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Mulheres que se gabam de seus companheiros, namorados, maridos que ajudam em casa… E homens que se gabam por saberem lavar, passar, e até, trocar fralda.
Vamos combinar, esses homens não são seres excepcionais, extraterrestres ou príncipes encantados, e não estão fazendo nada além da obrigação deles de ajudar com as tarefas domésticas.
É cansativo em pleno século XXI ainda ter que discutir certas pautas, como machismo, racismo, preconceito aos LGBTQIA+ e tantas outras formas de opressão. Mas se é preciso lutar, o baile tem que seguir.
Todos nós sabemos que o mínimo que um homem deve fazer em casa é o que qualquer habitante de uma moradia tem que fazer: cuidar das suas coisas e dos espaços comuns.
A tal “ajudazinha” em casa é uma das falas que tentam aliviar a atitude de um homem folgado, egoísta e que acha que uma mulher – qualquer uma: a mãe, a irmã, a mulher, a filha, a faxineira, a amiga – tem que lhe servir.
Discutir o machismo é debater uma cultura que fomenta a desigualdade na divisão de tarefas domésticas, a desigualdade de oportunidades no trabalho, incluindo a salarial, e que atenta contra a vida das mulheres.
O Brasil é um dos países mais perigosos para ser mulher. Os casos de feminicídio cresceram 22% durante a pandemia, segundo o estudo Violência Doméstica durante a Pandemia de Covid-19, como informa a Agência Brasil. Uma das razões desse aumento é que as vítimas estão passando mais tempo com os agressores, o que as impede de buscar ajuda.
Se vivemos em uma cultura machista, todos nós somos respingados pelo rol comportamental dela. Entretanto, a diferença de carga para homens e mulheres é tremendamente desigual e, portanto, injusta.
É preciso não associar o machismo a certos estereótipos de homem, como se apenas os desinformados ou “toscos” fossem os típicos machistas de plantão.
Às vezes, homens que fazem parte da elite intelectual e financeira, ou seja, aqueles que têm as ferramentas para mudar o status quo, são os principais agentes do machismo, ora porque do alto de seu esclarecimento acreditam não ser machistas (estes, geralmente, são os que se gabam de “ajudar” em casa), associando o machismo aos homens das classes menos privilegiadas, ora porque podem pagar uma mulher para cuidar dos seus pertences, como uma secretaria ou uma empregada doméstica.
Quando o apresentador Rodrigo Hilbert ganhou o título de “homão da porra” por cozinhar, cuidar dos filhos e lavar a louça, mulheres de todo o Brasil deram início a um debate sobre a hipervalorização das atividades domésticas feitas por um homem.
Essas atividades são praticadas arduamente pelas mulheres sem que sejam valorizadas pelo trabalho doméstico e pelo cuidado dos filhos, justamente porque quando o homem toma para si a responsabilidade da organização da sua vida ele é considerado um ser excepcional.
Infelizmente, algumas mulheres (também afetadas pelo machismo) se regozijam pelo marido que a “ajuda” lavando a louça. As pessoas que co-habitam um mesmo espaço devem dividir de forma equânime as tarefas comuns e cada uma deve zelar por aquilo que é pessoal.
Um homem que não entende essa dinâmica ou apenas dá uma mãozinha está colocando mais um tijolo no edifício do machismo, quando a discussão e a ação, hoje, são no sentido de destruir o prédio todo.
Um companheiro é aquele que divide o pão. Isso não significa apenas dividir o alimento, significa dividir a vida com todas as responsabilidade implicadas nessa decisão.
Um bom pai não é apenas aquele que está com os filhos, mas é aquele que, também, dá exemplos concretos com atitudes que se desenrolam na cena familiar.
Um homem que acha que está ajudando uma mulher delegando a ela a responsabilidade sobre aquilo que diz respeito a ele está dizendo à sua mulher e aos seus filhos que ele se importa muito pouco – ou nada – com a vida em comum.
Nesse sentido, o conceito de corresponsabilidade elucida algo que, na verdade, é bastante óbvio: eu me responsabilizo por aquilo que é minha responsabilidade.
Exemplos claros e cotidianos ajudam a ilustrar o conceito: se eu como, preciso ir ao supermercado; se eu sujo a louça, preciso lavá-la; se eu vou ao banheiro, preciso deixá-lo limpo.
Todas essas simples ações têm por trás algo que esgota as mulheres: pensar em quando elas devem ser feitas.
Quando a comida está acabando, quem faz a lista de compras e vai ao supermercado? Quando o filho precisa tomar uma vacina, quem tem em mãos a carteira de vacinação? Em geral, as mulheres.
Ou seja, a carga mental – além da física – que recai sobre as mulheres é enorme e ninguém as chama de “mulherão da porra” por isso.
É preciso que os homens entendam que o machismo também é perverso para eles, embora tenha um verniz que parece dizer o contrário.
As mulheres já não admitem mais conviver com homens que se acham a última bolacha do pacote apenas por serem… homens.
Definitivamente, esse biscoito está cheio de aditivos tóxicos que não fazem nada bem para a saúde.
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Categorias: Sociedade
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