justo López, um produtor audiovisual de 58 anos despedido em 2013, que não consegue trabalho. Ele acumulou anos de experiência que não se encaixam no perfil das vagas, que solicitam “gente jovem”.
O que resta para muitas pessoas como López é viver com uma aposentadoria de um salário mínimo quando elas ainda estão em plena capacidade produtiva e intelectiva. Cada vez mais os velhos ou pessoas mais velhas estão se tornando uma população empobrecida e discriminada, quando eles são, na verdade, uma fonte de riqueza.
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Frases inocentes como você aparenta ser mais jovem também é uma forma de etarismo, pois é um elogio camuflado de você ainda não é tão velha (o).
No mundo corporativo, o etarismo se vê na demissão dos mais velhos e na premiação dos mais jovens.
Nas artes é esse festival de cirurgia plástica, botox e outros artifícios para demonstrar menos idade ou escondê-la, como faz, por exemplo, a cantora Bjork, que há anos esconde seu rosto e seu corpo usando máscaras e fantasias inclusive fora do palco.
Toda essa debate é mais do que urgente. Além de cultuarmos a juventude de forma doentia, precisamos resolver as várias questões das sociedades velhas em que estamos nos tornando, do ponto de vista laboral, da saúde, da previdência, do convívio social.
Em algumas culturas tribais e orientais a velhice é exaltada, pois significa que a anciã e o ancião são alguém que resistiu às intempéries do tempo e, por isso, tem muita sabedoria a compartilhar com os jovens e com todo o coletivo de que são parte. As rugas da pessoa velha são uma marca viva dessa força e desse poder conferido pela vivência diluída no tempo.
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Categorias: Sociedade
Publicado em 12/02/2021 às 2:17 pm [+]
sim muito verdade. Não importa a tua experiência ou qualificação profissional a partir de 50 e poucos anos , simplesmente não te chamam mais para participar de processos de seleção, mesmo você sendo evidentemente qualificado para a função. O único meio é por relacionamento, mas mesmo assim tem que ser por uma indicação muito forte , porque uma simples acaba sendo descartada e a pessoa não é chamada nem para participar.
Publicado em 18/02/2021 às 9:34 am [+]
Que triste isso, vamos mudar isso! Temos que mudar isso! <3