Índice
O pediatra, psicanalista e professor Paulo Schiller disse, em uma de suas palestras, que as doenças psiquiátricas mais graves, como autismo, psicopatia, perversão, agressividade e hiperatividade, acometem mais homens.
Segundo o médico, afora características hereditárias e ambientais, a grande catástrofe é a maneira como a cultura, desde a antiguidade, valoriza muito mais a figura masculina em relação à figura feminina, incutindo a necessidade de desempenho de poder de um sobre o outro e, na maioria das vezes, através da subjugação, dominação e violência.
Essa maneira de se relacionar construiu o nosso psiquismo e isso se reflete em praticamente todas as culturas no mundo, umas mais, outras menos, mas em todas.
Schiller conclui que comportamentos de dominação e supervalorização deixam os homens mais propensos a sofrer transtornos psicológicos, e as pesquisas confirmam esse cenário.
Um estudo realizado na região de Ribeirão Preto, em 26 municípios, feito por um consórcio internacional que reuniu pesquisadores de seis países e foi publicado pela revista científica Jama Psychyatry, homens e jovens são os principais afetados pelos transtornos mentais.
No Brasil, o estudo foi coordenado por Paulo Rossi Menezes, professor do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP) e por Cristina Marta Del Ben, professora do Departamento de Neurociências e Ciências do Comportamento da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP.
O estudo constatou que 53% dos casos de um primeiro episódio psicótico atingem homens, com idade média de 32 anos. A maioria dos problemas detectados foi referentes a psicose não-afetiva (68,9%). O restante é referente a psicose afetiva, como a depressão.
As condições socioeconômicas do paciente podem influenciar a situação.
Entende-se como primeiro episódio psicótico, a manifestação de transtornos mentais, como:
Segundo o professor Paulo:
“isso pode estar relacionado ao processo de amadurecimento cerebral, uma vez que o cérebro atinge sua maturidade entre os 20 e 25 anos. Nesse período, os homens parecem ficar mais vulneráveis do que as mulheres para desenvolver transtornos mentais”.
A pesquisa também conclui que até o fim do século 20 acreditava-se que os principais fatores etiológicos [origem e causa] de transtornos psicóticos seriam genéticos, mas os dados do estudo demonstram que os fatores ambientais desempenham um papel muito mais relevante.
Segundo o MSD – Manual Merck de Saúde, o transtorno de personalidade antissocial é seis vezes mais comum em homens.
Transtorno de personalidade antissocial é caracterizado por “irresponsabilidade social, desrespeito por outros, falsidade e manipulação dos outros para ganho pessoal”.
A pessoa com esse transtorno pode cometer atos ilegais, fraudulentos, exploradores e imprudentes para ganho ou prazer pessoal sem sentir remorso. Eles costumam justificar ou racionalizar seu comportamento, por exemplo, achar que os “idiotas merecem sem enganados”, geralmente culpando a vítima por ser ingênua ou impotente.
Geralmente são indiferentes aos efeitos exploradores e prejudiciais de suas ações sobre os outros e demonstram descaso em relação aos direitos e sentimentos alheios, até mesmo em relação à lei.
Normalmente não temem as consequências de seus atos e muito menos sabem o que é responsabilidade afetiva.
Uma pesquisa publicada no “Journal of Counseling Psychology“, realizada pela Associação Americana de Psicologia, encontrou conexões entre o comportamento masculino sexista e transtornos mentais como depressão e abuso de substâncias.
Segundo Joel Wong, pesquisador da Universidade Bloomington de Indiana e líder do estudo, homens que agem como “playboys” para se sentirem poderosos e superiores às mulheres, não cometem apenas uma injustiça social, mas desenvolvem comportamentos para justificar suas ações que são potencialmente ruins para a saúde mental deles.
A pesquisa sintetiza análises de mais de 70 estudos baseados nos EUA, que envolveram mais de 19 mil homens ao longo de 11 anos e foram avaliados comportamentos masculinos tradicionais como desejo de vencer, assumir riscos e busca por status.
A conclusão foi que, homens que mantinham comportamento de “playboy” ou de promiscuidade sexual, sentimento de poder sobre as mulheres e autossuficiência, estavam mais intimamente ligados a problemas de saúde mental.
Homens com dificuldade de reconhecer que precisam de ajuda, incapazes de pedir informação quando estão perdidos, por exemplo, é um clássico de autossuficiência.
Daí também porque a dificuldade maior dos homens em buscar ajuda mental profissional.
O que todas as pesquisam têm em comum é que para além do fator genético e hereditário, questões ambientais, sociais e culturais podem moldar muito mais o comportamento e afetar o psicológico das pessoas, levando-as a desenvolver transtornos mentais.
Nos homens, ficou claro que o patriarcado, a visão machista e comportamentos de poder e agressividade frente ao sexo feminino, são fatores determinantes no surgimento de alguma patologia psiquiátrica.
Alguns estudos também constataram alta incidência de primeiro episódio psicótico em minorias étnicas e em áreas com menor porcentagem de casas ocupadas por seus proprietários.
Para o pesquisador da FAPESP, Paulo Menezes,
“Isso sugere que as condições socioeconômicas das pessoas e do ambiente onde vivem têm papel importante na etiologia dos transtornos psicóticos. É preciso compreender melhor os mecanismos envolvidos para explicar a variação da incidência desse problema entre populações”.
Mas de relevante, é preciso ficar atento, principalmente à evolução que cada transtorno psicótico pode chegar, sendo que, na maioria dos casos, requer cuidados especializados, que por vezes, passam a vida toda negligenciados.
Como sociedade, é urgente alterar essa forma de convivência social pautada no patriarcado, na qual a figura masculina é muito mais valorizada projetando uma relação de poder e submissão entre os sexos, altamente prejudicial, seja social, cultural ou mental, com reflexos catastróficos para a toda a humanidade.
Talvez te interesse ler também:
Síndrome do Don Juan, sedutor mentiroso e compulsivo. Reconheça e fuja dele
Inveja masculina: ela existe é mais comum do que você imagina
Violação conjugal: sexo por obrigação no casamento é estupro?
ASSINE NOSSA NEWSLETTER