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Ainda em nossos dias vemos tradições ultrapassadas arraigadas no fundamentalismo e no abuso contra os direitos humanos. Este é mais um caso do que ainda acontece no mundo, especificamente no Paquistão.
O caso tem como protagonista o professor paquistanês Junaid Hafeez que foi condenado à morte por ensinar os direitos humanos a seus alunos.
Este defensor dos direitos humanos tem 33 anos e foi condenado em 23 de dezembro do ano passado à pena de morte na forca, pela justiça de seu país, acusado pelo crime de blasfêmia.
Defensores da liberdade de expressão e dos direitos humanos veem essa acusação como injusta e, agora, para livrá-lo dessa condenação, serão necessárias união e ação da comunidade internacional para salvar esse homem da morte por enforcamento.
Junaid ensinou na Universidade Bahauddin Zakariya, em Multan, uma cidade localizada no centro do Paquistão na região de Punjab, depois de ter retornado ao seu país, vindo do Mississippi, onde passou uma estadia acadêmica como bolsista do Programa Fulbright.
Junaid ensinava literatura e, por sua formação acadêmica, a alinhava ao conceito de justiça social, em especial aos direitos das mulheres.
No Paquistão, a blasfêmia é um assunto delicado e polêmico, pois se o que for falado for considerado um insulto ao Alcorão ou ao Profeta Muhammad (Maomé), um simples discurso ou liberdade de expressão podem resultar em prisão perpétua ou em sentença de morte, acompanhados de ameaças de violência extrajudicial, como ataques direcionados e linchamentos.
Nesse contexto, a lei contra a blasfêmia costuma ser um pretexto para CALAR as pessoas que se sentem desconfortáveis com o sistema do país, que se rebelam e lutam pelos direitos humanos, especialmente em defesa das mulheres que são tão subjugadas pela cultura e pelos costumes das nações islâmicas.
O professor universitário está sendo acusado pelo tribunal paquistanês de ter blasfemado contra a fé muçulmana, ter ofendido o profeta Muhammad pelo Facebook, e de ter ido contra as tradições islâmicas ao ensinar que as mulheres têm direitos assim como os homens.
Por conta dessa acusação, ele foi preso em 2013 e está em confinamento solitário desde então. Para agravar sua situação, seu advogado, Rashid Rehman, foi assassinado em 2014 por ter decidido de defendê-lo.
#JunaidHafeez handed down death sentence in blasphemy case. Junaid Hafeez is a Pakistani university lecturer and accused of blasphemy under Pakistan's broad blasphemy laws. Hafeez was arrested in 2013 and held in solitary confinement since 2014. #JusticeForJunaidHafeez pic.twitter.com/9uojdz55Gl
— Nighat Dad (@nighatdad) December 21, 2019
O atual advogado disse que as condições de encarceramento de Junais Hafeez estão afetando o jovem professor, afirmando:
“Ele está muito agitado. não pode falar de forma muito coerente. Quando eu o conheci no começo [do caso], ele me recebia com um sorriso e tinha muita paixão… depois de tantos anos em confinamento solitário, isso afeta a pessoa”.
Existem duas petições que defendem a anistia e a libertação de Junaid Hafeez. Uma delas foi criada pela pesquisadora da Anistia no Paquistão, Ramia Rehman, e está com mais de dois mil apoiadores e podemos aumentar as assinaturas, clicando AQUI
A outra petição foi criada por Helen Haft, que estudou com Junaid Hafeez em Fullbright e, também, trabalhou em pesquisas sobre leis mundiais sobre blasfêmia.
A petição elaborada por Helen Haft já tem mais de 339 mil apoiadores. Para assiná-la clique AQUI
Além de pedir a libertação do professor Junaid Hafeez, a petição reivindica a abolição da lei de blasfêmia no Paquistão, e fundamenta isso com o seguinte argumento:
“As leis de blasfêmia do Paquistão são uma arma que pode ser usada contra qualquer pessoa a qualquer momento. As leis impedem que as pessoas se manifestem não apenas contra a religião, mas também sobre questões relacionadas aos direitos das mulheres, reduzindo os desafios ao status quo conservador do Paquistão.”
As leis silenciaram ativistas dos direitos das mulheres, defensores dos direitos humanos, jornalistas, professores e cidadãos comuns. Enquanto minorias religiosas, dissidentes políticos, pensadores livres e intelectuais são frequentemente alvejados, as vítimas mais comuns das leis são os próprios muçulmanos.
O caso de Junaid Hafeez está sendo contestado por muitas pessoas que estão se solidarizando com a causa que ele defende, porém, mesmo assim, o professor está correndo risco de vida a qualquer momento, pois, conforme escrito na petição de Helen Haft:
“Não há garantia que a sua condenação será anulada e é imperativo que a comunidade global se manifeste contra esse terrível abuso aos direitos humanos.”
Desde que a pena de morte por blasfêmia foi introduzida no Paquistão nos anos 80, houve aproximadamente 1.500 acusações de blasfêmia, lembrando que tal condenação equivale à sentença de morte.
Que a Anistia Internacional e a comunidade global atuem nesse caso para defender a libertação de Junaid Hafeez e que o clamor social seja ouvido e compreendido pela Suprema Corte do Paquistão para fazer valer, de fato, os direitos humanos.
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Categorias: Sociedade
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