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Ser ambientalista, ser um defensor da vida, do Brasil e de suas riquezas naturais… Um sonho que muitos jovens têm e que, um dia se deparam com a realidade dos fatos, tendo que fazer as contas do “vale a pena?”. Essa é a história dos brigadistas presos em Alter do Chão.
A súbita prisão de brigadistas voluntários na cidade de Alter do Chão (Pará) provocou reações indignadas de artistas, lideranças indígenas e ambientalistas de todo o mundo.
Até mesmo Leonardo DiCaprio teve o seu nome envolvido no episódio, devido a uma afirmação feita pelo presidente Jair Bolsonaro de que uma doação em dinheiro feita pelo ator teria sido usada por uma ONG para comprar fotos de incêndios na região.
Os brigadistas denunciados pela Polícia Civil do Pará foram soltos, uma vez que a justiça entendeu que as acusações feitas a eles eram frágeis e inconsistentes.
Após saírem da prisão – ao que parece, presos injustamente -, como esses jovens dedicados à causa ambiental na Amazônia estão levando as suas vidas? Será que eles seguirão suas lutas como defensores da natureza?
Uma reportagem de El Pais conversou com Daniel Govino, Marcelo Aron Cwerver e João Romano, três amigos que realizaram o seu último trabalho como voluntários da Brigada de Incêndios de Alter do Chão, em 17 de junho, quando um barco rebocador afundou após uma tempestade na praia de Muretá.
Meses depois, eles foram acusados de atear fogo na vegetação de uma Área de Proteção Ambiental (APA) da região em setembro, o que lhes rendeu três dias e duas noites na prisão e suas cabeças raspadas.
Os amigos relataram a El Pais que ficaram surpresos com a invasão de policias em suas casas e, mais ainda, com a denúncia. Eles demoraram a entender o que aconteceu, sobretudo, por terem sido acusados de um crime ambiental. João, Daniel e Marcelo, que são de São Paulo, retornaram à terra natal após serem liberados por um habeas corpus.
Os jovens também foram acusados de desviar dinheiro repassado pela ONG internacional WWF, que tem um contrato de colaboração com a Brigada no valor de R$ 70.600 reais para a compra de equipamentos.
Os membros da Brigada se conheceram em Alter do Chão levados por razões diferentes, mas com o mesmo interesse em comum: construir uma vida mais conectada com a natureza e trabalhar em prol da causa ambiental.
A organização, que começou em 2017, conta com 16 voluntários. João narra que, após ajudar a combater um incêndio na casa de um vizinho, fez um curso de primeiros socorros. Daniel acrescenta que:
“Percebemos que havia muito fogo e não havia uma resposta suficiente, porque os bombeiros de Santarém [a cerca de 40 quilômetros] cuidam de 13 municípios”.
Os voluntários já haviam participado de projetos socioambientais na região paraense, como coleta de resíduos orgânicos e implementação de fossas ecológicas, além do projeto Caju – Consciência Ambiental na Juventude -, destinado à educação ambiental em escolas para prevenir danos ao meio ambiente e proteger a natureza.
No intuito de reunir todas essas ações, eles criaram, no início de 2019, o Instituto Aquífero Alter do Chão. De acordo com Marcelo:
“Precisávamos de uma formalização, de um CNPJ e uma estrutura jurídica para viabilizar os projetos, até mesmo para a captação de recursos”.
Daniel, Marcelo, João alegam serem inocentes.
“Logo após o incêndio, assim que ficamos sabendo das investigações, a Brigada foi à delegacia para colaborar. Repassamos todo o material de foto e vídeo e foi colocado à disposição deles todo nosso empenho para a elucidação dos fatos”, esclarece Marcelo.
Os voluntários acreditam que a Brigada ganhou uma relevância muito grande em Alter do Chão por seu apoio à Secretaria do Meio Ambiente, à Defesa Civil, à Marinha e ao Corpo de Bombeiros. Essas parcerias teriam afetado as estruturais locais de poder, já que suas atuações eram “a favor da interação entre os diferentes atores da sociedade na proteção à Amazônia”, afirma Marcelo, que era o Tesoureiro da Brigada.
Ele explica que a contabilidade da organização sempre foi feita “com muito zelo e rigidez”, “com exigência de nota fiscal” e que “o dinheiro só saía do caixa se fosse para empresas devidamente cadastradas na Receita Federal”.
Após serem presos, os jovens disseram atender a todas as exigências das autoridades, disponibilizando as senhas de seus celulares e computadores, pois estavam seguros de sua inocência.
“Todo o nosso histórico e nosso ideal é de proteger a floresta e estar em harmonia com a natureza. Foi muito duro fazer tudo isso e ainda ser levado de algemas, como um criminoso”, relata Marcelo.
Eles lamentam que, talvez, não retornem a Alter do Chão e que o Instituto não siga adiante. João teme pela segurança das filhas, já que a Amazônia é a região mais perigosa do mundo para ambientalistas.
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