Pobreza não é desculpa para educação de má qualidade, diz OCDE


Um dos temas mais debatidos, devido à sua importância, em toda campanha eleitoral é a educação. O tema é essencial porque é básico para o desenvolvimento de todos os demais aspectos sociais, como segurança, saúde, ciência, emprego etc.

De acordo com o diretor do departamento de educação da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Andreas Schleicher, o candidato que assumir a presidência em 2019 precisa priorizar a educação, a fim de resolver os problemas econômicos brasileiros.

Schleicher é o idealizador do exame internacional aplicado pela OCDE a estudantes de 15 anos de 75 países, o famoso Pisa, que é um parâmetro de medicação de qualidade da educação – embora, seja, também, bastante criticável.

O físico alemão, que foi entrevistado pela BBC News Brasil, disse que, independentemente das dificuldades fiscais e da taxa de desemprego, o Brasil precisa priorizar a educação para se desenvolver.

Pobreza não é desculpa

Basicamente, isso significa não colocar a culpa na falta de recursos. Pelo contrário, caso o país não invista em educação, dificilmente será um país rico. Ele usou como exemplo a Coreia do Sul, país bem mais pobre do que o Brasil na década de 1960, mas que elegeu a educação como prioridade. O resultado: a Coreia do Sul se desenvolveu e tornou-se um país rico.

Schleicher explicou à BBC que a qualidade da educação não está relacionada ao nível de riqueza de um país, mas sim à forma como ele investe seus recursos. “As pessoas dizem: ‘O Brasil é um país pobre e precisa ficar rico antes de alcançar uma boa educação.’ E isso não é verdade. Você pode ver países como o Vietnã, onde os mais pobres vão tão bem quanto os ricos no Brasil”, ilustra.

Outra crítica feita pelo diretor da OCDE é o investimento desproporcional entre os recursos disponibilizados para o ensino básico e para o ensino superior. Naturalmente, a crítica não pode ser feita considerando apenas que “se gasta muito” em educação superior, haja vista que a ciência e a tecnologia brasileiras são produzidas, majoritariamente, no âmbito das instituições públicas de ensino superior. Investir em ciência e tecnologia requer recursos vultosos – e nesse quesito o Brasil investe pouco. O problema está na gestão dos recursos públicos para a educação básica.

“É preciso alocar recursos onde eles realmente farão a diferença, ou seja, nas escolas e em pessoas em situação de desvantagem econômica e social. Se você vem de uma família rica, escolaridade pode não fazer toda a diferença na sua vida. Mas se você vem de uma família pobre, a escola pode ser sua única chance na vida. Se você perder esse barco, não haverá outra oportunidade”, assevera Schleicher.

Uma crítica positiva feita pelo diretor ao Brasil é a expansão de acesso ao sistema de ensino para a população brasileira, sobretudo porque, mesmo com a expansão, o Brasil conseguiu manter os mesmos padrões. A experiência em outros países que seguiram esse caminho foi perder a qualidade.

Modelo educacional ultrapassado

Outro ponto destacado pelo entrevistado é a importância de garantir variedade de formas de aprendizado. É preciso oferecer opções de formação com qualidade, sem, necessariamente, essa formação passar por uma universidade. Schleicher coloca uma questão importante sobre o Brasil: muitas pessoas veem a educação profissionalizante como uma modalidade de menos prestígio do que a educação superior. Se os conhecimentos e as habilidades de que a sociedade brasileira necessita são diversos, o sistema educacional precisa ser criativo para dar respostas a essas demandas.

A aprendizagem deve ser considerada, também, de forma contínua, e não como uma etapa que começa quando outra termina. “Precisamos pensar em um aprendizado ao longo da vida, que garanta que as pessoas tenham mais controle sobre o que querem aprender, como e onde. No momento, a ideia preponderante (no Brasil) é que temos que ter um bom diploma de ensino médio, depois um bom diploma universitário e, então, eu paro de aprender. Esse não é o modelo do século 21. O Brasil deve oferecer a todos uma oportunidade de continuar sua formação educacional. Isso deve ser universal, mas isso não significa que a universidade deva ser o único caminho”.

Leia aqui a entrevista na íntegra feita pela BBC News Brasil sobre o que mundo tem a oferecer ao Brasil sobre o tema educação, a partir da visão de Schleicher.

Talvez te interesse ler também:

BRASIL: O SEGUNDO PAÍS MAIS IGNORANTE DO MUNDO, DIZ PESQUISA




Gisella Meneguelli

É doutora em Estudos de Linguagem, já foi professora de português e espanhol, adora ler e escrever, interessa-se pela temática ambiental e, por isso, escreve para o greenMe desde 2015.


ASSINE NOSSA NEWSLETTER

Compartilhe suas ideias! Deixe um comentário...