Cientistas da Universidade de Jena, na Alemanha, assinaram um manifesto em que defendem o fim do termo ‘raça’ para quaisquer descrições relacionadas à espécie humana. Segundo o texto, intitulado ‘Declaração de Jena’, não há base científica para classificar seres humanos de acordo com essa categoria.
“A justificativa primariamente biológica para definir grupos humanos em raças, por exemplo, com base na cor de pele ou de seus olhos ou no formato de seus crânios, levou à perseguição, escravização e matança de milhões de pessoas” […] “Não há base biológica para raças, e nunca houve uma. O conceito de raça é resultado do racismo, não seu pré-requisito”, diz um trecho do manifesto.
Segundo noticiou a DW nesta terça-feira (17), quatro biólogos especializados em evolucionismo assinam a Declaração de Jena: Martin Fischer, Uwe Hossfeld e Johannes Krause, da Universidade Friedrich Schiller de Jena, e Stefan Richter, da Universidade de Rostock. Os cientistas lançaram o manifesto por ocasião do 100º aniversário da morte de Ernst Haeckel, em agosto de 2019, sendo uma revisão crítica do trabalho desse que é considerado por muitos a versão alemã de Charles Darwin. Notório zoólogo e biólogo, Haeckel teria contribuído para a biologia nazista com seu trabalho, categorizando os humanos em 12 “espécies” e 36 “raças” e afirmando que grupos indígenas e negros seriam menos civilizados que europeus.
Como destaca o texto, Haeckel, assim, contribuiu para “uma forma de racismo aparentemente baseada na ciência“.
A Declaração de Jena carrega um peso, uma vez que foi elaborada em um país onde o regime nazista floresceu justamente por apregoar a crença na superioridade da “raça ariana” e defender a melhoria da população humana por meio da eliminação daqueles tidos como inferiores.
O manifesto dialoga com o que há tempos afirmam os pesquisadores no Brasil que, em tempos de fakenews, vêm demonstrando uma preocupação cada vez maior em combater o racismo baseado em teorias que não encontram qualquer tipo de respaldo científico.
“Do ponto de vista genético, e mais modernamente genômico, não existem raças humanas. A espécie humana é jovem demais e móvel demais para ter permitido a criação de “raças” […] “E, se raças não existem, não faz nenhum sentido tentar ordená-las qualitativamente, correto? O racismo persiste até hoje, sempre ligado a algum ganho econômico. Sempre que você visualizar racismo, pergunte imediatamente: quem está levando vantagem financeira?”, afirmou o médico geneticista Sergio Pena em entrevista ao jornal O Globo em outubro de 2018, período eleitoral no Brasil, quando o combate às fakenews tornou-se um tema central do debate público no país.
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