Elas disseram não às regras, foram constrangidas por isso, mas não se calaram. 68 estudantes do Instituto Shree Sahajanand (Ssgi), uma faculdade feminina da cidade de Bhuj, no Estado indiano do Gujarat, recusaram-se, por dois meses, a preencher um registro obrigatório e a marcar as datas do período menstrual
Segundo as regras da instituição – que é dirigida pela seita Swaminarayan, um grupo religioso hindu rico e conservador – , durante a menstruação as jovens são submetidas a uma série de restrições. Ficam proibidas de entrar no templo e na cozinha, não podem ter contato físico com outras estudantes, devem comer separadamente do grupo e lavar os próprios pratos. Na sala de aula, o espaço reservado é na última fila.
Devido à recusa, na última terça-feira (11) as estudantes foram constrangidas pela direção a se despirem no banheiro, diante de professoras, para provar que não estavam menstruadas.
Mesmo traumatizadas com a experiência, que definiram como “dolorosa” e semelhante a uma “tortura mental”, elas denunciaram o caso, que ganhou repercussão internacional a partir de uma matéria da BBC News, publicada ontem (16). O jornal italiano La Reppubblica também deu destaque ao caso nesta segunda-feira.
Na última sexta-feira (14), a Comissão de Mulheres do Estado do Gujarat pediu uma investigação do que considerou ser um episódio vergonhoso e encorajou as estudantes a denunciarem oficialmente a situação a que foram submetidas.
No entanto, em depoimento à BBC, algumas disseram que vêm sofrendo pressão da instituição de ensino para não darem declarações sobre o assunto.
O pai de uma das alunas relatou que a filha e outras colegas foram pedir sua ajuda depois do ocorrido e que elas estavam em choque.
Apesar da repercussão do caso, a vice-presidente do Shree Sahajanand segue sustentando que as estudantes violaram as regras.
Como informa a BBC, um caso muito semelhante já havia denunciado em março de 2017, envolvendo 70 estudantes no Estado de Uttar Pradesh. O tabu em relação à menstruação é ainda amplamente disseminado na Índia e as mulheres são tidas como “impuras” nesse período.
É 2020, mas, aqui e em diversas partes do mundo, ainda precisamos denunciar e lutar contra visões de mundo obscurantistas e as violências de todo o tipo que derivam delas.
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