Elas participaram do maio de 68 e, ao que parece, estão longe de aposentar as chuteiras. A maioria já passou dos 60 anos, seguem ativas e ativistas. Optaram por experimentar a velhice de um jeito alternativo, sem depender da família, de marido, do patrão ou do governo, tocando projetos coletivos e promovendo atividades para a comunidade, como sessões de cinema e aulas de yoga.
Assim vivem as mulheres da Maison des Babayagas – ou Casa das Babayagas – em Montreuil, nos arredores de Paris. O espaço já foi chamado de “anti-asilo” pelo jornal francês Le Monde.
O nome da casa é uma referência à personagem da mitologia eslava: reza a lenda que em Baba Yaga, a feiticeira de mil disfarces, coabitam o lado fada e a porção bruxa. A velha teria, ainda, o poder de montar dragões e assumir diferentes formas e personas, independente do gênero. A criadora do projeto foi uma militante feminista de carteirinha, participante ativa dos protestos de maio de 1968, Thérèse Clerc, que morreu na capital parisiense há três anos. A vida da ativista já rendeu até um filme: Les Vies de Thérèse, do diretor Sébastien Lifshitz, lançado em 2017.
As seguidoras de Clerc mantêm o projeto vivo, com uma rotina diária que envolve cuidar dos três jardins coletivos e a manutenção do espaço onde moram, uma vez que optaram por viver de maneira independente também em relação aos serviços domésticos: são elas próprias que lavam, passam, cozinham e fazem os reparos necessários.
“Este prédio em que moramos fica no centro da cidade, temos cinema, mercados à disposição, o teatro, restaurantes, o metrô fica na nossa porta. Não envelhecemos rápido aqui”,
conta Kirsten, a presidente da Babayagas, uma sueca de 75 anos que decidiu mudar de país quando leu a respeito da iniciativa. Ela contou sua história para a RFI:
“Sou divorciada. Tenho duas filhas, uma de 50 anos, e uma de 47. Eu tenho 75. Um dia, já aposentada, mas ainda trabalhando esporadicamente, vi uma reportagem sobre as Babayagas, e nesse momento eu disse: É assim que quero viver. Em um apartamento independente, numa associação feminista, ecologista. Era tudo o que eu sonhava”,
contou Kerstin à reportagem. “Não podemos viver sem projetos”, arrematou.
Apesar de declararem independência em relação ao Estado, elas contam com o apoio da prefeitura de Montreuil, que é comunista e oferece apoio tanto financeiro quanto logístico, além de sugerir candidatas às vagas disponíveis. Entre os pré-requisitos para integrar a comunidade, consta a comprovação de renda, abaixo de uma certa faixa, uma vez que se trata de um imóvel social.
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