Trabalhos sobre a redução da pobreza foram os premiados na edição 2019 do Prêmio Nobel de Economia. Os laureados foram a francesa Esther Duflo, o indiano Abhijit Banerjee e o americano Michael Kremer pela “abordagem experimental para aliviar a pobreza global”, de acordo com o júri da Academia Real de Ciências da Suécia.
De acordo com o informado por Carta Capital, o número de pessoas vivendo em extrema pobreza é elevado: cerca de 700 milhões. Por isso, a academia sueca justifica que:
“Apesar das melhorias recentes, um dos maiores desafios da humanidade continua sendo a redução da pobreza no mundo, em todas as suas formas”. Nesse sentido, as pesquisas do trio têm ajudado na experiência da economia do desenvolvimento.
A francesa Duflo vem sendo considerada uma das economistas mais importantes da sua geração devido aos seus estudos empíricos sobre a redução da pobreza, os quais já receberam outros prêmios, como a Medalha John Bates Clark, em 2010, que recompensa o trabalho de economistas nos Estados Unidos com menos de 40 anos.
A economista realizou trabalhos na Índia, o que levou o ex-presidente Barack Obama a escolhê-la como conselheira em questões de desenvolvimento. O New Yorker, há alguns anos, escreveu que Duflo “é uma intelectual francesa de centro-esquerda que acredita na redistribuição de renda e na noção otimista de que o amanhã pode ser melhor que hoje”.
A biografia de Duflo parece ter influenciando o seu trabalho. Nascida em Paris, em 1972, é filha de uma médica pediatra, que sempre atuou no meio humanitário, e de um pai matemático, professor e pesquisador universitário. Ela estudou na Escola Normal Superior e na Escola de Altos Estudos de Ciências Sociais de Paris e no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), onde trabalha como docente no Laboratório de Pesquisa Abdul Latif Jameel sobre Alívio à Pobreza.
Além do trabalho no MIT, a pesquisadora é titular de uma cadeira no Collège de France, centro de de ensino e pesquisa francês, no qual leciona a disciplina “Conhecimento contra a pobreza”. Recebeu o prêmio de melhor livro de economia do ano de 2011 pela obra “Repensando a Pobreza”, em coautoria com Banerjee.
“Nossa visão da pobreza é dominada por caricaturas e clichês: os pobres preguiçosos, os pobres empresários, os pobres famintos. Se queremos entender os problemas da pobreza, temos que ir além dessas caricaturas e entender por que o fato de ser pobre muda algumas coisas no comportamento e outras não”, explicou ela em entrevista à AFP.
O ex-economista do Banco Mundial e professor da Universidade Georgetown (EUA), Martin Ravallion, afirma categoricamente a El Pais que:
“É preciso apagar a ideia de que reduzir a desigualdade é coisa de comunista”.
Ele explica que as pessoas precisam entender os custos elevados da desigualdade, e não apenas a sua dimensão moral, já que com a desigualdade não ocorre crescimento. Ele esclarece que o objetivo a ser alcançado não é a desigualdade zero, mas a pobreza zero. Isso significa a garantia de boas condições de saúde, escolas de qualidade para as crianças e universidades para que os jovens desenvolvam o seu potencial. É preciso, portanto, enfatizar políticas públicas, e não índices e taxas.
Outro aspecto retórico que Ravallion destaca que deve mudar é a ideia de que querer reduzir a desigualdade é coisa de comunista, já que o capitalismo não funciona para todo mundo.
Outro economista francês que compartilha dessa mesma visão é Marc Fleurbaey, professor da universidade de Princeton (EUA), e autor do livro “Um manifesto para o progresso social: ideias para uma sociedade melhor”. Ele afirma que é, sim, possível vivermos em um mundo menos desigual e, portanto, melhor. Ele faz parte de um grupo de pesquisadores de ponta empenhados em apontar caminhos possíveis para reduzir as desigualdades no mundo, informa o Nexo.
Fleurbaey ainda coordena o IPSP (sigla em inglês para Painel Internacional sobre Progresso Social), iniciativa interdisciplinar que produz conhecimento sobre como reverter o quadro da desigualdade no mundo. O economista explica que o conceito de “bem-estar social” é comumente interpretado como política de assistência social, mas, em economia, é usado, também, para desenhar o estado da sociedade.
Ao Nexo, Fleurbaey explicou que a igualdade social pode ser compatível com o capitalismo, mas em uma relação problemática. Ele defende que, embora o capitalismo tenha trazido progresso social, em comparação com as velhas estruturas sociais rígidas (classes sociais hereditárias) e a baixa produtividade, foi capturado por uma pequena elite de acionistas e empresários.
Isso faz com que a falta de mobilidade social seja alta em países com grandes desigualdades, sendo, portanto, necessárias reformas estruturais neles. Uma delas é tirar o foco do investimento em acionistas e empresários e compartilhá-lo com os trabalhadores, parte fundamental do sucesso de um negócio.
O papel do Estado acaba sendo fundamental, não apenas em proteger as pessoas, mas, sobretudo, em investir nelas dando-lhes condições de participar dos processos políticos e econômicos.
“Todo cidadão deve lutar para melhorar a qualidade da democracia na política, a inclusão do universo do trabalho e a justiça na família”, sentencia Fleurbaey.
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